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domingo, 9 de dezembro de 2012

Paixão sem limites


Paixão sem limites

Ana Cecília Soares | 00h01 | 09.12.2012

Fãs transformam a admiração pelo ídolo em trabalho. Como covers, animam festas em Fortaleza e outras cidades




Quem nunca na vida teve um  ídolo? Colecionou fotos, recortes de revistas ou jornais, cortou o cabelo  ou se  vestiu tal qual o astro querido? Sem falar das loucuras  cometidas para chegar perto daqueles que fazem o nosso coração bater mais  rápido e os sonhos se tornarem mais interessantes.

A admiração, muitas vezes, iniciada na adolescência, pode ganhar proporção inesperada, como ocorreu nas vidas de Raimundo Roberto, Gerardo Euran, Paulo Erasmo, Gleidson e Rhicardo. Além de superfãs, eles se transformaram em covers de estrelas nacionais e internacionais. Idolatria que virou ganha-pão, principalmente neste mês de dezembro, quando são contratados para animar as festas de confraternização. 

À moda antiga
Paulo Erasmo Cruz, 60 anos, sempre foi chegado em letras de amor. Quando, então, ouviu, pela primeira vez, “Perfume de Gardênia” na voz de Waldick Soriano, o mundo estremeceu, parou ali. A poesia do mestre das dores do coração acabara de fisgar mais um fã apaixonado.

Paulo Erasmo se tornou fã de Waldick ainda na juventude. Ele cantou com o ídolo diversas vezes
Na década de 1970, enquanto voltava das partidas de futebol, em defesa do juvenil do Tiradentes, Paulo, ao lado de amigos, cantava as alegrias e as tristezas dos resultados das partidas ao som do romantismo de Waldick. 

“Oh, tempo bom era esse! Um dia, na brincadeira, coloquei o chapéu preto e óculos escuros para imitá-lo. A rapaziada adorou, apontando semelhanças entre mim e o Soriano, ora veja só”.

Em 1979, Paulo Erasmo começou a carreira como cover do artista. O primeiro show aconteceu no antigo Clube Romeu Martins, no bairro Itaoca. Três anos depois, teve uma das maiores felicidades da vida: cantar ao lado do ídolo, que morou os últimos anos de vida em Fortaleza.
“Foi uma alegria muito grande, nós dois no mesmo palco lá no Círculo Operário, no Montese. A gente se encontrou outras vezes. O Waldick me autorizou a cantar suas músicas. Ele me disse, numa ocasião dessas: ‘cante o que eu canto e nunca faltará um tostão no seu bolso’. Fui abençoado por ele”.

Por show, com duração de três horas, no Ceará, ele cobra cerca de dois salários mínimos. Em outros estados, o preço sobe um pouco mais. “Tenho tido boas lembranças como cover. Uma delas foi a oportunidade de aparecer cantando no documentário ‘Waldick, sempre no meu coração’, dirigido pela atriz Patrícia Pillar. Mais que um ídolo, para mim, ele representa um irmão. Não canso de ouvir suas músicas, elas me inspiram a alma”, revela. 

Paulo tem dois filhos de duas ex-namoradas, uma na Bahia e outra no Maranhão. Ele já trabalhou como radialista em diversas emissoras. Numa delas,  era encarregado de ler o horóscopo do dia. O cover se diz devoto de todos os santos “para não correr perigo de nenhum lado”.

Majestade 
No caso de Raimundo Roberto Arruda Sampaio, 56 anos, nome de batismo e do ídolo se repetem. Há 15 anos, ele esbanja romantismo como cover de Roberto Carlos. Carismático, despertou a paixão pelo artista na juventude. “Essas coisas não têm explicação nem sei direito a idade que tinha quando tudo começou. Eu era adolescente e lembro do meu quarto decorado até as telhas com fotos do Rei”.

Roberto Arruda é cover de Roberto Carlos há 15 anos.  Assim como o ídolo, crê no amor
Como muitos companheiros de profissão, Arruda diz que a ideia de ser cover veio pelo incentivo dos amigos que o achavam semelhante ao cantor. “Eu tocava na noite, sou tecladista, e um dia interpretei uma música do Roberto Carlos, não estou lembrando qual agora. Todos gostaram e disseram que parecia com ele. Para mim, foi uma grande honra”.

Graças ao ídolo, ele teve a chance de viajar pelo Brasil e, recentemente, apresentou-se no exterior, na cidade de São Vicente, em Cabo Verde. “O Roberto é um mito. Não há quem não goste de pelo menos uma música dele. É impressionante sua capacidade de ir a fundo em nossas emoções, parece que sabe o que estamos sentindo”.

Professor de música num centro de recuperação de adolescentes do Governo do Estado, Arruda é um homem simples, sem muitas vaidades. Os quatro filhos e os três netos são o seu xodó, sem contar a poodle Belinha, que sempre o acompanha nos shows perto de casa. 

“Sou muito feliz. Levo uma vida discreta. Acordo às 5 da manhã, faço o meu cuscuz, e às 8 horas vou para o trabalho. Shows, estou sempre fazendo com a graça de Deus, principalmente neste fim de ano. Estou solteiro, mas garanto que sou muito amoroso”.

Arruda diz que o cover deve ter, acima de tudo, respeito pelo ídolo. “Um ponto importante é deixar claro que o cover é uma coisa, e o imitador, outra. Neste trabalho, precisamos estar atento a tudo: figurino, voz e expressões. Se é para fazer a coisa certa, tem que ser benfeita. Tudo completinho”.

O maior sonho é conhecer o ídolo. “Muitas pessoas me prometeram realizá-lo, mas não sou de ficar cobrando. Quando penso na possibilidade de estar com o Roberto pessoalmente, fico até nervoso. Não sei o que diria para ele, acho que desmaiaria (risos), são tantas emoções”.

Viagem astral 
A atuação de Rhicardo como cover do cantor brasileiro Tim Maia é quase uma odisseia espiritual com detalhes interessantes para aguçar a imaginação de um bom apreciador de histórias. A ligação forte com o velho Tim aflorou na adolescência, quando ficava de bobeira pensando nas nuances do amor. Nem é preciso dizer que o tal “aligamento” só fez aumentar com o tempo.

Rhicardo tem uma ligação forte com Tim Maia. Ele virou cover por causa de uma promessa
Dos 48 anos vividos, 13 são apenas como cover. Antes disso, Rhicardo exerceu várias funções: de atleta a empresário do humorista Lailtinho Brega. Mas o fã nunca pensou que um dia ganharia a vida na pele do ídolo: “Tudo começou como brincadeira. As pessoas diziam que eu parecia com ele. Com tanto falatório, acabei concordando”.

Até então, realizava algumas apresentações, nada tão intenso. Mas, em meados dos anos de 1990, enfrentou acontecimentos que beneficiariam mais tarde a carreira. “Em 1996, comecei a sentir um incômodo no rosto, entre o olho direito e o nariz. Fui a vários médicos, e cada um deles dava diagnóstico diferente”.

Enquanto migrava de profissionais, crescia no rosto de Rhicardo uma espécie de caroço, prejudicando, inclusive, a visão. “Não sabia mais o que fazer, nem sair de casa queria mais. Um dia encontrei a luz. Conheci o Okal, discípulo da ordem esotérica Ashrama, da qual faço parte hoje. Ele fez meu mapa astral e disse que aconteceria um evento de grande dimensão na minha vida que poderia provocar o meu desencarne”.

Dois dias se passaram, e Rhicardo, finalmente, conheceu o médico que lhe daria o diagnóstico correto. “Era um tumor, fiz vários exames, mas nenhum conseguiu identificar a causa. Eu teria de me submeter à cirurgia de alto risco de morte”.

Rhicardo resolveu fazer uma festa de despedida, reunindo amigos e familiares num grande show, no qual cantou Tim Maia acompanhado pela Orquestra Os Brasas. “Não sabia se iria sobreviver, queria me despedir das pessoas que amo. Só no final é que falei o motivo da festa”.

Nesse momento, enquanto todos o aplaudiam, disse inesperadamente: “se eu for para a mesa de cirurgia com toda essa energia boa que estou sentindo de vocês, e sobreviver, passarei a minha vida cantando Tim Maia. Quando terminei de falar, uma revoada de pássaros saiu de trás dos refletores. Foi uma coisa linda, mágica. Fico todo arrepiado só de pensar”.

A operação foi bem-sucedida. Seis meses depois fez um tributo ao ídolo, o início oficial da carreira como cover. “Passei por um processo de profundas mudanças após a cirurgia, me separei da minha esposa, comecei a namorar uma amiga e parei de fumar”. 

Os mais de dez anos de trabalho garantiram ao artista vários prêmios. O último conquistado foi o de Melhor Cover 2012 da TV Diário. “Fico muito feliz com esse reconhecimento, mas sinto que já estou livre da minha promessa. Uma vez ouvi a voz do Tim me dizendo: tá bom, cara! Acho que está chegando a hora de parar”. Rhicardo até avisa para ninguém se surpreender se um dia largar tudo e for viver como pescador em alguma praia distante do Estado: “Sou um espírito livre, tenho interesse em muitas coisas”.

Pop star 
Guiada pela lógica do acaso, a história de Gleidson Rodrigues, 30 anos, com o pop star Michael Jackson começou a ser traçada. O trabalho como cover proporcionou ao jovem professor de dança muitas  alegrias, a compra da casa própria é uma delas.

Gleidson sonha com a Noite dos Amadores, no Teatro Apolo (EUA), onde Michael iniciou a carreira 
No fim do ano de 1999, após apresentação com o grupo Fênix (do qual participava como ator), no Theatro José de Alencar (TJA), Gleidson se preparava para sair com os amigos, quando uma senhora o abordou na rua. Parecia prever o que aconteceria mais adiante em sua vida. “Simplesmente, ela olhou para mim e disse: meu filho, você é a cara daquele cantor internacional que dança e dá uns gritinhos. Não estou lembrando do nome dele agora”. 

Gleidson é considerado um dos principais covers de Michael Jackson no Brasil
Curioso, Gleidson a indagou: “seria o Michael Jackson? Ela respondeu que sim. Em seguida, deu um tapinha no meu ombro e foi embora para nunca mais”. Os companheiros de grupo, presentes no episódio, concordaram com a mulher, estimulando-o a investir na caracterização. “O engraçado é que as coisas foram acontecendo naturalmente.No início de 2000, fui a um baile à fantasia, vestido de Michael Jackson no clipe Ghosts. O meu visual chamou atenção pela grande semelhança com ele. O que gerou convites para outros eventos”.

Antes de virar cover do cantor, ele curtia algumas músicas, mas ainda não era fã. “À medida que me envolvia com o universo do Michael, sentia a necessidade de mais informações. Quando li o livro “A magia e a loucura”, de J. Randy Taraborrelli, vi o quanto era especial”.

Desde criança, Gleidson é um batalhador. Aos 11 anos, foi expulso de casa pela mãe por causa de ciúmes do padrasto, que o agredia por achá-lo parecido com o pai biológico. Ele morou com a avó materna até atingir a maioridade, quando resolveu cursar teatro no TJA. “Passei por grandes dificuldades, mas a arte me salvou. Também contei com a ajuda de muitas pessoas boas, como a dona Regina Amália Andrade. Ela pagou meu primeiro figurino”.

A carreira de Gleidson  ganhou força depois de uma participação  no programa Globo Repórter, especial do músico, logo após a morte do astro em junho de 2009. “Não podia ser! Estava com grandes perspectivas de fazer shows,  tinha ensaiado todas as músicas de sua nova turnê, This is it”, diz.

O programa deu ao cearense notoriedade nacional. Ele é considerado, hoje, um dos principais covers do cantor americano no Brasil. “Foi uma ótima oportunidade. Depois disso, ganhei uma plástica do programa João Inácio Júnior (TV Diário) para ficar com o nariz igual ao do Michael. Em seguida, fiz as sobrancelhas e uma cirurgia para correção dos dentes. Assim que puder, quero colocar botox para amenizar as linhas de expressão. Tudo pelo profissionalismo”.

Presley
Gerardo Euran tinha 12 anos quando ouviu, pela primeira vez, a voz marcante de Elvis Presley. O poder interpretativo e o timbre virtuoso do músico americano provocou no jovem forte impressão. A data era 16 de agosto de 1977,  fatídica para os fãs, o rei do rock havia sido encontrado morto no banheiro de sua suíte, na mansão Graceland, nos EUA.

Euran se encantou com Elvis quando o cantor morreu. Desde 2001, encarna o Gerard Presley  
“Eu estava no fusca de um amigo, quando vi, na televisãozinha do carro, anunciando a morte dele. Lembro que o noticiário inteiro foi sobre isso. Sentia um misto de curiosidade com comoção”, revela Euran.
 
A partir desse momento, passou a colecionar tudo sobre o cantor. Aos 14 anos, aprendeu violão e não parava de ouvi-lo. “A gente tinha em casa uma vitrola que tocava Elvis direto. 
Quando chegava à casa de uma pessoa, e se lá tivesse qualquer coisa dele, eu pedia para mim”, conta.
 Antes de se tornar cover, não dominava bem o inglês. No início da década de 1980, a situação mudou. “Fui para Natal servir à Marinha. Lá, tive a chance de fazer curso de inglês, passo fundamental para a minha carreira”.
De volta para Fortaleza, ele começou a tocar na noite. Acompanhado pela banda Dó, Ré, Mi, apresentava-se em barzinhos e restaurantes. Somente, no Réveillon de 2001, incorporou no repertório algumas canções do ídolo norte-americano. “O tom de voz do Elvis e suas músicas são difíceis de cantar. Ele é quase um tenor. Mas sabe como é fã, a gente sempre busca pelo artista preferido e, assim, comecei a cantar as de tons mais baixos. As pessoas adoraram e em todos os meus shows era batata me pedir Elvis”.
Pouco a pouco, o fã passou a investir no figurino, na afinação vocal e na performance no palco. Cada detalhe é cuidadosamente observado e incorporado na composição visual do personagem Gerard Presley. “Então, nascia o cover.  Hoje, cuido pessoalmente da produção das minhas roupas. Sei até o tipo de tecido adequado para cada peça e as pedras necessárias para a confecção dos acessórios. Eu mandei fazer algumas das principais vestimentas do Elvis, acho que ao todo devo ter umas 28”, revela.

Aos 47 anos, pai de dois filhos, Euran também divide a rotina como intérprete, tradutor e professor de inglês. Mas  prazer mesmo sente quando encarna Gerard Presley. “Cerca de 60% do dinheiro que ganho é investido em figurino. Há peças que custam até R$ 3 mil. Aprendi a realizar os acabamentos das roupas como maneira de baratear os gastos. Comprei até uma máquina de costurar”.

Em média, cobra por hora de show R$ 500,00. Em se tratando de Réveillon ou de outras festas maiores, o preço pode variar entre R$ 2 a 3 mil. Tudo dependerá do local onde se apresentará. “O ano todo faço show. Nos meses mais calmos, são cerca de três por semana. Nos mais agitados, chego a dez. Viajo o Brasil inteiro”.
Apesar da admiração por Elvis e de se identificar com o ídolo em diversos aspectos, Euran diz conseguir separar bem o personagem da vida pessoal. “O Tony Lemos foi um dos primeiros covers do Elvis no Brasil. Ele ganhou muito dinheiro e fazia vários shows na caravana do apresentador Bolinha. Seu cachê era o mesmo de Sidney Magal e Fábio Júnior. Tony pensou que era o próprio Elvis, isso foi muito trágico! Eu consigo separar  a vida particular do trabalho. Ao contrário de Presley, tenho um estilo mais simples”.  

QUEM SÃO AS ESTRELAS
• Elvis Presley  (1935-1977), músico e ator norte-americano é reconhecido mundialmente como o “Rei do rock”. Suas músicas e performance no palco marcaram gerações, influenciando diversos artistas, a exemplo da banda inglesa The Beatles
• Michael Jackson (1958-2009), cantor, compositor e dançarino. Nascido nos Estados Unidos, começou a carreira ainda criança. Ele se consagrou como um dos maiores artistas do mundo
• Roberto Carlos (1941), nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. O artista é um dos mais queridos do Brasil. O cantor e compositor é chamado carinhosamente pelos fãs de “Rei”. Seus discos já venderam milhões de cópias, batendo recordes de vendagem
•  Tim Maia (1942- 1998), o carioca é um dos maiores nomes da MPB. Responsável pela introdução do estilo soul no País, tinha interpretação marcada pela rouquidão da voz, sempre grave e profunda
• Waldick Soriano (1933 -2008), cantor e compositor, nascido em Caetité (BA). É considerado ícone da música romântica brasileira. O músico implacou grandes sucessos como: “Eu não sou cachorro não”.  Antes de se tornar famoso, foi peão, motorista de caminhão e garimpeiro

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Paulo Soriano (Waldick Soriano)
• Tel.: (85) 8607.5032
Roberto Arruda (Roberto Carlos)
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FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=350482&modulo=1346

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