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domingo, 21 de abril de 2013

AIDS - 25% desistem do resultado do teste

No Lab Pasteur, o medo fez 61 portadores do HIV, num universo de 244, não voltarem para apanhar os laudos
Levantamento feito pelo Lab Pasteur em Fortaleza, ao longo do ano passado, indica que, nas 15 unidades do laboratório existentes na Capital, 27.868 pacientes fizeram o teste que detecta o vírus da Deficiência Imunológica Adquirida (Aids), entre os quais em 244 (0,87%) o resultado apresentado foi positivo e em 27.624 (99,13%), negativos. Somente no universo desses 244 portadores do HIV, 61 (25%) não compareceram para apanhar os laudos.

O Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) oferece o teste rápido Fotos: Kiko Silva

O medo e a dificuldade de enfrentar a realidade estariam entre as causas do não retorno. Além disso, o percentual de 25% de pessoas portadoras o HIV sem o diagnóstico torna-se grave, tendo em vista que o desconhecimento da doença retarda o início do tratamento.

Embora não exista estatística oficial na rede pública de saúde sobre o número de pessoas que fazem o exame mas desistem de pegar o resultado, o diagnóstico tardio da infecção pelo HIV, somente em Fortaleza, oscila em 46% dos casos, apontam dados fornecidos pela Supervisora do Núcleo de Prevenção e Controle de Doenças e Agravos da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), enfermeira Telma Martins.

Apesar disso, laboratórios privados na Capital cearense se neguam a repassar informações sobre a desistência do paciente em ter acesso ao resultado do exame, como foi o caso, por exemplo, do Emílio Ribas.

Já o diretor geral do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), farmacêutico bioquímico Ricardo Carvalho Sá, afirma que a unidade "não tem mesmo como fazer esse acompanhamento". Segundo ele, a coleta acontece nos municípios e o resultado é colocado no Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), o que permite ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) receber o diagnóstico pela Web no local em que foi coletado o sangue. "Todos os municípios cearenses têm esse sistema instalado", disse, explicando que o Lacen faz o teste convencional e que a estrutura da rede garante às mulheres o direito a duas sorologias por gestação.

Enquanto a coleta do sangue é descentralizada, a análise é realizada no Lacen Fortaleza e nas suas unidades do Crato, Juazeiro, Senador Pompeu e Icó e Tauá, além do Laboratório Municipal de Sobral e do Centro de Especialidades Médicas José de Alencar (Cenja). "No Lacen é o teste convencional, custeado pelo governo do Estado, até mesmo para evitar a transmissão vertical, de mãe para o filho", enfatizou Ricardo Carvalho.

A coordenadora municipal de DST-Aids e Hepatites Virais, Renata Mota Rodrigues Bitu Sousa, admitiu que a desistência em pegar os laudos dos exames acontece em todo o País, mas que em Fortaleza o quadro teria mudado deste a implantação, a partir de 2009, do teste rápido. "Em 30 minutos, o paciente já sai com o resultado", disse ela, acrescentando que hoje em 17 unidades do Município é garantido o exame para gestante e pacientes com tuberculose.

O Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) é uma dessas unidades e de acordo com assistente social Verônica Linhares, o teste rápido tem sido determinante reduzir o início tardio do tratamento da Aids. "O receio em enfrentar o diagnóstico é muito grande, alguma pessoas passam mal e precisam de um forte apoio emocional", citou.

Portador se arrepende de não ter feito o teste mais cedo
O resultado do exame não foi surpresa para C.L.O, que ainda assim confessou ter sofrido um grande impacto. Recentemente, iniciou o tratamento tardio

Desde o início do ano passado, C.L.O começou a sentir o temor de ser portador do vírus do HIV. O jovem de 27 anos, balconista e homossexual, admite que por ter mantido algumas relações sexuais inseguras, pensou várias vezes em se submeter ao exame para saber se estaria com Aids. Porém, terminava desistido, temendo o diagnóstico.

Somente quando um amigo mais próximo criou coragem e fez o teste, C.L.O. seguiu o exemplo. "Antes, eu tinha ido algumas vezes ao CTA (Centro de Aconselhamento e Testagem), mas sempre voltava sem fazer o exame", frisou o rapaz, residente no bairro Jacarecanga.

Após muitas relutâncias, em novembro, fez o teste rápido no Centro e, em menos de 30 minutos, recebeu o resultado positivo. "Foi exatamente no mês do meu aniversário", cita, adiantando que o impacto só não foi maior "porque, de certa forma, eu já estava esperando. Mesmo assim, eu não estava preparado para saber e chorei muito".

Pior momento
E mais, o "mundo desabou" no pior momento: os pais estavam se separando e ele em crise no trabalho. Hoje, C.L.O ressalta que o apoio recebido no Centro de Aconselhamento e Testagem, sobretudo por parte da assistente social, Verônica Linhares, foi fundamental para ajudá-lo a enfrentar aquele primeiro momento tão difícil.

Passado o impacto oriundo do conhecimento do diagnóstico, o portador do vírus aceitou a começar o tratamento. "Hoje, estou vindo aqui (no CTA) pela segunda vez para ser orientado sobre como tomar as medicação do coquetel", disse, explicando que no Centro é acompanhado por um infectologista e recebe orientação acerca dos procedimentos mais recomendáveis para obter o melhor resultado possível ao longo do tratamento.

Com as defesas do organismos acentuadamente baixas e carga viral elevada, C.L.O. não esconde seu arrependimento de não ter procurado o exame mais cedo. "Foi difícil, mas era para eu ter enfrentado isso antes", observou, explicando que pela carga viral apresentada, o médico calculou que ele estaria, pelo menos, há um ano com a doença. "O próximo retorno já está marcado, o importante agora é não parar o tratamento", frisou, esperançoso de mesmo sendo portado da Aids consiga ter uma sobrevida satisfatória e longa.

Tratamento tardio agrava sobrevida

O conhecimento precoce da infecção pelo HIV permite um melhor acompanhamento da evolução da Aids e o início precoce do tratamento, evitando o aparecimento de manifestações da doença, ressaltou o infectologista do Lab Pasteur, Alberto Chebabo. Sobre as desistências de retorno para apanhar o laudo do exame, o médico adiantou: "o mais provável é que o paciente tenha medo do resultado, porém precisaríamos de estudos que avaliassem este dado".

Quanto à disseminação do vírus, Alberto Chebabo lembrou que o conhecimento do status sorológico de portador aumenta as necessidades de uso de preservativos e sexo seguro. "Mas vale ressaltar que estes cuidados devem ser realizados por todos, independentemente do status sorológico", aconselhou.

O começo tardio do tratamento da Aids é um problema mundial, admitiu o infectologista do Lab Pasteur. Segundo ele, devido a este fato, o Centro de Controle de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, e a Organização Mundial de Saúde recomendam o acesso facilitado ao diagnóstico através da oferta de locais para realização do exame de detecção da Aids para melhorar o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento nos estágios iniciais da doença.

Sugeriu a intensificação das campanhas a fim de que a população realize o exame e que os médicos o incluam nos check-ups feitos pelos pacientes. "É importante salientar que o teste anti-HIV deve sempre ser solicitado com o conhecimento e consentimento do paciente", defendeu o médico.

Em relação ao teste rápido, explicou que os laboratórios preferem oferecer os exames tradicionais por terem maior experiência e confiança nestes. Além disto, pelo fluxograma do Ministério da Saúde, para realizar o diagnóstico de Aids, são necessários dois testes de marcas diferentes para confirmação do diagnóstico, informou.

Já o médico Infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Érico Arruda, não só demonstrou preocupação com o diagnóstico tardio como apontou uma junção de fatores para isso, tais como a dificuldade do paciente em perceber ou encarar o fato de pode estar infectado pelo HIV e falta de orientação, pelo profissional de saúde, para realização do teste anti-HIV. O fato é que retardo no início do tratamento propicia que um maior número de pessoas adoeçam de gravemente e tenham pior qualidade de vida, observa.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Diagnóstico precoce diminui a transmissão
Telma Martins Supervisora do Núcleo de Prevenção e Controle de Doenças e Agravos

Os testes diagnósticos de HIV disponibilizados na rede SUS por método convencional (Elisa) ou teste rápido, quando realizados de forma precoce, podem causar um impacto importante na epidemia. De forma individual, o teste traz grandes benefícios, na medida em que permite um melhor monitoramento da infecção, e o início do tratamento longitudional nas pessoas com resultados reagentes (positivos). Disso resulta aumento da sobrevida, diminuição do tempo de hospitalização e maior adesão ao tratamento com antirretrovirais (TARV). Estudos mostram o diagnóstico precoce acarreta a diminuição da transmissão do vírus HIV, seja porque o indivíduo portador com consciência de seu estado sorológico passa a ter comportamentos menos arriscados, ou porque o indivíduo com carga viral indetectável (após um tempo de tratamento) transmite muito menos a infecção.

O teste do HIV deve ser garantido à gestante durante o pré-natal nas unidades básicas de saúde e na rede conveniada pelo SUS, sendo indicado no primeiro e terceiro trimestre da gestação. Durante o parto, caso o segundo teste (3º trimestre) não seja realizado, o teste rápido de HIV deve ser ofertado, para possibilitar que a transmissão do HIV da mãe infectada seja reduzida para menos que 2%.

Na maioria dos Estados brasileiros, um significativo percentual de pessoas portadoras tem um diagnóstico tardio da infecção pelo HIV, tendo sido este indicador de 46% no Ceará no ano de 2011. Significa que estes indivíduos apresentaram exame de T-CD4+ abaixo de 350 células/mm3 ao diagnóstico, situação onde já havia a indicação do uso de TARV. Novo protocolo do Ministério da Saúde já indica o início do tratamento para pessoas assintomáticas com contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 500 células/mm3.

As mobilizações do Fique Sabendo realizadas por estados e municípios, com o apoio do Ministério da Saúde, visam ampliar o acesso ao teste de HIV para todas as pessoas expostas a situações de risco.

MOZARLY ALMEIDAREPÓRTER

FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1257591

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