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domingo, 29 de março de 2015

Joias de crioula contam histórias e inspiram novos designers

BAZAR
No Brasil do período colonial, mulheres negras que compraram sua alforria encontraram em adornos feitos em ouro e prata a forma mais direta de afirmar sua identidade.

Gabriela Cruz (gabriela.cruz@redebahia.com.br)

A palavra ostentação se tornou comum nos últimos tempos. O visual exagerado dos rappers americanos - e copiado pelos funkeiros e pagodeiros brasileiros -, repleto de joias de ouro no tamanho GG, tenta convencer logo de cara que dinheiro ali não é problema. O que parece algo do nosso século já foi visto na Bahia há mais de 300 anos.
Rompendo com regras sociais e até leis, mulheres negras que compraram sua alforria encontraram em adornos feitos em ouro e prata a forma mais direta de afirmar sua identidade. Só para se ter uma ideia da ousadia delas, no Brasil do período colonial, os negros eram proibidos de usar tecidos finos e joias. A venda de produtos diversos pelas ruas, principalmente alimentos, foi a forma que elas encontraram não só para comprar a liberdade como também para bancar a ostentação.
Joia de Crioula
Foto: Museu Carlos Costa Pinto
A vontade de demonstrar sua condição era tanta  que  encomendavam os adereços, depois chamados de joias de crioulas, com os mesmos ourives que forneciam para as senhoras brancas, estimulando o surgimento de um design totalmente baiano, expressão ímpar na joalheria brasileira. “Exibiam luxo e riqueza, causando espanto, tanto pela originalidade e singularidade do seus desenhos como também pela condição de vida e participação na vida cotidiana. Era a sociedade das aparências e parecer ter era mais importante do que ser”, afirma a pesquisadora Simone Trindade, autora de uma tese de mestrado sobre  balangandãs, um dos tipos de joias de crioulas. 
A Bahia foi o grande centro de produção e comercialização desses exemplares, confeccionados nos Séculos 18 e 19. As joalherias ficavam na Rua dos Ourives, onde  emblemas da nobreza se misturavam com “objetos de ouro e ornamentos de coral de feito muito primitivo, tais como pulseiras, colares, brincos, etc., muito procurados pela população preta”, relata James Wetherell, vice-consul inglês honorário que viveu em Salvador de 1842 a 1857, na obra Brasil: Apontamentos sobre a Bahia. 
Em outro trecho de suas anotações, ele descreve a forma de vestir dessa peculiar população soteropolitana: “Os braços são cobertos de pulseiras de coral e de ouro, etc; o pescoço e o peito carregados de colares e as mãos, de anéis, sobretudo aquela que mais frequentemente se acha fora das dobras do chale. Um grande molho de chaves numa correia de prata, na qual são também colocados  diversos outros amuletos, é pendurado  num dos lados do vestido”.
“Essas joias eram usadas por um grupo especial de mulheres que conseguiu uma posição de destaque. Que venceram em um mundo totalmente contrário a elas: sexista, escravocrata”, ressalta Simone, que convive há 24 anos com o maior acervo de joias de crioula do mundo, exposto no Museu Carlos Costa Pinto, no Corredor da Vitória. Em uma das salas do segundo andar do casarão – que tem um acervo de 3.175 peças - é possível não só ver de perto as 130 joias de ouro e 27 pencas de balangandãs, como conhecer um pouco mais da história desses objetos de beleza singular.
Fora de moda 
As joias de crioula caíram em desuso na segunda metade do século passado. Cartões-postais com fotografias da época revelam mulheres ricamente ornadas. Uma das mais conhecidas é Luiza Franquelina da Rocha ou Gaiaku Luiza de Oyá (1909- 2005). Nascida em Cachoeira, foi uma das mais importantes sacerdotisas do candomblé no Brasil. Com 21 anos, Luiza tinha como ofício vender acarajé no Centro Histórico. Usava o traje típico de   baiana e suas joias quando foi abordada por Dorival Caymmi, que a questionou sobre cada detalhe da vestimenta. Especula-se que a música O Que É Que a Baiana Tem?, sucesso  de Carmen Miranda, foi inspirada nesse encontro, embora o compositor nunca tenha confirmado.
As devotas da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, em Cachoeira, são as únicas mulheres a usar hoje as joias de crioulas, mesmo assim apenas na procissão em louvor à sua patrona, em agosto. “Todas as irmandades de mulheres negras usavam, mas hoje em dia apenas elas tornam essas joias ainda vivas. São as herdeiras desta tradição”, diz  Simone. 
FONTE: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/joias-de-crioula-contam-historias-e-inspiram-novos-designers/

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