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domingo, 2 de agosto de 2015

Poupar é bom, mas pode se tornar problema e precisar até de tratamento

ECONOMIA
Numa época em que falta dinheiro no bolso de alguns, tem gente como a estudante de Direito Vânia Britto que poupa o quanto pode

Priscila Natividade (priscila.oliveira@redebahia.com.br)

Ela não compra roupa, nem sapato,  há três anos. Perfume é de gota em gota:  “A última vez que dei R$ 100 em um perfume foi há dois anos, que é o que eu tenho até hoje”. Passou um mês comendo só macarrão instantâneo e ainda guardava a metade do salário para agregar à poupança, que já acumula a maior parte do valor que precisa para a entrada de um apartamento. “Com mais um ano de economia, acho que consigo chegar lá”.

Numa época em que falta dinheiro no bolso de alguns, tem gente como a estudante de Direito Vânia Britto que poupa o quanto pode. E não se trata  de ser rico ou não. Mas de pessoas que engordam a poupança e se apegam tanto ao montante que juntaram que acabam não direcionando o dinheiro nem para quitar alguma dívida pendente.
Vânia Britto já teve dez cartões de crédito, mas hoje admite que poupa até demais: ‘Não gasto com nada’
(Foto: Evandro Veiga)
“A minha família diz que vai vasculhar meu colchão ou tentar descobrir minha conta  porque eu sou mão de vaca e não gasto com nada”, afirma.
A estudante de Direito ainda vendeu o carro, não tem nenhum cartão de crédito, fez por três anos metade do caminho onde trabalha a pé para não gastar com o segundo transporte, reaproveita água da chuva nas tarefas domésticas para não abrir a torneira de casa, passou a odiar shopping e vai ao cinema “uma vez por ano” - e olhe lá - só em dia de promoção. “Eu era muito gastadeira. Tinha dez cartões de crédito, comprava roupa todo final de semana. Gastava demais mesmo”.

Reserva 
Em um momento economicamente instável, nada contra quem poupa ou economiza, como assegura o educador financeiro Edísio Freire. Porém,  segurar a grana pode impactar na economia como um todo. “Não tenha dúvida de que poupar é uma coisa muito boa, mas a pessoa não pode só guardar o dinheiro por guardar, nem comprometer o consumo das necessidades básicas. Isso é compulsão”, explica.
Quanto maior o nível de poupança maior também o potencial para o consumo futuro  e condições de reserva para investir ou adquirir um bem sem cair no endividamento. Mas é preciso movimentar o dinheiro. “Tudo demais é sobra. Não dá pra parar de consumir. Você não pode nem poupar demais, nem consumir demais. O dinheiro precisa de uma destinação rentável ou focada em um objetivo”, acredita.
Alerta 
Vânia mudou radicalmente depois que se viu sem condições de quitar as dívidas.  “Perdi todos os cartões e estava com uma dívida imensa.  Então parei de gastar e passei a economizar em absolutamente tudo e pela primeira vez na vida fiz poupança”.
Juntar dinheiro demais pode ser perigoso quando se transforma um transtorno obsessivo compulsivo como afirma o psiquiatra e psicoterapeuta  Bernardo Assis.   “A acumulação torna-se patológica quando o acúmulo de capital é tanto que a pessoa deixa de gastar com o básico e o essencial”, ressalta.
A cozinheira Ezioni dos Anjos assume que tem mania de poupar. Com uma renda menor que um salário mínimo ela praticamente faz mágica:  tem dois filhos, paga aluguel, água, luz e ainda conseguiu juntar na poupança um montante que é quase cinco vezes o que ela ganha por mês.
“Eu não tenho um objetivo definido. Só sei que guardo. Sempre tive esse hábito de economizar. A gente tem que estar preparado para tudo. Quando eu precisar, sei que vou ter porque eu juntei”. 
Ainda segundo Assis, em casos mais graves, as pessoas não conseguem se desfazer nem mesmo dos extratos bancários e além de serem “sovinas” com o dinheiro, economizam até nas emoções. “Elas não conseguem se desprender das coisas, algo que tem a ver com questões de infância que ficaram travadas lá atrás e começam a reter tudo para si”.
Casos mais graves necessitam de tratamento. “Se não for tratado adequadamente, o quadro pode se agravar, com a necessidade, inclusive, do uso de medicamentos”, sinaliza.
Poupança saudável
Segundo dados da pesquisa trimestral da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) e TNS Brasil, empresa global de pesquisa de mercado, 84% dos consumidores brasileiros planejam economizar mais este ano.
Para 92% dos entrevistados, a inflação impacta na decisão de mudança nos padrões de consumo. O lazer foi o  item que  mais teve impacto para 83%, que também cortaram os gastos com vestuário (77%) e alimentação (76%).
Ainda de acordo com números da pesquisa, aumentou a proporção de consumidores com algum tipo de dívida, 68% em julho, contra 62% em abril;  e 75% declararam ter dívida de cartão de crédito.
Para o educador financeiro Edísio Freire, a economia feita com essa mudança pode ser o pontapé que faltava para  começar uma reserva. “Escolha o melhor investimento de acordo com o seu perfil e a sua capacidade de poupar”, aconselha. Além da poupança tradicional, existem também outras opções de ativos. “Aí temos, por exemplo, o tesouro direto, fundos de renda fixa e letras de crédito”, completa.
Depois do apogeu, Classe C se esforça para enfrentar a crise
A nova classe C,  após o gás de estímulo ao consumo dado pelo governo nos últimos anos, se vê hoje diante da sua primeira crise econômica ao enfrentar alta de preços, aumento do desemprego e oferta de crédito escassa. Mais da metade dos consumidores desse grupo (61%) diz estar com o orçamento apertado e declara que compara preços entre produtos e lojas para otimizar o dinheiro, de acordo com pesquisa da Kantar Worldpanel Brazil.
Segundo os dados do levantamento, a prioridade ainda é a mesa farta, mas economistas garantem que, apesar da mudança de hábitos,  a classe C tem rebolado para mudar os padrões. O fotógrafo Dante Fabiano já cortou do orçamento investimento em vestuário e também na própria formação profissional. “ O sacrifício é diário”.
Qualquer tempo que sobra se converte em uma oportunidade para estender a carga horária  para um serviço  freelancer. “Na lacuna da folga, a gente faz um freela daqui e outro dali para poder segurar as contas. O que a gente ganha não está dando”, confessa. Para o professor Roberto Kanter, especialista em marketing e varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), o consumidor está definindo prioridades. “A curto prazo, o consumidor deve priorizar aquilo que faz sentido para ele. Mas tem que ser comedido e qualitativo. O período atual não é para visar quantidade, mas qualidade”.

FONTE: Correio 24 Horas

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