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domingo, 1 de novembro de 2015

Pacientes do SUS têm cinco vezes mais chance de morrer de câncer

SAÚDE

Pesquisa aponta que pacientes que chegam ao SUS para tratar a doença, geralmente, estão em estágio avançado

Carmen Vasconcelos (carmen.vasconcelos@redebahia.com.br)

A empregada doméstica Jandira Florencia, 57 anos, fazia todos os anos  exames preventivos. A mãe e a tia morreram de câncer de mama e o receio de ver a história se repetir garantia um acompanhamento cuidadoso da saúde. Durante a Campanha do Outubro Rosa do ano passado, descobriu um nódulo na mama.
 “O médico que me atendeu, pediu novos exames que pudessem comprovar o quadro de saúde, cheguei a pagar uma consulta particular por conta da demora no atendimento, mas não tive como bancar exames, pois o preço mais barato era R$ 1.400”, diz. Um ano depois, Jandira ainda não conseguiu fechar o ciclo de atendimento que garanta o início do tratamento.

O caso de Jandira não é único. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Grupo Brasileiro do Estudo de Câncer - feita em 28 centros brasileiros - os pacientes que chegam ao SUS para tratar a doença, geralmente, estão em estágio avançado, quando o câncer já comprometeu os gânglios, reduzindo as chances de cura. 
A dificuldade reside na marcação das consultas e no processo de tratamento, que opta por terapias convencionais que chegam muito tarde para o paciente. No Sistema Único - além da demora para conseguir consultas e exames -  os tratamentos de ponta, capazes de ampliar a sobrevida cinco vezes mais que a radioterapia comum, ainda não estão disponíveis na rede pública. 
A diretora do Instituto Ética da AMO – dedicado à pesquisa de medicamentos de ponta aplicados ao tratamento de câncer– a oncologista Vanessa Dybal apontou que a incidência do câncer deve duplicar no mundo em 2020. “Mais da metade dos casos de câncer de mama é esperada em países em desenvolvimento, como o Brasil. Porém aqui, a mortalidade aumenta, na contramão do resto do mundo”, enfatiza. Além disso, há uma distribuição irregular de centros de tratamento no país, que geram fluxos migratórios de pacientes de regiões onde não há Centros de Serviço de Alta Complexidade em Oncologia (Unacons). 
“Uma paciente com câncer de mama metastático, no sistema privado, vive por até cinco anos; já uma atendida pelo SUS vive um ano e meio, em média. Isso é um dilema para o médico. Como ele enfrenta essas duas realidades? Uma alternativa, além da incorporação de tecnologias no sistema público, é melhorar o processo de pesquisa clínica no país”, denuncia a médica.
Prioridade legal 
Vale salientar que a mortalidade por câncer de mama no Brasil é proporcionalmente maior do que em países desenvolvidos. De acordo com o Inca, 2.560 novos casos de câncer de mama são esperados na Bahia apenas em 2015.  No caso de Jandira, a família e os patrões estão tentando viabilizar o atendimento. A mesma sorte não é dada a mulheres e homens que necessitam de atendimento breve para interromper o avanço da doença. “Não quero morrer da mesma forma que a minha mãe morreu há 20 anos”, completa.
Segundo o assessor de relações governamentais da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Thiago Turbay, na lei, o câncer é prioridade nas questões de saúde no Brasil desde 1999. No entanto, somente 2% do orçamento da Saúde são destinados à oncologia. Em 2015, o orçamento federal da Saúde é de R$ 103 bilhões. 
“Temos recursos, mas são mal aplicados”, ressalta, explicando que, apesar do SUS incorporar procedimentos a nível federal a partir da indicação do Ministério da Saúde, os estados têm autonomia  para decidir sobre o tratamentos ofertado na rede pública. “É permitido que eles busquem fontes de financiamento e parcerias para que novos medicamentos sejam ofertados na rede local, desde que estes apresentem evidências científicas para tanto”, esclarece Turbay, alertando que o coeficiente de compra governamental, através do qual alguns medicamentos são isentos de tributos, traz uma redução de 40% do valor original.
“Em muitos casos, fornecer o acesso a todos é mais vantajoso para o governo estadual, do que arcar com os custos de ações judiciais de pacientes que buscam acesso a tratamentos não inclusos na rede pública”, explica. De 2012 a 2014,  os gastos de judicialização cresceram 129% no país. “Hoje cerca de 30% das ações judiciais tramitando no Tribunal de Justiça da Bahia estão relacionadas à saúde e destas, 5% são casos de câncer de mama”, informa o defensor público federal Átila Dias.
Avanços e retrocessos 
A presidente do Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer (Naspec), Romilza Medrado, ressalta que pessoas estão morrendo na Bahia e no Brasil e que não é de morte natural, mas uma morte provocada pelo descaso com as políticas públicas de saúde que contemplem o paciente com câncer. “Não quero chegar no próximo ano e comemorar um Outubro Rosa e ver o coração negro de tantas famílias que perdem os seus familiares”, completa.
Ela diz que embora haja uma mobilização social em torno da causa, é importante sair do discurso e passar para a prática por meio de ações efetivas, que descentralizem o atendimento na capital e que possibilitem que os equipamentos e os profissionais mais capacitados estejam mobilizados para o atendimento do paciente oncológico. 
Para ela, o acesso aos medicamentos de ponta também é de fundamental importância para garantir a sobrevivência do paciente oncológico, especialmente aqueles que estão com metástase ou possuem quadros que não respondem aos tratamentos convencionais. Com uma postura parecida, a oncologista Vanessa Dybal destaca a necessidade de que tratamentos de ponta, resultado do desenvolvimento da engenharia genética e biológica,  como o realizado com o Trastuzumab Emtansine/TDM1), conhecido como “Cavalo de Troia”, que representa uma nova esperança para  as pacientes com câncer de mama avançado (metastático) HER 2. 
A nova droga, uma associação de um anticorpo carregado com um quimioterápico, funciona ao ser injetada na circulação sanguínea e fixar-se na célula alvo para entrar no tumor liberando a quimioterapia dentro dele. Dessa característica específica inovadora da atuação da droga na célula cancerígena é que vem a referência ao nome “Cavalo de Tróia”. 
A médica acredita que o mecanismo de internalizar o quimioterápico para a célula, através de um veículo portador que é o anticorpo, pode mudar o modelo dos tratamentos atuais, permitindo que novas drogas também sejam utilizadas com esse tipo de abordagem de liberação de quimioterapia. O TDM1 é fruto da linha de pesquisa de tratamento do câncer de mama HER 2 intitulada “Emília”, chancelada pela Associação Americana de Oncologia.

FONTE: Correio 24 Horas

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