NOVELA
Clima de festa
23.02.2015
Adriana Esteves, Gloria Pires e Cássio Gabus gravam, no Morro da Urca, cenas do primeiro capítulo de 'Babilônia', nova novela das 21h assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes
As luzes, o tapete vermelho, as câmeras, a movimentação dos carros de luxo e das pessoas na entrada da estação do bondinho do Pão de Açúcar, na Urca, chamavam muito a atenção de quem passava pela praça General Tibúrcio, numa recente noite de quarta-feira. Parecia que iria ter uma festança daquelas por ali, mas não era bem isso.
Quer dizer, era uma festa. Mas não de verdade. Tudo parte da gravação de "Babilônia", próxima novela das 21h da Globo, escrita pelos autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.
Com estreia para 15 de março, a trama, que substitui "Império", começa com o evento. A cena será um dos principais acontecimentos do primeiro capítulo, ambientado em 2005. Registra o aniversário da construtora Souza Rangel, do poderoso Evandro (Cássio Gabus Mendes), então noivo de Beatriz (Gloria Pires).
"Essa festa vai mudar o destino de Inês (Adriana Esteves) e Beatriz. Consequentemente, também sela o destino de Regina (Camila Pitanga). As três, cujas vidas serão entrelaçadas a partir de um crime. O ponto de partida dessa tragédia acontece justamente neste evento", adianta Linhares.
Na Urca
Pela importância da ocasião, o lugar da festa tinha que ser icônico, como o Morro da Urca é para a paisagem carioca, pontua o autor. É no alto da pedra que acontece o decisivo encontro de Beatriz e Inês, amigas de adolescência que não se veem há muitos anos. Elas se esbarram depois que Inês, obcecada pela vida de Beatriz, arruma um convite e entra de penetra na comemoração, ao lado do marido, Homero (Tuca Andrade), engenheiro na construtora.
"A rubrica do texto era a Inês se sentindo humilhada. Mas a Beatriz não a reconhece, e ela se sente desprestigiada. Acha que foi uma esnobação", explica Gloria Pires, que ficou dentro do ônibus-camarim.
Segundo Linhares, a indiferença de Beatriz gera um choque em Inês, que a segue durante a festa e a vê com um amante, Cristovão (Perré), motorista da família Souza Rangel. A personagem de Adriana filma o encontro furtivo e passa a chantagear a ex-amiga.
"Para se livrar da extorsão, Beatriz acaba assassinando Cristóvão e incriminando Inês. Cristóvão é pai de Regina. Ela vira arrimo de família e tem que abrir mão do sonho de estudar Medicina para sustentar a mãe e o irmão. Eles se mudam para a favela da Babilônia e Regina vai trabalhar numa barraca na areia", adianta o autor.
Externas
Aparentemente simples, a cena da chegada dos casais ao teleférico começou a ser montado às 21h - horário em o que bondinho fecha para visitação pública. A gravação em si começou à meia-noite.
"É assim mesmo. Tem que pregar tapete, ajeitar o cenário, as luzes, o gerador. Tudo demora", conta o diretor de núcleo Dennis Carvalho.
A cena foi gravada em três noites consecutivas. Tudo sob o comando de Dennis durante as gravações no salão no alto do Morro da Urca. Lá em cima, 600 pessoas participaram das gravações, 250 só da figuração.
"Tenho uma equipe maravilhosa com vários assistentes, e cada um comanda um setor. Eu sozinho não consigo", conta Carvalho, que reuniu a diretora-geral Maria de Médicis, e os diretores Cristiano Marques, Pedro Peregrino, Luisa Lima e Giovana Machline para acompanhar esse momento-chave da história. Levar todo o aparato bondinho acima foi o que a produtora de arte Nininha de Médicis prefere chamar de "operação de guerra".
Para dar a veracidade ao evento, ela contratou bufê, alugou a louça e os móveis com pegada lounge. Também contratou uma escola de samba para animar a noite.
"Foi como organizar um evento real. As bebidas é que nunca são de verdade, são sempre cenográficas. Fizemos arranjos e colunas com flores e montamos um bar, com muitas garrafas de champagne, gelo de verdade. A vantagem é que não era um festa muito formal, era um coquetel. Então, foi mais simples", detalha Nininha que, depois da gravação, precisou descer com tudo de novo.
Em seguida, o diretor organiza a movimentação dos carros - dois de cena e quatro de figuração, e todos em modelos 2005 para trás.
Em meio a 95 figurantes, todos vestidos com roupas de festa - e prontos graças à presença de 15 caracterizadores e 10 camareiros - os atores chegam ao set. Enquanto Dennis ensaia com eles, o carro é limpo pela produção.
O primeiro "gravando" é ouvido à meia-noite e quinze. "O Val ficou longe do carro e parou errado na grua. Está muito perto da câmera", avisa Dennis, interrompendo o take. "É difícil mesmo, gente. Todo mundo tem que estar bem concentrado".
A sequência é refeita mais algumas vezes. Perré conta que os atores já estão acostumados à repetição. "Não adianta sair de casa achando que vai gravar 15 minutos e voltar. Os detalhes precisam estar sincronizados. E estamos sujeitos a problemas técnicos também", analisa o ator, contando que aproveita a espera para passar o texto com os outros colegas.
Gloria concorda: "Na verdade, gravar externa é sempre muito difícil porque tem toda a questão técnica de luz, colocação, enquadramento, figuração... Toda uma movimentação que precisa ser muito exata. No estúdio, os equipamentos já estão à disposição em um lugar feito para isso", conta ela.
Pouco antes da 1h Adriana e Tuca adentram o set. "Glorinha, vai ter uma fila mas você não fica nela", orienta o diretor, que, vira para Adriana: "Quando a Glorinha andar, eu quero você saindo, tá?"
Ele fala com os assistentes: "O Val demorou a sair, preciso que a Adriana chegue logo. E tem figurante olhando para a câmera, não pode, gente!
Ritmo frenético
Depois que a gravação começa, o ritmo é intenso. Embora seja o responsável por ditar a dinâmica, Dennis conta que seu foco é mesmo nos atores. "Os assistentes que comandam os figurantes. A gente tem que delegar. E eu me preocupo com a atrizes se não a cabeça não funciona".
Amiga de Gloria há bastante tempo, Adriana nunca havia trabalhado com a atriz. "É um prazer enorme esse trabalho, muito por causa disso. Gloria é uma atriz referência e uma pessoa realmente encantadora", elogia ela, que antes de "Babilônia", rodou a minissérie "Felizes para sempre?", recém-terminada.
Diante de Gloria em cena, a atriz teve que passar várias emoções em um só olhar. As duas não possuem diálogos na primeira vez que se veem, ainda na parte de baixo do bondinho.
"Inês admira muito essa mulher, por ser rica, famosa, linda, coisa que ela não é. Quando a vê, Inês sente uma admiração profunda, uma vontade de voltar ao passado para conviver com ela, vontade de ter a vida que a outra tem. É como se a Inês não fosse nada se a Beatriz não existisse", define Adriana.
Empolgada com sua volta às novelas após a inesquecível Carminha, de "Avenida Brasil" (2012), Adriana fala que adora gravar externas que envolvem uma intensa produção.
"É tudo tão estimulante, é muito gostoso entrar num set à noite nesse lugar lindo, com essa equipe toda. Eu adoro ver essa quantidade de figurante. Acho incrível como tudo é montado e organizado", encanta-se a atriz.
Passa de 1h30 quando Dennis anuncia: "Ok, senhores. Boa noite, obrigada! Valeu!". E finalmente a cena decisiva chega ao final.
Uma chuva de aplausos encerra o trabalho. Os atores voltam imediatamente para o ônibus, seguidos por intermináveis flashes de quem esperou a gravação terminar para tentar uma selfie com seus ídolos. Os figurantes trocam de roupas, pegam seus kits-lanche e entram em outro ônibus. E a vida volta ao normal.
Natalia Castro
Agência o Globo
Agência o Globo
FONTE:
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/zoeira/clima-de-festa-1.1225953
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