O relato de João Nery, 65 anos, é apenas um entre os vários episódios vividos por ele – que nasceu em um corpo feminino, mas sempre se identificou como homem
Agência Brasi |
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“Desde que me entendo por gente, aos 3 ou 4 anos, eu já queria ser tratado no masculino. Eu sabia que isso não podia ser explicitado verbalmente. Então eu corrigia mentalmente, e toda vez que me tratavam por 'ela' eu passava para 'ele'. Mas eu tinha que me submeter àquele mundo feminino que era imposto para mim, do uniforme da escola aos brinquedos.”
O relato de João Nery, 65 anos, é apenas um entre os vários episódios vividos por ele – que nasceu em um corpo feminino, mas sempre se identificou como homem.
Em uma época em que não se falava em transexualidade, João Nery ousou ao firmar uma trajetória de busca e construção da própria identidade. Ele é o primeiro homem transexual brasileiro a ter sido operado.
Ainda na infância, ele conta que, para poder se manifestar como menino, fez um carrinho de rolimã e brincou com ele no quintal de casa até destruir o concreto. “Era um recurso infantil. Mas na pracinha me chamavam de Maria Homem e era muito ruim. Minha mãe me proibiu de ir para a praça, mas acabei achando bom, pois me sentia mais protegido dentro de casa.”
Na adolescência começaram a aparecer as características físicas femininas. “Começou a brotar um corpo pior ainda. Seios, 'monstruação' - como eu chamo a menstruação, porque aquilo era um monstro para mim. Fui crescendo aos trancos e barrancos, sem um rótulo”, lembra.