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segunda-feira, 14 de março de 2011

DIA DA POESIA - 14 DE MARÇO


A CHUVA


A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios.


A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as


praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu


as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua


cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a


favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A


chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho prateado. A


chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A chuva


destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos dias. A


chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva


derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva ligou o


pára-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a


sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina.


A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos.


A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A


chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os


móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as


cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído de


vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo teto. A


chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os varais. A


chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A chuva


molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva


regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez


muitas poças. A chuva secou ao sol.


Poema de Arnaldo Antunes, ilustrado por Nina.

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