Próximo ao Dia da Mulher, decidi escrever sobre o homem. Esta raça aí mesmo! De contrastes tão visíveis quanto misteriosos, uma tribo terráquea onde todos querem ser caciques, e feito um pelotão maciço de futebol americano que se protege pra vencer, mas, se der chance, saem todos alucinados pra agarrar a bola primeiro. Vai entender nós, os homens! Não podemos chorar, nem fraquejar, estrangulamos o pescoço engravatados, sentimos toneladas sobre os ombros e ostentamos uma onipotência que nos exila de qualquer ato mais sensível. E, quer saber? Ai de qualquer um que ouse desabafar demais ou reconhecer um ato falho de limitação! – a Corte Marcial Global dos Machos degola qualquer candidato que quebrar o paradigma da insensibilidade. Afinal, fomos feitos pra lutar, guerrear, competir, conquistar, defender, segurar, impressionar e, se der tempo, enxugar as lágrimas – delas! Ponto final. O único problema é quando a miragem se desfaz e o deserto da imperfeição nos obriga a cair na real.
Daí eu me pergunto, por que um dia delas se, nem de longe, os outros dias são deles? Quem disse que um dia pra homenageá-las paga nossa dívida de não conseguirmos segurar as pontas sozinhos pelo resto do ano? Ter uma data especial pode parecer mais um favor feito no tolo ringue da Guerra dos Sexos – onde o “cromossomo frágil” recebe uma gorjeta. Calma lá, não me fuzilem ainda! Apenas parei pra refletir se este momento não pode soar mero aplauso pra desencargo de consciência, como se uma minoria enfraquecida carecesse de um agradinho sazonal. Mas as mulheres são a maioria! São fortalezas dando a luz, seu limiar de dor põe o nosso “no chinelo”, decifram o imperceptível, e ainda fazem tudo ao mesmo tempo. Podem me guilhotinar, mas do jeito que também somos indecifráveis mereceríamos um dia pra reconhecer a importância de não sermos todo-poderosos. Um Dia do Homem provaria pro Universo que também percebemos ser minoria, sofrer injustiças, e esperar por um certo reconhecimento.
A esta altura você deve estar coçando a cabeça ou esmurrando o computador, mas vamos divagar um pouco mais? Se lá no Eden toda a estratégia maquiavélica foi investida na tentação sobre Eva, o que foi necessário para Adão ir junto? Só uma boca-de-urna feminina – nada mais (Genesis 3). O homem mais forte do mundo faria Rambo, Hulk e Thor amolecerem, mas quem arrancou de Sansão o segredo ultra-secreto de seus poderes heroicos? Um sussurro sedutor ao pé do ouvido (Juízes 16). E quem impressionou o Mestre dos mestres com a maior aula de insistência, perseverança e sabedoria? Uma dama que, fazendo um trocadilho com as palavras “cachorrinhos”, “migalhas” e “mesa”, conseguiu a cura desejada (Mateus 15:27). E a viúva de Sarepta (1 Reis 17), que deu toda a comida que tinha, acreditando que receberia muito mais do que queria? E por aí vai… longe!
Por isso relevo aqui a importância da imparcialidade. Somos os leões da floresta, mas são as leoas que saem pra caçar. Quem disse que não temos lutas masculinas por detrás do pôster de Mister Universo? E o Dia da Mulher é um chamado mundial à reflexão desarmada de que todos buscamos superar nossas carências. Se a mulher precisa ser protegida por fora, o homem também precisa ser amparado por dentro. Elas merecem um banho de rosas perfumando sua auto-estima, e eles esperam uma brisa de paz refrescando o suor de sua auto-cobrança. Se elas assumem sua fragilidade tornando-se mais fortes, nós deveríamos reduzir nossa infalibilidade ficando mais tranquilos. O perfeccionismo austero masculino se debruça admirador nato perante a singela humildade feminina. Obcecados por acertar, muitas vezes nos cobramos demais enquanto elas, resignadas em servir, superam-se cada vez mais.
Entende por que eu defendo esta bandeira? O Dia do Homem seria prova irrefutável de que não somos, nem deveríamos ser, o centro das atenções. E não porque somos melhores, mas exatamente por não sermos melhores. Então, sou arrebatado por pensamentos intrigantes: a divindade em pele humana nascendo de uma virgem (Lucas 1:27); o Salvador chamando a Nova Jerusalém de noiva (Apocalipse 21:2); ou Cristo ilustrando sua Igreja de mulher (Apocalipse 12:17). Consegue perceber? O gênero feminino é pinçado cuidadosamente por Deus pra revestir a saga do Plano da Redenção de profundo significado. O Criador sabe o potencial incrível de ambos os lados.
Não dá pra fugir desta verdade poderosa: admirar o sexo oposto é tornar-se admirável. A elegância romântica não enfraquece os bíceps, mas tonifica o poder de influência. Querer uma data masculina não é reivindicar a mesma glória, é descer um pouco do salto (de sapatos Democrata!). Enquanto isso, elas avançam silenciosas. Com aquele sorriso maroto, envolto numa piscada tímida ao receber um buquê de rosas no seu dia – sem precisar dizer por aí o que todos já sabem – que os outros dias também são seus. E se isso ferve em você como uma ameaça alienígena de seres perigosos usando Victoria´s Secret, tome cuidado! Mulher não tem tempo pra ser mãe, profissional, cônjuge, dona de casa, educadora, estudante, vaidosa, saudável, atraente, competente, ombro amigo, muro de lamentações e, além disso tudo, preocupar-se com a arregimentação de uma mega-estratégia-inter-galáctica-ultra-sigilosa para dominar o Universo Masculino. Que tolice! Valorizá-las é provar o quanto precisamos delas de dia – e de noite! Assim, volto à ideia do Dia do Homem! Só pra equalizar as coisas. Pra colocar-nos no mesmo nível de excelência. E, lá no fundo, pra escancarar a realidade: se elas receberam um dia pra provar que são mais do que parecem, eles teriam seu dia pra reconhecer que são menos do que aparentam.
E ao final de tudo isso? Seguiríamos juntos, de mãos dadas e egos entrelaçados, curtindo a delícia de viver “de igual pra igual”, mergulhados nas infinitas diferenças que nos tornariam eternamente cúmplices. “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher” (1 Coríntios 11:11). Isso aí! O que Deus uniu, que não separem os estereótipos. Um precisa do outro, e juntos precisam descobrir onde a felicidade desponta. Posso ser um iludido em extinção acreditando nos relacionamentos – mas prefiro ser conhecido por crer nos clichês improváveis do que me render à pressão das maiorias solitárias. Neste mês de homenagem a elas, espero que eles se superem homenageando-as pelo resto do ano também. E nestes dias especiais – de todos os dias ainda mais especiais – viver será emocionante, e conviver, um presente do Céu abençoando ambos os sexos.
Mas só pra não revolucionar demais… Feliz Dia da Mulher! Vocês fazem a gente descer do trono.
Que trono, ué?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário