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Queridos amigos, Antes de qualquer coisa, queremos que saibam que se esse pedido de ajuda não fosse absolutamente necessário, não o faríamos. Vocês não imaginam o quanto é difícil para nós ter que admitir que começamos o ano pensando em aumentar o AUG, em fazer da nossa ONG tão querida, tocada só com amor, uma empresa que se auto sustentasse. Esse seria o ano em que começaríamos a preparar a ONG para outras gerações, para que quando eu e a Susan estivermos velhinhas nosso trabalho continue e o AUG dure por muitos e muitos e muitos anos.
A realidade é que não estamos nem no meio do ano e estamos quebradas. Não sabemos se a queda nas doações acontece porque outras ONGs começaram a se organizar como a gente ou se é porque a maioria das pessoas não pode ajudar mais com doações. O nosso medo é que a popularidade do AUG esteja sendo confundida com estarmos grandes e organizadas demais e, por consequência, pensarem que não precisamos de doações.
Costumamos dizer que o AUG é mágico. Sempre que estamos em apuros financeiros algo acontece e acaba nos desafogando. Dessa vez, no entanto, nada aconteceu. As doações caíram drasticamente e a ONG continua não só mantendo o mesmo número de gatos como também segue fazendo resgates. Crescemos em tamanho e popularidade, mas esse crescimento nunca foi proporcional aos valores que arrecadamos. Como continuar assim?
Temos perdido o sono só de pensar na possibilidade de ter que parar os resgates, cuidar dos gatinhos que já temos e, em alguns anos, encerrar o AUG.
Quando começamos a ONG, há quase 10 anos, eu e Susan tínhamos 26 anos. Estávamos recém casadas e nunca tivemos tempo para brincar de casinha ou agradar nossos maridos porque queríamos mudar a vida dos gatinhos que eram resgatados. Graças a Deus temos muita sorte porque nossos maridos não só entendem nosso amor pelo que fazemos, como pagam por muitas das despesas da ONG do bolso deles. Isso porque, ao logo dos anos, além de abrir mão de uma vida calma e sossegada, também tivemos que deixar de lado nossas carreiras.
Se nos arrependemos? De jeito nenhum. O AUG é nossa vida, nosso legado, o "filho" que não tivemos. Não reclamamos das noites mal dormidas, de tudo que abdicamos, mesmo quando somos lembradas por nossos maridos ou algum familiar que insiste que deveríamos ter uma vida que para os outros é considerada normal. "Normal" para gente não basta, queremos mais. Queremos ajudar os gatinhos, queremos que não falte ajuda para os coitadinhos estropiados, atropelados, queimados, mordidos, nem para as mamães nas ruas ou filhotes órfãos.
Escrever nosso boletim mensal e mostrar tudo que fizemos em um mês sempre foi motivo de orgulho para nós. Não parece, mas dá um trabalhão. Temos que juntar todos os casos, as fotos, descrever cada resgate, revisar e depois montar no formato que vocês recebem. Isso leva cerca de 5 dias inteiros! Costumávamos receber respostas comentando os resgates e, com elas, doações para que pudéssemos continuar o trabalho. Agora enviamos o boletim e temos a impressão que não são lidos, porque não são comentados. Recebemos pouca ajuda, geralmente das mesmas pessoas que ajudam todo mês. Antes resgatávamos 10 gatos por mês, depois 20, depois 30, 40, 50 e as doações não pagam mais tantas contas. Um gatinho muito doente pode custar a mesma coisa que 20 saudáveis, mas vamos negar ajuda para o doentinho? Vamos resgatar só gatos bonitos, mansinhos, que só precisam do básico e logo são doados? E os atropelados, queimados, aleijados, espancados? Deixamos sem cuidar? Não sabemos fazer isso.
Não sabemos como que, depois de quase 10 anos, não temos como aceitar esses casos. O que fizemos de errado? Tudo que fizemos foi trabalhar e mostrar que somos honestas, que somos uma nova cara da proteção animal, que somos um grupo que resgata, doa e se preocupa com a segurança e com a vida que eles vão ter. O dinheiro que temos em caixa não é o suficiente nem para montarmos o Bazar de Natal, que já estávamos preparando, porque os produtos devem ser pensados agora. O sonho de comprar uma sede para o AUG ficou adiado, com outros sonhos que estão guardados em uma caixinha. Não temos nem como alojá-los com conforto onde estão por falta de dinheiro para pequenas reformas, que dirá comprar uma casa?
Eles não podem viver assim. Precisamos de uma sede, uma casa alugada e mudar nossos gatinhos de lugar. Tivemos um surto de pulgas que nos pegou desprevenidas. Em 5 anos naquele local nunca tivemos pulgas! Assim que percebemos o problema, retiramos os gatos de lá, tratamos todos e gastamos uma fortuna com o tratamento deles. Todos receberam e continuam recebendo aplicações de antipulgas e já fizemos duas dedetizações. Como o piso é taco, cheio de frestinhas, e tem pelo menos 70 anos, sugeriram um tipo de dedetização que exige que os gatos saiam do prédio por um mês. E onde vamos colocar 120 gatos por um mês? Tivemos que mudá-los para o andar de cima, aquele que não podemos usar no verão porque é quente demais, e no inverno, frio demais. A sala permanece vazia porque não podemos colocar um piso frio e mais higiênico. Eles foram acomodados como foi possível. Os filhotes estão espremidos em uma salinha de 3x3m. Não podemos mudá-los para outra sala porque não bate sol nela e não temos dinheiro para fazer pequenas reformas que são necessárias.
Estamos esperando por um milagre. Um milagre que só pode vir das mãos de vocês que leram esse apelo. Precisamos de um espaço, ainda que temporário, com condições de higiene que permitam que a gente economize com limpeza. Precisamos de pessoal que possa medicá-los em horários quebrados para que a gente economize com veterinários e UTI, precisamos de dinheiro para montar o Bazar de Natal e, com o lucro, sustentar a ONG por mais algum tempo.
São muitos "precisamos", nós sabemos. Mas não temos a quem pedir. Não temos crédito em banco para um empréstimo, não temos um familiar rico que abrace a causa e nunca recebemos um centavo de ajuda do governo.
Por favor, não ignorem nosso pedido. As fotos a seguir mostram a situação dos gatinhos na nossa sede e o quanto é urgente tira-los de lá. O que já foi uma sala alegre com gatinhos brincando hoje é uma sala vazia, esperando reformas. O local onde vivem, uma laje fechada na década de 50 pelos donos do prédio, é frio ou quente demais. Cansamos de trocar as telhas, é o mesmo que jogar dinheiro fora.
Nossos gatinhos precisam de mais. Precisam de um lugar seguro. Precisam de espaço para viver enquanto esperam pela família ideal. E os ariscos e velhinhos precisam de qualidade de vida caso nunca sejam adotados. Por favor, nos ajudem a melhorar a vida deles. Doem o que puderem para podermos investir no aluguel de uma casa e, quem sabe mais para frente, a compra de uma sede. Não adianta irmos para um local afastado se precisamos estar perto deles. Além da logística, existe o problema de segurança. Ano passado o prédio em que eles estão foi arrombado no dia do nosso Bazar de Natal. Por sorte foi coisa tão planejada que sabiam que no andar de cima só estavam os gatos e nem se deram ao trabalho de forçar a nossa porta. Em uma dessas, se estamos isoladas de tudo, logo viramos um alvo. Um bando de mulheres entrando e saindo de uma casa com gatos não é uma notícia que demora para se espalhar no bairro.
Nós temos pressa. E nossos gatinhos também. Por favor, ajudem. E desculpem o tom desesperado desse apelo, mas é muito difícil pensar que podemos ter feito tudo errado e quem vai pagar por isso são os 450 gatinhos que temos sob nossos cuidados.
Um grande beijo a todos, Juliana, Susan e voluntários AUG
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