Uma dieta pode ter o mesmo efeito em reduzir o colesterol que um tratamento com estatinas? O apresentador da BBC Michael Mosley faz documentários sobre ciência há vários anos. Mas tem um interesse especial particular. A sua árvore genealógica é marcada por problemas cardíacos e tem consciência que, se não tomar cuidado, o seu nível de colesterol tende a subir.
E não está sozinho - 60% das pessoas na Grã-Bretanha têm níveis de colesterol demasiado elevados e as estatinas são cada vez mais recomendadas. No entanto, estas têm efeitos colaterais e muitas pessoas relutam em passar a vida a tomar comprimidos.
Por conseguinte, Michael Mosley quis descobrir se é possível diminuir o colesterol apenas alterando a dieta?
Para isso pediu ao médico Scott Harding, do King's College de Londres, ajuda a criar e gerir um pequeno estudo. Recrutou 42 voluntários, todos preocupados com os níveis de colesterol e interessados em descobrir o que poderiam fazer sem a medicação.
Começaram com amostras de sangue para identificar os níveis actuais de colesterol total. O colesterol é algo complicado. A maior parte é produzida no fígado e, em seguida, enviada para células que necessitam dele, ligadas a uma lipoproteína chamada LDL (lipoproteína de baixa densidade).
O LDL é frequentemente chamado de «colesterol mau» ou «alto» - os seus níveis elevados estão associados a um risco elevado de doença cardíaca. O HDL (lipoproteína de alta densidade) é conhecido como colesterol «bom» porque transporta o colesterol das artérias para o fígado.
As recomendações actuais são de que os níveis de LDL devem ser inferiores a 3 mmol/l e de HDL superiores a 1 mmol/l.
A partir das amostras, Scott separou os voluntários aleatoriamente em três grupos. Cada grupo teve que mudar a dieta de uma maneira diferente.
O primeiro grupo adoptou uma dieta tradicional de baixo colesterol: trocou as gorduras animais por opções à base de vegetais ou baixo teor de gordura. Cortaram com os ovos, bacon e salsichas, e privilegiaram o consumo de frango sem pele.
O segundo grupo não teve de desistir de qualquer alimento, mas teve que ingerir 75 g de aveia por dia, o equivalente a três porções. A aveia é rica em fibra, e qualquer forma de fibra, independente da origem - cereais, leguminosas (feijões e lentilhas) ou vegetais - ajuda a diminuir o colesterol.
Já o terceiro grupo comeu normalmente, mas adicionou 60g de amêndoas por dia (duas mãos cheias) à dieta. Nos últimos anos, amêndoas, nozes e avelãs tornaram-se populares graças a estudos que sugerem que podem reduzir o colesterol. Nozes são ricas em fibra e esteróis vegetais, que podem atrasar a absorção de gordura e colesterol.
Munidos das suas dietas, os voluntários iniciaram os testes, que duraram quatro semanas.
Ao invés de adoptar uma das dietas, o apresentador quis ver se a combinação de elementos dos três testes poderia ter um efeito maior. Para isso, cortou um pouco com o bacon e salsichas e adicionou aveia e amêndoas à sua dieta.
Esta experiência é baseada na chamada dieta Portfolio, desenvolvida por David Jenkins em Toronto. A ideia é tentar diferentes fórmulas para reduzir colesterol ao mesmo tempo. A dieta Portfolio completa inclui não apenas as amêndoas e aveia mas esteróis vegetais e soja.
Esteróis vegetais são encontrados em frutas, legumes e nozes, mas em pequenas quantidades. É possível obtê-los também em margarinas e iogurtes enriquecidos.
Produtos de soja, como leite e proteína de soja, têm reputação de serem uma alternativa saudável ao leite mas, há alguns anos, a agência de segurança alimentar europeia rejeitou afirmações sobre os benefícios da soja, alegando que estudos controlados não mostraram efeitos benéficos.
A soja parece funcionar através da inibição da síntese do colesterol no fígado. Recomenda-se a ingestão de 15-25g para obter o máximo efeito.
E como é que a dieta Portfolio funciona? Um estudo publicado em 2011 apontou que aqueles que concordaram em testar a dieta durante seis meses viram uma redução média de cerca de 13% nos níveis de colesterol LDL. Os melhores resultados foram obtidos pelos que foram mais fiéis ao processo.
E como se saíram os voluntários do estudo? Os resultados não saíram conforme o esperado. A primeira surpresa foi em relação aos que comeram amêndoas.
«Metade do grupo teve uma resposta positiva», disse Scott. «E um indivíduo teve uma redução de 18% nos seus níveis de colesterol total. Do outro lado da moeda, algumas pessoas tiveram uma resposta adversa. O colesterol, na verdade, subiu, e, em alguns casos, significativamente.»
Os níveis elevados de colesterol em alguns relativizou a queda em outros. Em média, não houve mudança.
Aqueles que ingeriram baixa gordura animal saíram-se melhor, com uma queda média no LDL de 10% e 13%.
A maior surpresa, no entanto, foi notada no apresentador. O seu colesterol LDL caiu para uns impressionantes 42% - semelhante ao tratamento com estatinas.
A explicação para o fenómeno não é fácil. Pode ser que a dua dieta tenha funcionado melhor do que fazer coisas isoladamente. Ou pode ser que o seu corpo responda melhor a uma combinação de aveia, amêndoas e falta de bacon do que a maioria das pessoas.
Portanto, a resposta é sim, é possível reduzir o colesterol significativamente através de pequenas mudanças na dieta. Mas, para obter um efeito tão grande como o das estatinas, pode ser necessário combinar diversas técnicas diferentes.
O melhor conselho seria tirar amostras de sangue antes e depois de qualquer dieta para entender qual a técnica mais benéfica, sustenta o apresentador.
Fonte:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=782869
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