Aquela final da Libertadores foi o jogo mais marcante da minha carreira não porque eu fiz os dois gols, mas porque era, até então, o título mais importante da história do Flamengo. E por outro motivo ainda: a decisão contra o Cobreloa foi uma vitória do futebol sobre a violência.
Nossa trajetória naquela Libertadores foi toda complicada, teve de tudo. Na primeira fase, nós fomos muito maltratados em um jogo no Paraguai e depois teve aquele problema na partida contra o Atlético (o jogo de desempate, em Goiânia, terminou antes da hora porque o árbitro José Roberto Wright expulsou vários jogadores do Galo).
Quando fomos jogar na Bolívia, o estádio parecia um quartel de tanta polícia que tinha lá. E tivemos problemas na Colômbia também, em um jogo em Cali.
Mas o pior foi mesmo a final. O primeiro jogo foi tranquilo, nós massacramos o Cobreloa no Maracanã. Mas o segundo foi um horror. O clima era terrível, mesmo assim nós só não ganhamos porque o Ramon Barreto (árbitro uruguaio) fez o diabo com a gente.
Toda vez que nosso time chegava perto da área do Cobreloa ele inventava um impedimento ou uma falta. E teve aquela história famosa da pedra do Mario Soto (capitão do Cobreloa). Ele jogou com uma pedra na mão e deu pedradas em vários jogadores do nosso time.
O Lico e o Adílio saíram de campo com o rosto sangrando, e o Lico nem teve condições de disputar o terceiro jogo. Além disso, o Júnior quase foi preso no fim da partida, uma coisa horrorosa.
No dia seguinte, o clima entre a gente era o pior possível, havia muita revolta. Só se falava em vingança. Mas o terceiro jogo, em Montevidéu, era três dias depois e nós decidimos esquecer aquilo. Fizemos uma reunião e eu, como capitão, disse que o Flamengo só seria campeão se jogasse futebol, porque na bola nós éramos infinitamente melhores.
Se a gente entrasse naquela onda de violência, iria se dar mal.
Eu me lembro que o Estádio de Montevidéu não estava lotado, e nem poderia estar, já que não havia nenhum time uruguaio em campo. Como os torcedores ficaram do lado oposto ao que foi mostrado pelas câmeras de tevê, quem viu o jogo no Brasil ficou achando que o estádio estava vazio, mas não estava.
Nossa torcida foi em bom número para lá. Quando voltamos para o Rio, tivemos uma festa maravilhosa, uma das melhores que a torcida fez para aquela equipe. Como a gente decidiu só jogar bola, o jogo foi bem tranquilo.
Eu fiz um gol no primeiro tempo e outro no segundo. Eles não tiveram a menor chance. No fim teve aquele negócio do Anselmo, que entrou em campo só para dar um murro no Mario Soto.
Nós que estávamos em campo não sabíamos que ele faria aquilo, foi alguém de fora que mandou. Na hora todo mundo vibrou, mas hoje eu sei que aquilo não foi legal, não deveria ter acontecido, até porque prejudicou muito a carreira do Anselmo, que era um bom atacante.
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