1) Hino do Guassy (Distrito de Redençäo,reduto da Família Silveira)
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 Toda a Serrinha vibra agora alegremente
 Para exaltar o nosso grande benfeitor
 Pois foi Zé Teles que nos trouxe a luz da escola
 Que sabiamente Edisio Meira,nos legou
 Viva,Viva,Viva a nossa Escola
 Viva,Viva,Viva sem cessar
 Pois a bandeira que empunhamos da vitória
 Foi um direito que soubemos conquistar 
 A mocidade desta gleba agradecida
 Ao prefeito vem com júbilo dizer
 Que todo o povo de Guassi,com justo orgulho
 Há de seu nome para sempre exaltar....
 Fortaleza,13 de maio de 1958
 Autor: Fco.Acélis Silveira
2) C o n t r a s t e  (II)
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 Emudeceu a voz do seresteiro
 A musa fugiu,tudo parou
 E a lua que brilhava no terreiro
 O pobre seresteiro abandonou
 Hoje esquecido o velho violeiro
 À margem dos anais logo parou
 Cansado das serestas sem roteiro
 Que pela longa estrada ele espalhou
 Noites escuras,sem luar,sem nada
 Sem flores nos caminhos,sem jornada
 Sem música que alegre a solidäo
 E assim me vou por essa estrada
 Sem o brilhar da lua prateada
 Que animava os caminhos do sertäo.
 Fortaleza,13 de outubro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
3) O  M o n t e
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 Nunca fugiu-me da lembrança o monte
 Erguido aí,pertinho do Salgado
 Onde o cruzeiro lá foi colocado
 De braços estendidos no horizonte !
 Talvez nem haja quem mais tarde conte
 A sua história,o seu feliz passado
 Lá,meus amigos,o meu povo amado
 Subia se mirando cada fonte
 A mata virgem de sombrio acesso
 Por trás mostrava em busca do cabëço
 A trilha pela qual todos subiam
 Naquelas excursöes täo veteranas
 Nossos avós seguindo em caravanas
 Muitas vëzes por lá se divertiam
 Fortaleza,03 de outubro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
4) D e s g o s t o s 
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 Já nem contar eu posso a minha história
 Enfërmo que perdi minha saúde
 E que passei por esse golpe rude
 E agora vivo nesta triste inglória
 Pelo caminho ingrato da vanglória
 Näo conhecí o mal com que se ilude
 A humanidade .... e nem evitar pude
 Esta dor que me resta na memória
 Falsos enganos.... dolorosa vida !
 Triste existëncia amarga e dolorida
 Que me legou o traço do destino...
 Chorar nem posso os olhos já secaram
 Como os anos velozes que levaram
 As minhas alegrias de menino.
 Fortaleza,02 de outubro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
5) S o l i d ä o 
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 Ah ! se rever pudesse a minha terra
 De cristalinas fontes azuladas
 E o meu sertäo de louras madrugadas
 Lá bem distante do clamor da guerra
 Vë que paisagem na amplidäo descerra
 Que noites lindas täo enluaradas
 Que o bardo dedilhei pelas estradas
 Vagando assim nesse prazer da serra
 Aqui só vejo as luzes ofuscantes
 Sem o luzir das estrelas flamejantes
 Nem o prazer sequer de contemplá-las
 Hoje exilado abandonei o pinho
 Na solidäo sem par do meu cantinho
 Prisioneiro incrível destas salas...
 Fortaleza,25 de setembro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
6) D e s i l u s ä o   ( Ao meu filho: José Iramar Silveira )
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 Já vës meu filho,como o tempo passa
 E como assim te foge velozmente ?
 Inda täo pouco o teu pinho plangente
 Também vibrava ao canto dessa praça
 Hoje o teu carro para ir lá devassa
 Essa distancia longa e deprimente ...
 Näo vës de perto a serrania em frente
 Branca de lua ou límpida sem jaça ?
 Sem ver a terra que o meu ser abraça
 Hoje sem pinho vejo a mesma praça
 Que te recorda os dias do presente ...
 Teus afazeres hoje no escritório
 E eu sem saúde aguardo o meu velório
 Entre tristezas e saudade ardente .
 Fortaleza,18 de setembro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
7) Escultura Viva
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 Que beleza de nome !....Ó que ternura
 Jóia encontrada em meio aos madrigais
 Seus olhos säo flores em noite escura
 A iluminar vitrines de Cristais...
 Seu seio, a branca névoa que moldura
 As íntimas belezas corporais
 Como Estátua de Vënus na escultura
 Da mais linda mulher entre os mortais...
 E assim vou compará-la aos anjos,pois
 Essa beleza excelsa que Deus pös
 Neste universo imenso de grandeza
 Perdäo se o seu perfil näo bem tracei
 Na imagem da beleza que encontrei
 No que de lindo há mais na natureza.
 Fortaleza,10 de setembro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
8) Incompreensão OBS. ESSA FOI ENVIADA 4VEZES
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 Senhor,já não consigo entender nada
 Em meio ao vendaval da incompreensäo
 O amor náo basta nesta encruzilhada
 Para expressar em si,toda a afeiçäo
 Nem uma vida inteira dedicada
 Ao ser que amamos tem mais expressäo
 E neste enígma,pois,vë-se ceifada
 Toda a esperança de reconciliaçäo 
 Senhor,tu que pregaste esse evangelho
 De luz e de sublime caridade
 Faze que o möço compreenda o velho
 E que nas trevas brilhe a claridade
 Da tua estrela qual divino espelho
 Em que se mire a cega humanidade
 Fortaleza,29 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
9) S ú p l i c a
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 Por que me pedes minha jovem santa
 Um simples verso meu, täo mal fadado
 Se tens o mundo aos pés  ajoelhado ...
 E és rica e dona de nobreza tanta ?
 Täo bela assim,sequer nem botas banca
 Rica também,quem sabe o teu condado ?
 No entanto,pedes a um pobre coitado
 A musa empobrecida que ele canta !
 Ei-la,portanto,aqui trago-te flöres
 Dos madrigais que sonho entre os albores
 Do alvorecer de nossas esperanças
 Que sejas bem feliz entre os doutores
 Na plenitude azul dos teus amores
 Como ditosas säo todas as crianças.
 Fortaleza,21 de agosto de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
10) O  N e n e m
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 O pequenino enfërmo que aqui vejo
 Que chamam de Nenen, ëste o seu nome
 Vive aqui a fazer greve de fome
 Engolindo barata e percevejo
 Com ele ninguém brinque de gracejo
 Que o homem logo vira lobisomem
 Protestando de horror porque näo come
 Pois o que däo näo vale um caranguejo
 Nesse impasse aqui vive revoltado
 Este portátil ser humano achado
 No leito trës daqui desse hospital
 Nem o doutor lhe lembra com carinho
 Vocë näo pode,meu caro velhinho
 Encher o bucho de maneira tal.
 Fortaleza,21 de agosto de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
11) Nove de agosto
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 Meu Deus,hoje bem triste vou sair de casa
 Em busca da saúde no Hospital Geral
 Sentindo uma lembrança que cruel me arrassa
 Do meu doce cantinho,do meu pessoal
 Mas näo maldigo a sorte que cruel me abraça
 Se tenho por exemplo o Pai Celestial
 Que sob a cruz o sangue precioso vasa
 Pra nos livrar da culpa,do mundo infernal
 Por ele alcançarei os louros da vitória
 Que seja nesta vida ou lá na eterna glória
 De ter minha saúde ou recompensa igual
 Só sentirei da ausëncia a imensa realidade
 De aqui deixar meus filhos, cheio de saudade
 E a esposa com quem passo a vida desigual
 Fortaleza,09 de agosto de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
12) J e s u s
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 Esta luz que brilhou na minha vida
 Foi Jesus do Supremo Salvador
 É com ële que venço a dura lida
 E os espinhos de um mundo enganador
 É com ele que levo de vencida
 Toda a luta enfrentando o dissabor
 Näo fujo ao tédio e à luta mais renhida
 Nem temo ao medo,nem me curvo à dor
 Nesta fé redivivo e confiante
 Tenho esperança de levar avante
 Minha experiëncia agora combalida
 Senhor ! que me empolgas a confiança
 Comigo sustentai vossa aliança
 E renovai-me a preciosa vida
 Fortaleza,05 de agosto de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
13) Ao poeta do Sítio Arvoredo
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 Nessa bela vivenda em que tu moras
 Velho poeta,desfrutando a vida
 Orgulha-te de ti que jamais choras
 Devaneios como eu sem ter guarida
 Longe das plagas que também adoras
 Já que ambos somos dessa terra ungida
 De fontes claras,verdejantes floras
 Só eu náo tive a glória merecida
 De aí viver como o poeta vive
 Longe da guerra e da opulëncia livre
 De par,feliz com a natureza
 E assim maldigo o meu mesquinho fado
 De aqui viver nesse torräo frustrado
 Entre baröes...ricöes de Fortaleza...
 Fortaleza,05 de agosto de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
14) Ao  S a m u e l 
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 Dessa terra täo fértil,tu tens tudo
 O "Päo de cada dia",a água,a fruta
 Descanso e paz dessa cruel labuta
 Que muda os teus espinhos em veludo
 De täo fecundo solo a que me aludo
 Tens o bastante da tua disputa
 O milharal que brota em cada gruta
 E o rio a deslizar sereno e mudo
 Celeiro que produz e te abastece
 Manancial de viveres que cresce
 Nesse trabalho persistente e forte
 Ao prosseguir assim nessa Odisséia
 Que a cana....A do vale do Candéia
 Seja a Seara....Samuel da sorte !
Fortaleza,29 de julho de 1979
Autor: Fco.Acélis Silveira
15) O Girassol
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 No alvorecer da aurora incandescente
 Ao gorjeiar da passarada em festa
 Ali na paz que a natureza empresta
 Gravita um girassol...O astro luzente !
 Que sublime é se ver para o poente
 A grande flor voltar-se quase adestra
 Buscando o sol no rumo da floresta
 Ao declinar-se da tarde comovente.
 Que fenömeno divino nos parece
 O sublime mistério que oferece
 A secreta liçäo da natureza
 Que sábio algum ainda náo conhece
 O prodígio daquilo que parece
 Um pretexto da divina grandeza...
 Fortaleza,27 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
16) O m i s s ä o
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 Eu queria fugir à solidäo
 Desta vida que levo desolada
 Entre a espada e a cruz martirizado
 Desta sentença atroz sem remissäo
 Como um réu embrulhado do perdäo
 Entre quatro paredes confinado
 Vivo entäo desta forma atrocidado
 Por minha própria culpa de omissäo
 Por fim,sofrendo neste exílio tanto
 Trago os meus olhos úmidos de pranto
 Da dor desta tristeza que hoje sinto
 Prisioneiro de cada parede
 Por entre as quais armo minha rede
 Pra rotina esquecer deste recinto...
 Fortaleza,25 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
17) Minha   M ä e
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 Ó Mäe,doce Amazonas majestosa
 De imensa plenitude de beleza
 Manancial de amor e de grandeza
 De maternal carinho...täo bondosa
 Ó Mäe querida,Santa e generosa
 Hoje o teu dia empolga a natureza
 De seres Mäe ...tiveste a profundeza
 Dessa virtude Ó jóia valorosa
 Mäe que ensinaste a religiäo
 No evangelo da tua perfeiçäo
 Como um anjo de luz,anjo da paz
 Assim quero levar a mesma cruz
 Pelos mesmos caminhos de Jesus
 Para a glória alcançar dos Imortais !
 Fortaleza,12 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
18) Minha  Personalidade
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 Fui um pai que sonhei e vivo crendo
 No futuro de um mundo mais feliz
 Em cada filho vejo um sol nascendo
 Nesta aurora de paz que se bendiz
 Levei a vida assim,tudo esquecendo
 O ódio,o mal,talvez que alguém me quiz
 Para os desgostos que vivo sofrendo
 Tenho o perdäo do amor doce e feliz
 De fronte erguida, enfrento os meus problemas
 Sem saturar-me das desilusöes
 E sem fugir jamais dos meus dilemas
 E nesta fé que alenta as multidöes
 Vou prosseguindo ainda o meu esquema
 No sublime perdäo de ingratidöes !
 Fortaleza,10 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
19) G o r e t h e
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 Gorethe,Ó linda flor Jaguaribana
 Que a destra do destino moldurou
 Deu-te detalhes de beleza humana
 Sorriso santo que ela deslumbrou
 Gorethe essa beleza soberana
 Nenhuma jovem,pois,já te imitou...
 E dentre toda a criaçäo bacana
 Deus te fëz ...Ó celebre escultor
 Enfim tu és a perfeiçäo de um ser
 Nesse divino arcanjo que em ti vejo
 Que a mäo divina fez aparecer
 Teus olhos säo Sóis la no poente
 Um que ilumina o teu feliz viver
 Outro quer luz na solidäo da gente
 Fortaleza,08 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
20) R e e n c o n t r o   (Ao Prof.Rufino Silva)
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 Ó quantos anos eram decorridos
 Da nossa infäncia do primeiro amor
 Eis que entrevejo entre os jardins floridos
 Seu pequenino e lindo bangalö
 À entrada,haviam vários coloridos
 Portóes de ferro,flores em redor
 Só náo vi pois,entre os gradís fundidos
 O perpassar do meigo beija-flor...
 No triste anseio que arrastei comigo
 O coraçäo no peito bateu
 Como se alguém chorasse ali comigo
 Sentí que a vida um pouco me doeu
 Era a saudade o meu maior castigo
 De haver perdido tudo que era meu
 Fortaleza,07 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
21) O Quendenga
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 Vejo da serra onde o Quendengo nasce,
 Descer correndo a fluvial torrente
 Do antigo arröio,que cresceu veemente
 Levando espumas....quer por onde passe
 Ilhas formando num tremendo impasse
 O sinuoso córrego crescente
 A se tornar mais forte em cada enchente
 Que pelo leito estreito esvaziasse
 Debaixo a cachoeira estronda e geme
 E nësse impacto d'agua a terra treme
 Do bolício estridente da cascata
 Tal como aquela,mesmo assim fremente
 É nossa vida de saudade ardente
 Lá no poente da existëncia ingrata  !
 Fortaleza,05 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
 22) P a l m á c i a
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 Palmácia,pequenina ...Ó doce terra
 Rodeada de flöres e pomares
 Beijada pelas noite de luar
 Que enche de frio o coraçäo da serra
 Palmácia dos anais,longe da guerra
 Onde ainda existe a crença dos altares
 Palmácia dos engödos salutares
 Dos costumes feudais que ainda encerra
 Palmácia dos Queiroz antes chamada
 Hoje de asfalto e luz modernizada
 Vens alcançar as palmas do sucesso
 Palmácia dos meus sonhos e lembranças
 És dos teus filhos a grande esperança
 Nessa trilha marcante do Progresso !
 Fortaleza,04 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
23) E n f ë r m o
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 Poeta do martírio e da tristeza
 Guarda esse pranto que te orvalha os olhos
 Vamos sentir aqui nestes escolhos
 A contorçäo da dor e da incerteza
 Nestes extremos nao há mais grandezas
 Funde-se a vida nos mesmos escolhos
 Näo somos mais que pequeninos brolhos
 De humano ser da própria natureza
 Aqui se finda a humana vaidade
 A prepotëncia,o horror da iniquidade
 Para ceder ao bem que nos conduz
 E nësse rasgo augusto da lembrança
 Entrever-se o caminho da esperança
 Nos divinos momentos de  J e s u s !
 Fortaleza,04 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
24) I n f ä n c i a
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 Ó mocidade preciosa e bela
 Da qual me lembro,às vëzes,meditando
 Sonho em criança a brisa farfalhando
 No folharal da cana ...e do largo dela
 A casa grande e seu jardim de tela
 Dentro o coqueiro ao vento balançando
 Flöres de toda espécie ladeando
 A nossa vida cheia de aquarela
 Bem perto o murmurar da cachoeira
 O vendaval que sopra a noite inteira
 Na grimpa o verdejar do mangueiral
 Tudo me vem lembrar os tempos idos
 Dos paternais carinhos recebidos
 Nos áureoa tempos de colegial
 Fortaleza,02 de julho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
25) O  T e r t o 
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 Ëste moço que lida todo o dia
 Confeitando a mulher,dando-le graça
 Outra mais nobre profissäo abraça
 Na Faculdade de Filosofia
 Herói que brilha nessa Academia
 Para vencer a vida que devassa
 Esse Arante de espírito sem jaça
 Que é o nosso amigo Terto de hoje em dia
 Hoje o conheço e tenho a primazia
 De em seu nome falar com euforia
 Pelos rumos täo curtos que ële traça
 Para que toda a juventude um dia
 Possa também brilhar com galhardia
 Imitando ëste herói de grande raça !
 Fortaleza,29 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira  
26) No  H o s p i t a l
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 Nëste törpe silëncio que perdura
 Chego até crer que estou num triste exílio
 Sem ver a espösa,nem beijar um filho
 Na solidäo cruel que mais tortura
 A minha filha,o meu maior idílio
 E cuja ausëncia sofro essa amargura
 Nem sabe agora quanto me tortura
 O desalento do sofrer que trilho
 Dentro da noite dolorosa e escura
 Que magoa tanto,o coraçäo fervilho
 Sem ver os astros de saudoso brilho
 Nem do seu rosto aquela imagem pura
 E assim vivendo a sós neste empecílio
 E pensamentos cheios de amarguras
 A própria vida em si me afigura
 Como um fantasma neste domícilio
 Fortaleza,29 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
27) A u s e n t e s
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 Entre mim e entre ti que nos amamos
 Jamais pese uma dúvida na ausëncia
 Se vivemos distantes...paciëncia
 Que novamente após nos encontramos
 Náo pensemos nos dias que passamos
 Privados dessa doce convivëncia
 Que a distäncia é também uma carëncia
 De renovar os beijos que trocamos
 Sonhar contigo é ver na realidade
 O nosso mundo de felicidade
 Todas às vezes que chega a lembrança
 E assim felizes como no começo
 Nem tu me olvidas e nem eu te esqueço
 E o amor é sempre novo...outra esperança
 Fortaleza,27 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
28) Tia  N e n a
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 Nunca posso esquecer,ó minha Tia
 Os momentos mais doces da existëncia
 Eras bondosa toda...eras clemëncia
 E eras tudo de bom que nos sorria
 Sonho ver-te rezando noite e dia
 No interior da tua residëncia   
 Pois para mim tu tinhas a aparëncia
 Da mesma Santa a quem rezando eu via
 A tua ausëncia agora me entristece
 Pois que subiste no calor da prece
 De cá da terra para onde voaste...
 E hoje este vácuo mortuário vejo
 No meu cenário como o último lampëjo
 Desta lembrança atroz,que nos deixaste.
 Fortaleza,26 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
29) E n c o n t r o
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 Sentí,Senhor,de perto a vossa luz
 Brilhar desse poder divino e belo
 Ao debater-me no cruel duelo
 Entre a vida,a morte,a espada e a cruz
 Tinha o rosto sereno de Jesus
 Cabelo longo,castanho e amarelo
 Vestes brilhantes de um ramal singelo
 Que ante os meus olhos hoje ainda tranluz
 E por fim neste delírio santo
 Que vos senti próximo um tanto
 Do meu sofrer naquela hora chegada
 E como ser humano,nesse horror
 Pude entrever na Graça do Senhor
 Que me livrastes daquela encruzilhada
 Fortaleza,23 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira
30) À Serra de Baturité - Ce.
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 Ó minha serra de águas flamejantes
 De virgens matas e paisagem longa
 Longe o cantar vibrante da araponga
 Ao vendaval das tardes delirantes
 Dos açudais as linhas ondulantes
 Se espelham na miragem que se alonga
 Lamaçais onde canta o sapo-sunga
 Na noite a luz dos astros citinlantes
 Que quadro exótico nos vëm à lembrança
 Recordando os bons tempos de criança
 Na feliz transcorrëncia dos anais
 Hoje esquecida a serra decantada
 Da parentela agora abandonada
 À solidáo dos velhos mangueirais
 Fortaleza,20 de junho de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
31)  A r a c o i a b a 
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 Terra que amei,quanto dizer nem posso...
 Solo que vibra em sentimentos meus
 Hoje volto a te rever,pois gosto
 Dos teus rebentos e formosos céus...
 A pátria é grande...O teu torräo é nosso
 E os próprios mares cheios de escarcéis
 Aqui nasceram filhos meus que endosso
 No mesmo afeto como filhos teus.
 Aracoiaba,que ao soprar dos ventos
 Trazes saudades,trazes desalento
 Nesta saudoso e prolongado adeus...
 Amo-te os bosques,adoro-te os campos
 O pisca-pisca dos pirilampos 
 Luzes divinas que nos vëm de Deus !
 Aracoiaba,10 de maio de 1979
 Autor: Francisco Acélis Silveira 
32) Paixäo do Ítalo
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 Tal como a ave que retorna ao ninho
 Eis de regresso o Ítalo querido
 Mas solitário,triste,arrependido
 À procura de afeto e de carinho
 De lá voando como um passarinho
 Dessa tristeza humilde e contundido
 Se prosta aos pés do seu ente querido
 A lhe afagar as mäos bem de mansinho
 Filha,perdoa o meu cruel pecado
 Sei que mereço enfim ser castigado
 Porém daqui te imploro o teu perdäo
 Basta daquela angústia recalcada
 Recordando o cantinho da calçada
 Onde eu beijava,outrora a tua máo !
 Fortaleza,06 de abril de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira  
33) O Bobözinho (Márcio filho do Iramar)
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 Levaram-me o Bobözinho
 Deixando-me a solidäo
 E eu fiquei triste e sòzinho
 Sem alma nem coraçäo !
 Ó terra de Säo Francisco
 Guardai o Márcio feliz
 Que eu näo padeça com isso
 O que a desdita prediz...
 Fazei com que ele volte
 Que inda retorne pra nós
 Que o laço da vida o solte
 Que eu possa ouvir sua voz.
 Que esta dor táo atroz.....
 O transforme num gurí de sorte ! 
  Fortaleza,21 de março de 1979
  Autor: Fco.Acélis Silveira
34) Memórias
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 Meu prezado Zé Saldanha
 Teus feitos venho lembrar
 Tua glória repercute
 Dos Pampas ao Amapá
 Palmilhando aquelas zonas
 Deixaste pelo Amazonas
 As plagas do Ceará
 Chegando ao inferno verde
 Feito um pobre forasteiro
 Como honesto cearense
 Soubeste ganhar dinheiro
 Tendo um lugar de destaque
 Desde o Amazonas ao Acre
 De um Cidadäo Brasileiro.
 Fizeste muitos amigos
 Naquelas terras distantes
 Entre os bravos garimpeiros
 Explorando os Diamantes
 Em luta pela existëncia
 Lá fizeste a Independëncia
 Entre os outros emigrantes
 Saudoso da terra amada
 Regressaste à Gitirana
 Daqueles tempos felizes
 Da nossa vida bacana
 Onde na mesma casinha
 Se ouvia a voz da netinha
 Da Bela Paraibana
 Hoje naquele recanto
 Feliz a vida desfrutas
 Olhando o luar de agosto
 Sobre as colinas e grutas
 E as cousas boas do mundo
 Que lembram tanto o Segundo
 Nosso colega de lutas.  
 Fortaleza,03 de janeiro de 1979
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
35) Meus 70 Anos
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 Setenta primaveras,já se väo
 E assim contando eu vou meus curtos dias...
 Jardins sem flores,Impressöes vazias.
 Que enchem de tédio a minha solidäo !
 Aquëles brancos lírios da ilusäo
 Rolaram nas torrentes das orgias...
 E os madrigais das minhas fantasias
 Mais solitários cada vez,estäo !
 Hoje esta data passa às esquecidas
 Silëncio do meu quarto retraido
 Sem presente,sem festa,nem caricías... 
 E assim vejo passar nesta penumbra
 Como uma vaga e nebulosa sombra
 A minha triste data Natalícia !
 Fortaleza,07 de outubro de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
36)  No Hospital
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 Na solidäo sombria do hospital
 Passam-se as horas turvas desse dia
 E eu vendo o aspecto atroz dessa agonia
 Em cada rosto enfërmo de um mortal !
 Meu Deus,chamei aos céus ...que dor fatal
 Que só nos causa tanta nostalgia
 Se näo nos basta ver tanta ironia
 De um mundo impiedoso e desigual ?
 Por que padece tanto a minha Tia ?
 Que sempre ví rezando noite e dia...
 E o bem fazendo... e nunca,nunca o mal ?
 Em que consiste a dor que lhe angustia
 Desse sofrer de tanta ironia
 Que os céus tão surdos ...calam-se afinal ?
 Fortaleza,05 de outubro de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
37) À minha Tia
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 Se tuas preces lá no céu chegarem
 Cheio de Fé eu quero lhe pedir
 Bênçãos divinas que venham cair
 Em novas esperanças que brotarem...
 Que Deus se doa dos que aqui ficarem
 E os nossos rogos possam eclodir
 De onde as graças se venham renascer
 Das nossas preces para nos salvarem
 Que um lenitivo chegue aos nossos lares
 Para acalmar de vez todos pesares
 Que a tua ausëncia nos deixa a carpir 
 E os sofrimentos desta vida atroz
 Se nos abrandem com a tua voz
 Em cada prece tua que subir
 Fortaleza, 04 de outubro de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
38) Mäe
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 Sem ti, Ó Mäe... Bendito amor na vida
 Meu mundo entäo seria diferente
 O farfalhar da brisa,o céu luzente
 Nesta mansäo de estrelas coloridas
 Porque tu és,Ó doce flor querida
 A mäo que cicatriza a dor da gente
 Pois és o néctar que me adoça a mente
 Na íntima angústia d'alma dolorida ...
 Mäe, este dia é teu....grande e profundo !
 Quanto as cousas mais simples que há no mundo
 Para exprimir tanta real grandeza...
 Porque sem ti seria o lar vazio
 Jardim sem flores,sem calor nem frio
 O mundo que formou tua beleza
 Fortaleza,18 de maio de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
39) A Serra
 ======
 Vë quanto é linda e que beleza encerra
 A minha terra colorida e bela
 O céu de estrelas que lhe espelha a fronte
 E ao longe o monte perfilada nela
 Olha que vales,que bonita serra
 Longe da guerra nessa paz singela
 Viver com ela se banhando à ponte
 Vendo o horizonte limitar-se a Ela
 Que amor transpira o seu silëncio mudo
 O canto agudo da Araponga atönita
 Ao som da Harmönica,no terraço em festas
 Tudo relembra a parentela amiga
 Na casa antiga em noites de fogueira
 E a rotineira valsa da seresta.
 Fortaleza, 12 de maio de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
40) Serra Azul
 ========
 Sob o estrelar do céu que envolve a terra
 Deslumbra a Serra Azul da minha infäncia
 Lá eu nascí e aurí toda a fragäncia
 Dos campos colossais do Pé da Serra
 Que doce aroma,o vendaval descerra
 Daquëles bosques que vë-se à distäncia
 Lá onde cresce o pasto em abundäncia
 É onde a boiada escaramuça e berra
 Ressente ao vento,o cheiro da Melosa
 Que se mistura à languidez gostosa
 Do anoitecer nesse cair da tarde
 Tudo que relembra o meu sertäo brejeiro
 A voz dolente,o aböio do vaqueiro
 Que faz chorar às vezes de saudade !
 Fortaleza,11 de maio de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
41) Meu natalício
 ==========
 Minha gente venha ver
 Que belezinha que sou
 Todo mundo me adorando
 Vovòzinhas e Vovös
 Papai,Mamäe, As Ttitias
 E as priminhas,que alegria
 Como feliz eu estou.
 Todos vëm abrilhantar
  Meu primeiro aniversário
  Meu berço está um cenário
  Faz gosto de visitar.
  Näo sou mesmo bonitinho ?
  Bem gordo,bem sabidinho
  Prá todo mundo cheirar ?
 Nesta data venturosa
 Trazem-me flores e rosas
 Presentes para me dar
 Näo vou dizer: sou da laia
 Dos Diógenes de Caucaia
 Ninguém venha me amolar.
 Fortaleza,11 de maio de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
42) Engano
 ======
 Era uma vëz uma árvore que dava
 Frutos divinos,frutos de doçura
 Essa gentil e humana criatura
 Que santamente a gente imaginava
 Um dia o sol mudou quando raiava
 E aquela imagem retornou escura
 A árvore morreu...Triste lizura
 Ficou daquilo que a gente pensava...
 Hoje repiso o tal pomar sem frutos
 As pedras töscas,os caminhos brutos
 Que näo a estrada que suponha a gente...
 E eu recalcado das ingratidöes
 Deixei de crer em Santos Coraçöes
 Que näo de Lobos,exclusivamente !
 Fortaleza,22 de março de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
43) Natália
 ======
 Eras criança, ao mesmo tempo eu era.
 Nós dois gozando mil venturas,pois
 Corría o tempo a cada primavera
 E assim chegamos à velhice,Os dois !
 Longe mais tarde nunca mais pudera
 Sonhar contigo ou te encontrar depois
 E assim passando numa longa espera
 Nunca que frente a frente o bem nos pös
 Vë bem,Natália,que mudança atroz
 Fiquei perdido neste exílio extenso
 E nunca mais que ouví a tua voz
 Vë que contraste tornou-me a paz
 Näo mais te vi,só padecendo a sós
 E tu supondo eu náo amar-te mais  !
 Fortaleza, 01 de janeiro de 1978
 Autor: Fco.Acélis Silveira
44) Treze de Dezembro (90 anos do Tio Batéia)
 ============== =================
 Ao decorrer festivo desta magna data
 Noventa primaveras o senhor completa
 De amigos e parentes a casa repleta
 E a gente a recordar esta saudade grata...
 Relembro aquelas noites,o luar de prata
 Banhando o mangueiral e a sala predileta
 Onde o senhor gostava de jogar suéca
 A brisa a farfalhar no folharal da mata !
 As noites de Säo Joäo,ao claro das fogueiras
 Os Judas,corriqueiros e outras brincadeiras
 Das festas animadas que o senhor fazia
 Enfim,tudo de bom que lembra o Tio Batéia
 Pelos anais afora cheios de Epopéia ...
 E as noites de novena do mës de Maria !
 Fortaleza,15 de dezembro de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
45) A Redençäo
 =========
 Heróica Redençäo que já passaste à História
 Banindo do teu solo o cativeiro injusto
 Sob este céu azul que te retrata a glória
 Reluz o teu cruzeiro soberano e augusto
 Teu feito varonil perdura na memória
 Como um troféu da Pátria,uma Atalaia adusta
 Marcando hoje este dia que galgaste a custo
 Dos brios e dos feitos da tua vitória
 Rosal da liberdade...Aurora do progresso
 Vanguarda do Brasil a prosseguir no acesso
 Aos páramos da glória que já conquistastes
 Formosa Redençäo que impávida dormitas
 Ao pé das majestosas serras táo bonitas
 Repousa ao eclodir dos feitos que sonhastes. 
 Redençäo, 06 de dezembro de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira
46) À Tia Natalina
 ==========
 Bondosa mäe que foste em tempos ídos
 Amparo e luz de uma família honrada
 Soubeste assim criá-la,irmäos unidos
 No estreito laço maternal formada ...
 Assim se foram täo feliz vividos
 Aqueles tempos..,Era abençoada
 Os teus rebentos desse amor ungidos
 E tu daqueles... essa mäe beijada
 Logo,porém cerraste um dia os olhos
 Deixando a tua Prole,nos encolhos
 Da vida amargurada em que ficaram
 E nesse barco náufrago singrando
 Hoje os problemas da vida enfrentando
 Do mesmo modo que os seus pais levaram.
 Riachäo, 06 de dezembro de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira
47) Recordaçäo da Serra
 ================
 Noites de inverno,noites sem estrëlas
 Que lembram tanto a minha solidäo
 A fria serra,aquelas cousas belas
 O vento a murmurrar no boqueiräo
 As cheias do riacho,o estrondo delas
 Rolando para o fundo do poräo
 Tudo relembra as lindas aquarelas
 Da paisagem legal do meu torräo
 Doce expirar dos tempos já passados
 A lua pela estrada derramando
 Por sobre a areia dos raios dourados
 Sonhar revendo aquilo e relembrando
 A minha gente,os meus antepassados
 E despertar depois quase chorando.
 Fortaleza,18 de novembro de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
48) Dia das Mäes
 ===========
 Amor de minha mäe mais doce do que tudo
 Maior que o pensamento,imenso como a vida
 É tudo possuir-te,Ó Santa Mäe querida
 De tudo,és a razäo de ser do que me aludes
 Na infäncia vigiavas-me no silëncio mudo
 Das noites friolentas dando-me guarida
 E o rosto me afagavas täo compadecida
 Com tuas mäos macias de veludo
 Mäe,destes dias santos da existëncia
 Espelho de ternura e santa paciëncia
 Bendigo-te,afinal, no fundo do meu coraçäo
 E sendo hoje o teu dia,venerado seja
 No altar de cada filho desta igreja
 Que edificamos juntos para te acolher.
 Fortaleza, 10 de maio de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira
49) Amor
 =====
 Amor,doce esperança que sonhamos
 Saudade amarga,pois que nos faz bem
 Amor,supremo enlëvo que almejamos
 Amor,sublime anseio que se tem...
 Amor,tudo de bom que imaginamos
 Sequëncia de paixäo que enfim nos vem
 Amor,secreta angústia que choramos
 Na dolorosa ausëncia desse alguém !
 Amor, doce veneno que tortura ...
 Rosal de sonhos feito de saudade
 Doce alegria cheia de loucura
 Amor,secreto idílio,ansiedade
 Martírio santo que nos traz,ventura
 Recordaçäo feliz da mocidade ...
 Fortaleza, 07 de maio de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
50) Contraste
 =======
 Se fores a serra ver os laranjais
 Frondosas matas näo verás,mais lá...
 Só nuas terras sem mais cafezais
 Sem sombra alguma,sem um pé de ingá
 Lá näo se encontra um bálsamo jamais
 Nem um Pau d'arco,nem um Piorá
 Massarandubas de hastes colossais
 Näo mais existem Freijorges lá 
 Que pena ver a minha serra amada
 As pontes secas e a erosäo levando
 O sangue-adubo que rola pra entrada
 Que triste é vë-la pobre assim ficando
 Filhos mirrados,sem päo nem morada
 E os seus patröes nas Capitais,morando...
 Fortaleza,24 de março de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
51) Ao visitante
 =========
 Se um dia alguém vier à minha terra
 Ver as tardes de sol que sempre faz
 Verá nos campos que beleza encerra
 A flora destes bosques tropicais
 E se daqui for conhecer a serra
 Branca de flores só dos cafezais
 Que náo dirá também longe da guerra
 Dos encantos dos nossos madrigais ?
 Como em  Säo Paulo,näo veräo riqueza
 Nem tanta indústria e prédios colossais
 Pois nosso Estado,só tem mais pobreza...
 Mas entre as simples cousas naturais
 Tem essa noites claras de turqueza
 E o céu azul de estrëlas cristais...
 Fortaleza,12 de março de 1977
 Autor: Fco.Acélis Silveira    
52) Ao Edmilson Medeiros
 =================
 Volta Edmilson ao teu solar que chora
 Olha esta casa vaga,qu' inda é tua
 Vë que tristeza o mangueiral sem lua
 E em torno dële a solidäo que mora
 Olha o cair do sol que nesta hora
 Tudo entristece e a noite tumultua
 Como a lembrança é dolorosa e crua
 De ti que partes nos deixando agora
 Volta aos teus filhos,que uma esposa espera
 Desfaz-lhe a angústia que alma dilacera
 Nessa partida para a eternidade...
 Pois todos choram tua ausëncia ingrata
 Revendo cada cousa que retrata
 Tua presença que deixou saudade.
 Serrinha,26 de julho de 1976
 Autor: Fco.Acélis Silveira  
53) Luis Gonzaga - 
 ===========
 Eis o poeta que na musa canta
 A sua serra alegre e prazenteira
 E nesse afä de luta a roça planta
 E tem no sítio a cana açucareira
 Da praça náo inveja a glória tanta
 Sua lida é melhor que outra carreira
 A fruta colhe quando o sol levanta
 E toda a safra vai vender na feira
 Que bom viver com essa natureza
 Que tudo cria e dá com abundäncia
 A paz dos campos,flöres e beleza... 
 Fazer seus versos nessa consonäncia
 Entre os pomares que lhe däo riqueza
 Entre os jardins de original fragäncia...
 Fortaleza,30 de junho de 1976
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
54) Ao Luis Gonzaga Silveira 
 ===================
 Vë lá,poeta,as serras decantadas
 Sem mais aquela natural beleza
 E lá do cimo,vë quanta tristeza
 Ao murmurar do vento nas quebradas
 Hoje por longa estrada recortada
 A lhe sugarem,pois toda a riqueza
 Desnudas,ei-las quase na pobreza
 Sem cafezais,as matas derrubadas 
 Contra a erosäo da terra o povo luta
 Na rotineira e rústica labuta 
 Para remí-la dessa atroz derrota
 Vë como é forte a nossa heróica raça
 Que náo se queda à luta que embaraça
 Nessa tragédia insana e táo remota !
 Fortaleza,30 de maio de 1976
 Autor Fco.Acélis Silveira
55) A Pedra Aguda
 ============
 Lendária,imóvel na amplidäo desnuda
 E aos céus erguida soberana e bela,
 Vë-se de longe a Excelsa Pedra Aguda
 A sertaneja e brava Sentinela !
 Petrificada alí,serena e muda
 Como Atalaia sertaneja vela....
 De calva fronte,lívida e sizuda
 A perfilar-se sobre o busto dela !
 Em meio aos temporais cobre-lhe a fronte
 De noiva ricamente engrinaldada
 A névoa congelada do horizonte 
 E ve-se após quando o luar desfralda
 A silhueta do soberbo monte
 Transparecendo aquela enorme calda...
 Aracoiaba,15 de agosto de 1975
 Autor: Fco.Acélis Silveira
56) Tudo passou 
 ==========
 Passou a vida,a onda carregou
 Os madrigais,as flores e manchetes
 Foram-se os tempos...nunca mais voltou
 O sonho azul das festas e os confetes...
 A vida colorida que restou
 Näo tem mais o brilho,nem os foguetes
 Das noites de Säo Joäo...tudo mudou
 Nas pompas dos salöes e dos banquetes
 Hoje entrevejo o mundo diferente
 Descolorido e triste em desalento
 Sem as quadrilhas mais de antigamente
 Tudo rolou nas aerosöes do tempo
 Tudo de bom que já fugiu da gente
 Ao lapso deste idílio do momento....
 Fortaleza,15 de junho de 1975
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
57) Insönia
 ======
 Ouço o bater do meu portäo lá fora
 Numa ansiosa espera a cada filho
 E nesta luta insana me ensarilho
 Entre os martírios da cruel demora...
 Cada minuto do avançar da hora
 Que ninguém chega ao meu birö fervilho,
 Fito as estrëlas lá no céu sem brilho
 E nesta insönia a ausëncia me apavora
 Chega o primeiro,após mais outro deles,
 Outro e mais outro,que a velar por eles
 Fico esperando até o derradeiro
 E assim banido dos mortais cansaços
 Väo se estampando no meu rosto traços
 Daquela angústia atrás sem paradeiro...
 Fortaleza,13 de junho de 1975
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
58) Recordação das Lages
 =================
 Oh ! quem näo gosta de rever a serra
 Nesta invernada longa e persistente
 A cachoeira a estremecer plangente
 Como um constante retroar de guerra
 Quanta lembrança o mangueiral encerra
 Sonhando a infäncia täo feliz da gente
 Tenho saudade do meu povo ausente
 Que näo se encontra mais por cá,na terra
 Hoje relembro em tristes desenganos
 A casa onde eu morei tão longos anos
 No transcorrer da minha mocidade
 Mas,entretanto,o que mais me entristece
 É no poente ver como anoitece
 A minha vida plena de saudade
 Fortaleza,21 de abril de 1975
 Autor: Francisco Acélis Silveira
59) Relembranças
 ===========
 Como é lindo viver,sonhar contigo
 E andar feliz na minha displicëncia...
 Ouvir estrelas e ter audiëncia
 Com todas elas quando estäo comigo
 Quando me encontro à noite em desabrigo
 Que elas me acolhem nessa incoerëncia
 Clareiam-me os caminhos da existëncia
 E trazem-me afinal,seu beijo amigo....
 Amo as estrëlas pelo céu perdidas
 Nas madrugadas frias,doloridas
 Do mës de junho,lá no meu sertäo 
 Quando sentado em roda das fogueiras
 A gente exibe aquelas brincadeiras
 Das animadas noites de Säo Joäo !
 Fortaleza,02 de fevereiro de 1975
 Autor: Fco.Acélis Silveira
60) Inédito (Ao Prof.Rufino Silva)
 =====================
 Que importa a derrota,o mal que me desejam
 A sórdida traiçäo dos que me querem mal
 Se em meio a essa tragédia os lábios teus me beijam
 Na escuridäo da noite,ao frio vendaval ? 
 Que me importa o ladrar dos cäes que nos farejam
 À luz dos pirilampos deste lamaçal
 Só quero que as estrelas que no céu lampejam
 Pressintam como é belo o nosso madrigal...
 Que alguém tenha nos vistos pelo bairro afora
 Sem lua,nem estrelas,nessa escuridäo
 Que importa,que até mesmo fössemos embora ?
 Pois,hoje,a nossa vida continua...
 Em meio as tempestades que passando väo
 Por esse mar de escolhos sobre o qual flutuas...
 Aracoiaba,15 de janeiro de 1975  
 61) A minha filha Delma
 ===============
 Terás saudade,um dia,Oh minha filha,
 Quando vires que náo vivo mais
 Que o verde lödo me apagou a trilha
 E a sepultura os meus restos mortais
 Minha memória,sei que já näo brilha
 Pobre que sou sem áureos cabedais
 Do que te deixo apenas náo te humilha
 É esse diploma que com ele estais
 Eis o presente que já pude dar-te
 Para que nunca alguém possa roubar-te
 O pequeno tesouro que ofertei
 Perdäo,se jóias näo tiveste ainda
 Pois acho a glória do saber mais linda
 Que os diamantes que nunca te dei...
 Fortaleza,07 de julho de 1974
 Autor: Fco.Acélis Silveira
62) Meu sertäo
 =========
 Vejam colegas,que beleza encerra
 A minha terra,o meu feliz torräo !
 No campo o gado que pastando berra
 Longe da guerra,neste alto sertäo...
 Vem que bosques,que frondosas matas
 Lindas cascatas e torrentes mil
 Que noites claras,lembram serenatas
 E as cousas gratas deste meu Brasil
 Vejam nas flores que paisagem bela
 Linda aquarela do romper da aurora
 E a nossa choça,lá no meio bela
 Lá em redor a passarada mora
 Na verde flora colossal singela
 Em meio a solidäo que a gente adora
 Fortaleza,12 de maio de 1973
 Autor: Francisco Acélis Silveira
63) À Iraci
 =====
 Por que te foste,ó meu amor,se a vida
Junto a ti era doce e alegre fado ?
 Espera Santa Máe estremecida
 Teu lar agora é triste e desolado
 Eras ternura,afeto,eras guarida
 Pra todos que viviam ao teu lado
 Até a hora fatal da despedida
 Tu mostraste este amor desesperado
 Ah !  se soubesses como sofro tanto
 E quanto é doloroso este meu pranto
 Por ver nossas filhinhas na orfandade...
 Tu pedirias ao autor da morte
 Prá que ninguém tivesse a minha sorte
 E nem sentisse a dor da saudade ...
 Aracoiaba,03 de março de 1970
 Autor: Francisco Acélis Silveira  
64) Ao Colégio Säo Luis - Pacotí Ce.
 ========================
 Revejo ainda o casaräo antigo
 Dos meus anais do velho Säo Luís
 O mesmo aspecto jovial amigo
 Que me acolheu nos tempos puerís
 E aquela sala de aula que bendigo
 Sentindo a luz do seu rosal feliz
 Lá encontrando o carinhoso abrigo
 Foi que estudei e quarta série fiz
 Logo na entrada era a diretoria
 Onde constantemente preocupado
 O padre Lima,lá sentado eu via
 O Dr.Jaime,o Joäo de Pinho e assim
 A turma inteira do professorado
 Desde o Atanásio,ao Zé Negreiro,enfim.
 Fortaleza,23 de julho de 1969
 Autor: Francisco Acélis Silveira 
65) Ausëncia
=======
Longe de ti se a vida náo me fosse
O pesadelo da desilusäo,
Eu guardaria aquele amor táo doce
Como um tesouro de recordaçäo...
Grata saudade ao meu viver juntou-se
E hoje acompanha a minha solidäo
Feliz martírio que a esperança trouxe
A cada instante de separaçäo !  ...
Quanto mais longe,é mais a vida um sonho
A recordar no meu viver tristonho
Que nunca a gente deixa de sofrer ....
Longe de alguém que mais a gente ama
Para avivar no coraçäo a chama
Desta saudade atroz que é morrer 
Acarape, 08 de novembro de 1964 
66) O enfermeiro
Inspirado na lei da caridade
Sempre vejo este nobre companheiro
A cuidar dos irmáos como enfermeiro
Neste mundo sem crença nem piedade
Mitigando o sofrer da humanidade
Desta virtude é sempre um pioneiro
Desprezando os idílios do dinheiro
Pelo evangelo da fraternidade
E assim vive o bom homem que conheço
Na modesta pobreza do seu berço
Dedicando à bendita profissáo
Sem maldizer seu lado de plebeu...
E eu contemplo esse grande Cirineu
Na grandeza do  imenso coraçäo
Acarape, 07 de novembro de 1963
Autor: Francisco Acélis Silveira 
67) Pombo Correio
===========
Vai meu pombinho,pelo céu sereno
Lança o teu vöo em busca do infinito
E leva esta mensagem que transmito
Àquela a quem amei desde pequeno
...  
Lá onde vires outro lar ameno
É pois, aí,o seu solar bendito
Diz-lhe portanto,o meu viver proscrito
É de desgosto eternamente pleno;
Chega-te,um pouco e diz-lhe bem ao ouvido
O quanto tenho por aqui sofrido
Por causa dela nesta soleidade;
E que se ainda houver um lenitivo
Que me liberte o coraçäo cativo
Antes que eu morra de cruel saudade
Aracoiaba,06 de junho de 1960
Autor: Francisco Acelis Silveira   
68) Ao Deninson
 ==========
 Vem,minha gente,ver que lar festivo
 Que está täo lindo e feito um doce ninho,
 De longe escuto a voz do Bobozinho,
 Já täo sabido,sorridente e vivo !
 Quando me encontro às vezes pensativo,
 Volto ao seu rancho feito de carinho
 E logo ao ver-me solta o seu gritinho
 Que me desfaz do lance cansativo
 Hoje que data o seu aniversário
 Vou desfolhando logo o calendário
 Com tal desvelo e delicado afeto...
  E neste enlëvo que me prende a um laço
  Corro bem cedo para dar o abraço
  No meu querido e inesquecido Neto.  
  Fortaleza,01 de janeiro de 1971
  Autor: Fco.Acélis Silveira
69) O Colibrí
 =======
 Todas as tardes por aqui vagueia
 Um pequenino e meigo beija-flor
 Que náo tem ninho,nem também gorjeia
 Sem companheiro e näo possui amor...
 Arisco,sempre por aqui rodeia
 Beijando uma por uma,cada flor
 E quando alguém se chega,ele volteia
 Foge,ou se esconde,cheio de temor
 Mas,ai da gente,aqui,na solidäo,
 Se náo voltasse mais aos roseirais
 O beija-flor feliz desta pensäo...
 A nossa vida sem beleza e paz
 Näo mais teria aquela vibraçäo
 Dos tempos idos que näo voltam mais...
 Acarape,04 de abril de 1970
 Autor: Fco.Acélis Silveira 
70) Os tempos
 =========
 Antigamente náo havia locomorve
 Nem vapor,nem artomorve
 Nem Jeep,nem caminháo
 Aeroplano,isso náo havia
 E rádio nem existia
 Nem também televisáo
 Ninguém falava no valor da medicina
 Nem na tal penicilina
 Dessas novas invençäo
 Hoje tem bomba,foguete teleguiado
 Väo a lua disparado
 Na fumaça da explosäo
 Näo mais se escreve com H nem Y
 Só se fala em telefone
 Nesses tempos de eleiçäo
 Atrás do voto
 Vem um sujeito letrado
 Que mode ser deputado
 Diz qui é fio do sertáo
 Aracoiaba,14 de março de 1970 
 Autor: Francisco Acélis Silveira
71) TESTAMENTO DO JUDAS EM ARACOIABA 
 Autor: Francisco Acelis Silveira 
SOU JUDAS SCARIOTES 
TRAIDOR DAQUELE TEMPO 
MEU NOME FICOU NA HISTORIA 
DESDE O NOVO TESTAMENTO 
VIM HOJE REENCARNADO 
PARA MORRER ENFORCADO 
AO LADO DO CHICO BENTO 
ANTES, PORÉM MEUS AMIGOS 
DESTA MORTE MALSINADA 
VOU DEIXAR OS MEUS HERDEIROS 
NUMA VIDA MAIS FOLGADA 
SENDO DR. SALOMÃO 
O PROPRIO TABELIÃO 
DESTA PARTILHA ENRASCADA 
NO CARTORIO DO ADONAI 
REGISTREI MEU TESTAMENTO 
CADA ALUNO DO GINÁSIO 
COM DIREITO AO SEU PROVENTO 
POIS TODOS SERÃO HERDEIROS 
DAQUELE S TRINTA DINHEIROS 
DO MEU EMPREENDIMENTO. 
DEIXO-TE CARO PAULINO, 
FILHO DO NECO MARTINS 
O PALITÓ DO TEBEGIO 
QUE VAI BATER NOS CONFINS 
SE TU JÁ FOSSES CASADO 
DAVA PRA SER RETALHADO 
PRAS ROUPAS DOS CURUMINS 
E PARA A TURMA DO CONJUNTO 
NEM, TOME E DUSDETH 
CAMBEBA E ZE IRAMAR 
NÃO ESQUECI DE VOCES 
VOU DEIXAR COM O SALOMÃO 
MINHA GUITARRA E O VILÃO 
PRA TOCAR MAIS UMA VEZ.. 
E PRA GERCINA SPICULITE 
QUE TEM A TESTA DE CARNEIRO 
DEIXO PRA ELA DE HERANÇA 
A BOLSA DO MEU DINHEIRO 
É FAVOR NÃO ME ESQUEÇER 
E PARAR DE BLASFEMAR, 
LÁ NA PORTA DO BANHEIRO
CARLOS BLEMAR ME ENVIOU ATRAVÉS DE E-MAIL 
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