Fortaleza. Primeira grande obra voltada para o enfrentamento da seca, construída ainda no Segundo Império do Brasil, o Açude do Cedro, inserido nos monólitos do Sertão Central, é um dos seis bens culturais que foram incluídos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na Lista Indicativa Brasileira do Patrimônio Mundial, em 2015.
Com isso, poderão ser futuramente apresentados ao Comitê do Patrimônio Mundial para serem avaliados e receberem o título de Patrimônio Mundial. Além da barragem instalada em Quixadá, as outras indicações são os Geoglifos do Acre (AC), Teatros da Amazônia (AM, PA), Itacoatiaras do Rio Ingá (PB), Sítio Roberto Burle Marx (RJ) e o Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN).
A indicação surgiu a partir de solicitação do Governo Brasileiro, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na última atualização da Lista Indicativa pela Unesco, em 2014, três bens culturais brasileiros foram incluídos, juntamente com outros, totalizando 18 bens naturais e culturais: Cais do Valongo (Rio de Janeiro/RJ), a Vila Ferroviária de Paranapiacaba (Santo André/SP) e o Ver-o-Peso (Belém/PA).
Agora a Lista Indicativa brasileira consta de 24 bens no total. Instalado em meio ao conjunto de monólitos de Quixadá, onde se destaca a rocha conhecida a "Pedra da Galinha Choca", o Cedro foi uma reação do Governo Imperial para a forte seca que ocorreu entre 1877 e 1879.
Consta que dom Pedro II declarou, à época, que venderia "até a pedra da coroa" para minorar o sofrimento das vítimas do flagelo que abateu o Ceará naqueles três anos. No entanto, a construção da barragem somente se deu a partir de 1890, com um projeto do engenheiro britânico Jules Jean Ruy, sendo inaugurado em 1906, ou seja 16 a nos após o início das obras.
Não obstante sua vasta dimensão, sendo o sétimo reservatório em todo o Estado, os períodos de sangria estão cada vez mais remotos. A capacidade total de 126 milhões de metros cúbicos é considerada como um dos fatores para que as precipitações não sejam suficientes para dar carga suficiente até levar as águas ao sangradouro.
O superdimensionamento e a construção de outros reservatórios na bacia hidrográfica, com o destaque para o leito do Rio Sitiá, se somaram à construção de outras barragens necessárias para atender às demandas. Um dos mais próximos é o Banabuiú, que supre em parte as necessidades hídricas dos municípios do entorno.
Beleza
Difícil não reconhecer o fascínio que o açude exerce para aqueles que o conhecem. O grande espelho d'água contornado pelo conjunto de rochas é deslumbrante. Não menos chegam a ser as grades de ferro que compõem a varanda, sobre a barragem principal. O material foi importado da Inglaterra e a cerâmica importada de Portugal.
Segundo o site do Iphan, "a Barragem do Cedro, com sua parede em arco de alvenaria de pedra, foi a primeira grande obra hidráulica moderna do continente sul-americano e uma das pioneiras obras do seu tipo e do seu porte no mundo. Para além de sua funcionalidade de represamento d'água para irrigação, sua implantação, seu desenho e seu esmero de execução resultaram numa paisagem de beleza ímpar, combinando arrojo e elegância".
Não obstante suas belezas naturais e artísticas, o local tem sido alvo, não apenas da poluição de suas águas, mas do assoreamento. As varandas de ferro são frequentemente atacadas pelos vândalos e o poder público tem assistido, sem muita reação, o pânico se instalar na área, em vista do perigo que marginais oferecem para os visitantes e até mesmo moradores do município ou cidades vizinhas.
A Lista Indicativa funciona como um instrumento de planejamento de preparação de candidaturas, assemelhando-se a um inventário e é composta pela indicação de bens apresentados pelos países que ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco. Essa iniciativa enseja a participação de gestores de sítios, autoridades, comunidades locais, ONGs e outros interessados na preservação do patrimônio cultural e natural do País.
Marcus Peixoto
Repórter
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Fonte: DN
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