Dezembro costuma ser um mês diferente.
Algumas pessoas ficam particularmente felizes, mas um grupo maior fica triste e outro ainda se sente profundamente deprimido. É o período do ano em que há maior incidência desse estado terrível, no qual as pessoas veem tudo negro, perdem as forças físicas e também as
esperanças.
Esse sentimento pode ter várias causas. A mais comum é a sensação de desamparo e abandono que muitos experimentam.
Pessoas com a vida sentimental mal resolvida sentem até alguma
inveja daqueles que vivem em família, ainda têm os pais vivos, inúmeros irmãos e primos. É claro que a inveja nem sempre está justificada, pois a maior parte daqueles que têm o convívio familiar mais estreito padece de inúmeras situações de rivalidade, disputa e conflito.
A sensação ainda pode se inverter, por exemplo, no período que antecede o carnaval. Nessa fase, as pessoas menos comprometidas com vínculos sólidos irão se divertir mais. Em dezembro todo o mundo quer estar casado; em fevereiro, solteiro!
Uma outra causa de depressão, típica desta época, tem a ver com a tendência de a maior parte das pessoas aproveitar a passagem do ano para fazer um
balanço de suas vidas. Não deixa de ser razoável e útil pararmos, de tempos em tempos, para realizar uma revisão de como temos nos colocado diante dos desafios da existência.
Processo similar costuma ocorrer nos dias que antecedem o aniversário, especialmente aqueles que encerram mais uma década de existência. Fazer 30, 40, 50 ou 60 anos nos impõe uma auto avaliação, cujo resultado nem sempre nos aparece como muito agradável.
Em dezembro, costumamos vivenciar a tristeza própria de não termos atingido todos os objetivos, de estarmos aquém dos nossos sonhos e expectativas. Mas a maior parte das pessoas faz esse balanço de vida de uma forma pouco criteriosa.
Muitas se deprimem mais do que deveriam, porque erram na “contabilidade emocional”. Por exemplo: se uma
pessoa obesa fez, no início do ano, um projeto de perder 20 quilos durante 2014 e chega em dezembro com 10 quilos a menos, poderá ficar triste. Acredito que ela não tenha razões para isso.
Nossos sonhos e planos são as nossas metas: costumamos elaborá-los no início de cada período e a eles nos dedicarmos com algum afinco. Porém, raramente conseguimos realizá-los plenamente, porque nossa capacidade para imaginar será sempre maior do que a de realizar.
É o sonho que nos impulsiona. O importante é que tenhamos conseguido algum avanço, que tenhamos a sensação de que nossa vida evoluiu. As coisas que não foram atingidas continuarão na nossa agenda para o ano que virá, junto com nossas outras expectativas.
Triste mesmo é quando as pessoas constatam que, ano após ano, estão no mesmo lugar. E vejam bem: estou me referindo muito menos aos projetos práticos e materiais do que aos avanços íntimos e espirituais.
Às vezes, penso que o grande sentido da vida é conseguirmos sair da Terra, 70 ou 80 anos depois de termos chegado, um pouco mais bem
resolvidos interiormente. É termos sido competentes para dominar nossas disposições agressivas, aprendido a lidar melhor com frustrações e dores de todo tipo, desenvolvido a persistência, nos tornado mais corajosos para fazer com que nossos sonhos se realizem. Enfim, é termos sido capazes de ter olhado interiormente, a ponto de nos tornarmos mais independentes do julgamento das outras pessoas.
E, nesse setor da vida interior, os avanços são muito lentos e difíceis. Qualquer progresso mínimo já deve ser motivo de grande alegria e de sonoras comemorações.
Desejo a todos vocês que, em dezembro de 2016, estejam com o coração cheio de orgulho e de contentamento pelo que puderam fazer por si mesmos e pelos outros no ano que irá começar.
Não há dinheiro ou coisa material que se iguale, em termos de satisfação, a esse tipo de
sensação interior!
Flávio Gikovate
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