Foto: Cortesia/Whatsapp |
O aniversário de 99 anos de dona Altair Magalhães de Almeida foi o mais incrível até agora nesses tempos de coronavírus. Confinada, da janela da casa onde mora, no edifício Mar de Antilhas, bairro das Graças, no Recife, viu netos, filhos, vizinhos e desconhecidos cantarem o parabéns para você festivo e feliz, como é dona Altair. Houve uma grande mobilização para a surpresa. Muitos, nas suas próprias casas, fizeram seus bolos e comeram isoladamente, pensando na saúde de dona Altair. Pela manhã, uma torta alemã havia sido enviada para ela para este momento. Uma homenagem e alguns minutos de comoção coletiva na tarde deste sábado. Um dos admiradores de dona Altair gritou: “Força, foco e fé”. Foi aplaudido. “Fiquei muito feliz e emocionada”, confessou ela, logo após a inusitada festa da varanda.
Dona Altair é apaixonada por marchinhas de carnaval e foi quando os versos de música “Madeira que Cupim não Rói” ecoaram que todo mundo se emocionou mais. “E dizer bem alto que a injustiça dói/ Nós somos madeira de lei que cupim não rói”. Parecia uma homenagem justa a quem nasceu poucos anos depois do fim da guerra e nunca viu nada parecido como esta pandemia. Palavra que cada um tomou para si. Os embalos de “Bandeira Branca” também foram ouvidos. Ela ama marchinhas de carnaval - amigos, passeios, boa conversa, viagens e o movimento do entra-e-sai das crianças e dos oito filhos. Tudo o que ela está impedida de fazer agora.
Das varandas, as palavras eram de incentivo a uma mulher, uma idosa, que, como tantos outros no mundo hoje, precisaram mudar seus hábitos e se tornaram símbolos de resiliência. “O ano que vem tem de novo, dona Altair”, gritou uma pessoa, já falando de futuro. “Parabéns”, dizia outro. “Aqui em cima dona Altair”. Era como se, quem já conviveu com ela, desfrutou do abraço e do sorriso aberto de dona Altair, precisasse se fazer presente, ainda que na palavra gritada. “Vovó, vovó, vovó”, chamavam os netos. Outros, que moram em outras cidades ou estavam impedidos de participar da mobilização, fizeram questão de entrar em videoconferência com dona Altair.
“Mamãe sempre comemorou o aniversário dela em dois turnos: o das amigas e dos familiares. Desta vez, não seria possível”, disse Andreia Almeida, filha e uma das organizadoras da surpresa. Era uma retribuição para uma mãe que sempre promoveu as festas dos oito filhos.
Dona Altair foi das entrevistadas do Diario, em um projeto que está em produção e deve ser lançado em breve, chamado Octogenários. Em entrevista concedida em dezembro, já falava sobre o gosto pela vida. Perguntada sobre o segredo para se chegar a quase um século de vida, dizia: “Meu segredo é saber levar a vida, não implicar com qualquer pessoa. Ter amor, compreensão, paciência. Por isso, nunca soube o que é solidão”. Ela é um exemplo de resiliência. Mereceu a festa. É inspiração para enfrentamento de dias tão difíceis. Parabéns, dona Altair! Sinta-se abraçada, ainda que seja com minhas palavras.
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