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domingo, 24 de julho de 2016

"Ninguém mata por depressão", diz psicólogo

Homenagem às vítimas em Munique: atirador passou por tratamento psiquiátrico e tinha a fascinação por assassinatos
POR O POVO ON LINE

Na busca dos motivos para o massacre de Munique, discute-se "traços depressivos" do atirador e o termo "suicídio ampliado". Para especialista Georg Fiedler, porém, há muito mais fatores em jogo.
Com a motivação do terrorismo islâmico descartada, um dia após o atentado em Munique a Alemanha procura as causas que levaram um adolescente teuto-iraniano de 18 anos identificado como David S. a atirar a sangue frio contra jovens como ele.

A mídia fala de "suicídio ampliado", e enfatiza dados biográficos do agressor, como traços de caráter depressivos, a passagem por um tratamento psiquiátrico, a preferência por jogos de computador glorificando a violência e a fascinação por assassinatos em massa.
A DW consultou o psicólogo e pesquisador do suicídio Georg Fiedler, que vive e trabalha em Hamburgo, sobre a pertinência real de tais fatos, bem como sobre eventuais paralelos com outras matanças recentes perpetradas por jovens na Europa.
DW: "Traços depressivos" podem levar alguém a voltar uma arma contra outros?
Georg Fiedler: Primeiro é preciso esclarecer que a expressão "traços depressivos" serve para descrever a impressão que alguém transmite a outras pessoas. Portanto a polícia foi bem cautelosa ao descrever o autor do atentado. Pois "traços depressivos" não significa, nem de longe, que alguém sofreu de uma doença psiquiátrica. E, mesmo nesse caso, sofrer de depressão é, na verdade, um obstáculo a cometer uma matança indiscriminada. Se os depressivos direcionam sua agressividade contra alguém, é contra si mesmos. Por isso não se pode partir do pressuposto que uma depressão seja causa ou desencadeador de um ato desses.

Quão comuns são "traços depressivos" ou depressões na Alemanha?
Talvez um terço da população deste país apresente "traços depressivos". O conceito é muito amplo: pode significar que a pessoa vive retraída, rumina muito, faz autoacusações ou se considera responsável por tudo. Portanto há um grande número de fatores em jogo.
Mas todos esses traços de caráter não implicam, em absoluto, que a pessoa em questão seja enferma. "Depressão" é um termo às vezes usado de forma excessiva aqui na Alemanha. Uma depressão verdadeira é uma doença grave, pressupõe a presença constante de sintomas como ruminação intensa, despertar prematuro, insônia, por um período de diversas semanas.
O agressor era um alemão de ascendência iraniana de 18 anos de idade. O que poderá ter levado alguém tão jovem a um ato tão hediondo?
É preciso ser muito cauteloso ao avaliar este caso. Uma coisa é clara: não existe só uma causa para o ato. Aparentemente o autor estava sob tratamento psiquiátrico. Assim, uma enfermidade psiquiátrica pode ter tido certa relevância, mas só isso não justifica esse ato.
Muitas vezes, em crimes assim, aponta-se logo para os jogos de computador que glorificam a violência, tão apreciados pelos jovens. Mas o fato de ele ter jogado os assim chamados "jogos de matança" não pode ser a única justificativa para uma irrupção de violência dessa ordem. Quem condena desse modo está simplificando demasiado os fatos. Via de regra o encadeamento de fatos que leva até um ato como esse é bem mais complexo.
Em relação ao agressor empregou-se o termo "suicídio ampliado". O que significa?
Ele se refere a um agressor isolado que leva consigo para a morte um grande número de pessoas de sua convivência. Pode ser a mãe que mata o filho, o pai que mata a família. Em ambos os casos os autores estão sob a ilusão delirante de que as vítimas não serão capazes de sobreviver sem eles. Visto assim, se poderia até falar de um motivo altruísta. No atentado de Munique, porém, esse não o caso, em absoluto.
Esse atentado recorda o senhor de outros incidentes passados?
Também aqui vale o princípio: a queda provocada do avião da Germanwings seguramente não se deveu apenas à depressão do copiloto. A meu ver, ele tinha, além disso, traços de personalidade difíceis. Entre estes, por exemplo, uma percepção delirante do mundo em torno dele. Também o atirador de Winnenden esteve em tratamento devido a uma moléstia depressiva. Mas também aqui houve toda uma série de outros fatores levando até o ato, os quais nada tinham a ver com a depressão. A rigor, o diagnóstico de uma depressão descarta atos desse tipo.
O senhor vê analogias entre os atentados?
Chamou-me bastante a atenção o agressor de Munique ter como alvo e ter atirado em pessoas bem jovens. Desse modo, o grupo de vítimas lembra muito a matança de Winnenden. O atentado na Noruega me vem igualmente à mente: cinco anos atrás também o criminoso norueguês Anders Breijvik tinha na mira vítimas especialmente jovens.
Autor: Daniel Heinrich (av)

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