Regiões tropicais e subtropicais do planeta são propícias para a proliferação de arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos, como o Aedes Aegypti, inseto originário do Egito, na África e que chegou ao continente americano no século XVI, durante o período colonial. Segundo o Ministério da Saúde (MS). No Brasil, a transmissão da dengue, uma das doenças que têm como vetor de transmissão o Aedes Aegypti, ocorre de forma continuada desde 1986, com períodos intercalados de epidemias. O maior surto ocorreu em 2013, com 2 milhões de casos notificados.
Atualmente circulam quatro sorotipos transmitidos pelo Aedes Aegypti no país: dengue, febre amarela, zika e chikungunya. No geral, essas patologias têm sintomas parecidos. Dor de cabeça, febre, dores no corpo e manchas avermelhadas na pele são manifestações que podem ser apresentadas por mais de uma doença.
Visando diagnósticos corretos e rápidos para as doenças, para ajudar a mudar este cenário, a empresa Greenbean Biotecnologia, com o apoio da Funcap através do edital Inovafit Fase 1, está desenvolvendo novos kits de diagnóstico rápido que irão especificar com precisão qual arbovirose se manifesta no paciente. O projeto tem como coordenadora técnica a professora do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Izabel Guedes, que também coordena a Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) – ponto focal Ceará.
As semelhanças entre os vírus e os sintomas dessas arboviroses dificultam o diagnóstico preciso. A zika, por exemplo, pode trazer sérios danos aos fetos, caso mulheres grávidas sejam infectadas, então é necessário um diagnóstico correto para orientar os profissionais de saúde na indicação do tratamento. Atualmente,o exame que comprova a infecção por alguma dessas doenças é realizado através da técnica RT-PCR, que só é capaz de identificar um vírus por vez. Para saber se um paciente está com zika, dengue ou chikungunya, é preciso realizar três testes, o que torna o procedimento caro.
Izabel alerta que para o médico ter uma conduta mais segura na definição do tratamento, é necessário um diagnóstico preciso pois as viroses têm sintomas parecidos e o mesmo paciente pode estar contaminado com mais de um vírus ao mesmo tempo. É preciso um teste que detecte os três sorotipos.
Proteínas desenvolvidas
O projeto desenvolveu proteínas recombinantes de cada vírus (dengue, zika e chikungunya), ou seja, criadas em laboratório para fabricação de um reagente específico para cada virose. Neste método, quando o soro do paciente entrar em contato com os reagentes das três viroses, só terá resposta com as proteínas das doenças com as quais está infectado.
As proteínas são produzidas através da inoculação em plantas, que funcionam como biorreatores e passam a produzir a substância. Izabel salienta que esse sistema tem baixo custo, é rápido e não causa impactos no ambiente. Nos vegetais, as etapas de introdução das proteínas, colheita e purificação levam um período de quatro a cinco dias, enquanto em células animais ou microrganismos o processo leva muito mais tempo e é preciso fazer o uso de antibióticos.
Vantagens do novo kit
Atualmente os exames são realizados através do kit NAT, que utiliza a técnica RT-PCR e não identifica o tipo de arbovirose. Além disso, esse teste faz uso de reagentes importados, o que aumenta os custos, principalmente se for necessário fazer o teste para dengue, zika e chikungunya. De acordo com Izabel, o Brasil é dependente de insumos estrangeiros para a área médica e isso gera altos custos aos cofres públicos. “Nós precisamos ter técnicas de diagnóstico nossas, produzidas aqui, pois temos potencial para produzir os kits sem depender de importação”, comenta.
O novo kit é capaz de realizar os testes para dengue, zika e chikungunya, ao mesmo tempo e permite exames em microplacas (placas de Elisa) que possuem 96 poços distribuído sem 12 fileiras, onde podem ser realizados testes de até 40 pessoas. As proteínas de cada uma das viroses são distribuídas na placa e o soro do paciente só reage àquela na qual está infectado. O exame é rápido, cada etapa leva entre uma hora e uma hora e meia e o resultado sai dentro de cinco horas.
Próximos passos
Na primeira fase do projeto, a equipe delineou a pesquisa e produziu insumos. De acordo com Izabel, o apoio da Funcap foi fundamental para dar prosseguimento ao estudo.“Com ele, nós separamos e produzimos as proteínas, isso nos deu base para aprovarmos um projeto no CNPQ, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)”,comenta.
A equipe ainda não tem data prevista para a chegada dos testes ao mercado, mas segundo Izabel, pode ser em breve, porque o protótipo já foi testado e teve a eficácia comprovada. Agora as proteínas estão sendo enviadas para a equipe da UFPE realizar a montagem dos novos kits de acordo com o padrão comercial.
Com informações Governo do Estado do Ceará.
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