Edson
 

 
| Papanicolau, o Mau Homens pensam que abrir as pernas é a maior moleza: 
só deitar ali, arrancar a calcinha e correr pro abraço. 
Na maioria das vezes, é até verdade, mas um dia no ano, durante muitos anos, esse ato tão banal e (se a moça tiver sorte) corriqueiro vira um martírio abissal: 
 o dia do papanicolau. 
Menos uma data santa e muito mais um mergulho no inferno do desconforto, o dia do tal papa começa com aquele famoso 
"pode se despir e colocar esse avental com a abertura voltada pra trás". 
Peladas, descalças sobre o chão frio e com um ventinho batendo na bunda, vamos (nós, mulheres) nos encaminhando para a sala de exame. 
Ao abrir a porta, temos a visão do hall do Hades: 
uma maca coberta por lençol de papel, dois apoios para os pés, um computador esquisitão e um médico com aquele sorriso polido que diz, na verdade, 
"não precisa ficar sem graça só porque jamais te vi na vida e agora vou enfiar e cutucar até a sua amígdala". 
 Enfim, deitamos. 
Deslizamos a bunda até a beira da maca, abrindo até a alma para a exploração iminente, encaixamos os calcanhares nos apoiadores. 
"Agora relaxe." 
Respiramos fundo e então ele adentra o âmago do nosso ser. 
Gelado, mais duro do que estamos acostumadas, fino, metálico. 
Um troço bizarro chamado espéculo. 
Ele percorre o caminho que você, querido leitor, faz coisas absurdas e inconfessáveis para percorrer e enfim chega ao ponto final: 
ali pertinho do colo do útero, onde alguns homens adoram brincar de bate-estaca, nos provocando sensações tão agradáveis quanto uma perfuração de tímpano. 
E, então, expiramos aliviadas. 
 Por pouco tempo. COÇANDO OS OVÁRIOS Algo dentro de nós se expande e alarga. 
Quer dizer, mais ou menos dentro. Dentro e fora, pra ser exata. 
O bico de pato estilizado afasta nossas caras-metades inferiores até que a zona do agrião fique completamente, absolutamente, inteiramente aberta e livre para o ataque final: o dedo. 
E nessa hora, que horror, uma tremenda vulnerabilidade nos assola. 
Além de escancaradas, temos um pedaço de mão cutucando cada canto e cavidade, procurando caroços, carnes estranhas e toda sorte de possíveis doenças. Mas não é nelas que pensamos enquanto nossa bexiga é pressionada e os ovários são coçados. 
Pensamos é no quanto aquela situação lastimável vai durar. 
E então, num transe anual, enxergamos o mundo através dos olhos de Einstein: 
o tempo mesmo relativo (o exame nunca dura mais que cinco minutos, mas parece que daria para assistirmos a Spartacus e à trilogia de O Senhor dos Anéis na seqüência). Você já acha suficiente? 
Ah, quanta inocência! 
A retirada do dedo não é o fim, é o anúncio da hora da entrada de um tipo de palito de sorvete que escarafuncha e raspa nossas umidades para retirar o "material" que será analisado e dirá se nossa querida xana está 100% em ordem e habilitada para uso contínuo. 
Só daí somos despirulitadas (retiram do meio de nós o que estava nos espetando) e fechamos tudo o que estava aberto. E pensar que a homarada faz o maior estardalhaço e arma um baita dramalhão mexicano só por causa de uma mera dedadinha no traseiro. 
Mas como são mocinhas, não? :: .............................. 
COLABORAÇÃO: 
Cristina Welter | 
 
 
 
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