O cenário de mudança e renovação tenta atrair mais fiéis, enquanto levanta debates sobre transformações sociais
A chegada do dia 25 de dezembro, data mais importante e simbólica do Cristianismo, retoma, todos os anos, para além de seu significado religioso, o sentimento de reflexão espiritual. Natal é época de renascimento, renovação. Contudo, em 2013, essa máxima antiga adquire uma nova interpretação. Como em muito não se percebia, o dito também pode ser aplicado à própria Igreja Católica e à fé cristã.
A chegada do dia 25 de dezembro, data mais importante e simbólica do Cristianismo, retoma, todos os anos, para além de seu significado religioso, o sentimento de reflexão espiritual. Natal é época de renascimento, renovação. Contudo, em 2013, essa máxima antiga adquire uma nova interpretação. Como em muito não se percebia, o dito também pode ser aplicado à própria Igreja Católica e à fé cristã.
No Ceará, assim como em todo o País, eventos como a JMJ dão novo fôlego aos fiéis Foto: Alcides Freire
A renúncia de Bento XVI e a vinda de um novo Papa podem ser consideradas divisores de águas na história recente da instituição religiosa. Em poucos meses de pontificado, a postura mais acolhedora e menos fechada do líder Francisco demonstrou que a Igreja vive um cenário propenso a mudanças, cujo objetivo é tentar recuperar a convicção daqueles que se distanciaram do catolicismo e corresponder aos atuais anseios da sociedade no que diz respeito à fé. O momento é de busca por transformações.
A série de reportagens que se inicia hoje no Diário do Nordeste se propõe a analisar essas mudanças e de que forma elas se fazem perceber nas paróquias cearenses. Para isso, é preciso conhecer a história de quem faz a nova Igreja, dos responsáveis pela missão de evangelizar no contexto de transição. Assim, os sacerdotes, em especial os recém-ordenados, com suas abordagens atuais e desafios à frente, serão os protagonistas das matérias que se seguem.
Emanuel Freitas, professor de sociologia e pesquisador do núcleo de estudos em religião e política da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que entender o que o momento presente da Igreja representa requer, primeiramente, olhar para o passado. Ele aponta que, desde o papado de João Paulo II, a instituição mostra sinais de que pensa em reformas de posturas e políticas.
No pontificado de Bento XVI, no entanto, as transformações tiveram um recuo para serem retomadas somente agora, com o papa Francisco.
Novo fôlegoEm sua visão, Francisco vem para se dirigir ao homem do século XXI. E fazer isso de uma forma mais humana, mais aberta. Assuntos antes considerados tabus, que eram rechaçados, passaram a ser discutidos mais abertamente, mantendo, no entanto, sua histórica inflexibilidade. “O que podemos esperar é maior diálogo em torno dessas questões. Já existe a permissão para debate”, afirma.
Os reflexos dessas transformações já puderam ser vistos no fôlego que voltou a surgir na Igreja neste ano. A multidão que lotou as ruas do Rio de Janeiro no último mês de julho, durante a 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), deixou isso claro. Considerado o evento cristão mais importante do mundo, o encontro teve um de seus maiores públicos: 3,7 milhões de pessoas de muitas nacionalidades.
No País, ainda, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) atribuiu ao momento de ânimo da Igreja uma das maiores romarias já registradas na cidade de Aparecida, em São Paulo. Em 2013, o rito anual também teve recorde de participação, com mais de 11 milhões de romeiros, cerca de 400 mil a mais que no ano passado.
Os dois acontecimentos provaram que, em meio à multiplicidade de crenças existentes da modernidade e à ideia de que é uma instituição ultrapassada, a Igreja ainda vive, embora, estatisticamente, venha demonstrando uma redução no número de fiéis. Entre os anos de 2000 e 2010, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas que se consideram católicas no Ceará caiu aproximadamente oito pontos, passando de 86,5% para 78% da população. Enquanto isso, a participação de outras religiões cresceu.
Marly Carvalho Soares, teóloga e professora do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), afirmar que o domínio do catolicismo no Estado, fundamentado pela tradição religiosa familiar, perdeu forças e deu início a uma realidade social mais laica. “As pessoas eram católicas por hereditariedade. Hoje, nesse contexto de liberdade religiosa, houve a iniciativa de participar de outras experiências”, acrescenta.
Para o sociólogo Emanuel Freitas, embora o número de pessoas que se consideram católicas tenha diminuído, a Igreja cresce, mas de maneira interior. “O que se percebe é que muitos fiéis que não eram praticantes, que haviam se afastado da Igreja, voltaram ou se tornaram praticantes”, aponta Emanuel. “A Igreja perde porque é tradicional. Aquele que não fala a língua da modernidade, da atualidade, sempre vai perder”, completa.
Sacerdotes
Emanuel diz que mesmo os fiéis mais conservadores esperam que a Igreja faça-se presente no debate do mundo contemporâneo, falando sobre os problemas que afligem o homem e dando orientação. Para lidar com esses anseios, ele explica que a instituição tem investido, principalmente na formação de sacerdotes os quais, pelo caráter mais jovem, podem trazer novas discussões.
A teóloga Marly Carvalho destaca, ainda, que, hoje, a transmissão da fé requer uma nova forma de evangelização, cuja responsabilidade está nas mãos dos sacerdotes, em especial dos novos padres. Conforme ela, esta maneira diferenciada de repassar os ensinamentos da religião deve atingir e interpelar a todos: cristãos praticantes, não praticantes e aqueles que nunca se envolveram com a Igreja Católica, por opção ou desconhecimento.
“O sacerdote deve estar à altura das mudanças na cidade, marcada pelos contra-valores focalizados pelo individualismo, secularismo e consumismo, mas que também suscita abertura diante da diversidade de outras religiões e valores. O padre deve andar na contramão de uma cultura marcada pela ausência de um Deus vivo”, afirma Marly. Lei amanhã: Atuação de padres recém-ordenados
A renúncia de Bento XVI e a vinda de um novo Papa podem ser consideradas divisores de águas na história recente da instituição religiosa. Em poucos meses de pontificado, a postura mais acolhedora e menos fechada do líder Francisco demonstrou que a Igreja vive um cenário propenso a mudanças, cujo objetivo é tentar recuperar a convicção daqueles que se distanciaram do catolicismo e corresponder aos atuais anseios da sociedade no que diz respeito à fé. O momento é de busca por transformações.
A série de reportagens que se inicia hoje no Diário do Nordeste se propõe a analisar essas mudanças e de que forma elas se fazem perceber nas paróquias cearenses. Para isso, é preciso conhecer a história de quem faz a nova Igreja, dos responsáveis pela missão de evangelizar no contexto de transição. Assim, os sacerdotes, em especial os recém-ordenados, com suas abordagens atuais e desafios à frente, serão os protagonistas das matérias que se seguem.
Emanuel Freitas, professor de sociologia e pesquisador do núcleo de estudos em religião e política da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que entender o que o momento presente da Igreja representa requer, primeiramente, olhar para o passado. Ele aponta que, desde o papado de João Paulo II, a instituição mostra sinais de que pensa em reformas de posturas e políticas.
No pontificado de Bento XVI, no entanto, as transformações tiveram um recuo para serem retomadas somente agora, com o papa Francisco.
Novo fôlegoEm sua visão, Francisco vem para se dirigir ao homem do século XXI. E fazer isso de uma forma mais humana, mais aberta. Assuntos antes considerados tabus, que eram rechaçados, passaram a ser discutidos mais abertamente, mantendo, no entanto, sua histórica inflexibilidade. “O que podemos esperar é maior diálogo em torno dessas questões. Já existe a permissão para debate”, afirma.
Os reflexos dessas transformações já puderam ser vistos no fôlego que voltou a surgir na Igreja neste ano. A multidão que lotou as ruas do Rio de Janeiro no último mês de julho, durante a 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), deixou isso claro. Considerado o evento cristão mais importante do mundo, o encontro teve um de seus maiores públicos: 3,7 milhões de pessoas de muitas nacionalidades.
No País, ainda, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) atribuiu ao momento de ânimo da Igreja uma das maiores romarias já registradas na cidade de Aparecida, em São Paulo. Em 2013, o rito anual também teve recorde de participação, com mais de 11 milhões de romeiros, cerca de 400 mil a mais que no ano passado.
Os dois acontecimentos provaram que, em meio à multiplicidade de crenças existentes da modernidade e à ideia de que é uma instituição ultrapassada, a Igreja ainda vive, embora, estatisticamente, venha demonstrando uma redução no número de fiéis. Entre os anos de 2000 e 2010, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas que se consideram católicas no Ceará caiu aproximadamente oito pontos, passando de 86,5% para 78% da população. Enquanto isso, a participação de outras religiões cresceu.
Marly Carvalho Soares, teóloga e professora do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), afirmar que o domínio do catolicismo no Estado, fundamentado pela tradição religiosa familiar, perdeu forças e deu início a uma realidade social mais laica. “As pessoas eram católicas por hereditariedade. Hoje, nesse contexto de liberdade religiosa, houve a iniciativa de participar de outras experiências”, acrescenta.
Para o sociólogo Emanuel Freitas, embora o número de pessoas que se consideram católicas tenha diminuído, a Igreja cresce, mas de maneira interior. “O que se percebe é que muitos fiéis que não eram praticantes, que haviam se afastado da Igreja, voltaram ou se tornaram praticantes”, aponta Emanuel. “A Igreja perde porque é tradicional. Aquele que não fala a língua da modernidade, da atualidade, sempre vai perder”, completa.
Sacerdotes
Emanuel diz que mesmo os fiéis mais conservadores esperam que a Igreja faça-se presente no debate do mundo contemporâneo, falando sobre os problemas que afligem o homem e dando orientação. Para lidar com esses anseios, ele explica que a instituição tem investido, principalmente na formação de sacerdotes os quais, pelo caráter mais jovem, podem trazer novas discussões.
A teóloga Marly Carvalho destaca, ainda, que, hoje, a transmissão da fé requer uma nova forma de evangelização, cuja responsabilidade está nas mãos dos sacerdotes, em especial dos novos padres. Conforme ela, esta maneira diferenciada de repassar os ensinamentos da religião deve atingir e interpelar a todos: cristãos praticantes, não praticantes e aqueles que nunca se envolveram com a Igreja Católica, por opção ou desconhecimento.
“O sacerdote deve estar à altura das mudanças na cidade, marcada pelos contra-valores focalizados pelo individualismo, secularismo e consumismo, mas que também suscita abertura diante da diversidade de outras religiões e valores. O padre deve andar na contramão de uma cultura marcada pela ausência de um Deus vivo”, afirma Marly. Lei amanhã: Atuação de padres recém-ordenados
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