Seu Chico Soares / Foto: Silvanar Soares |
Nessas dez décadas de vida, passou por muitas dificuldades e enfrentou muitos desafios, sendo morador e trabalhando em terras dos outros, pelos sistemas de semiescravidão do “fornecimento”, “arrendamento”, “meia” ou “parceria”, de onde tirava o sustento dos filhos e garantia condições dos patrões luxarem e educarem os filhos na cidade grande, com todo o conforte e riqueza. Mesmo assim, era considerado uma pessoa de boa produção, pois produziu muito algodão, milho, arroz, feijão, mandioca e criava gado. Mas sua emancipação se deu com a aposentadoria e a comprar de um pedacinho de terra no final da década de 70, onde criou a segunda família e onde mora até hoje no Distrito de Lagoa de São João - Aracoiaba - Ce.
O filho mais velho do casal Mariá Alves e José Soares, retirantes das secas e perseguidos pelo cangaço, que teve uma prole de treze filhos, dos quais apenas dois estão vivos, ele e o caçula José Soares, enfrentou muitas dificuldades e desafios, tendo que começar a trabalhar na roça com apenas 8 anos de idade. Não teve oportunidade de ir à escola, mas aprendeu tudo sobre a lida na roça, inclusive a de vaqueiro e de observador dos elementos da natureza, que são indicativos de chuva ou de seca, recebendo por isto o título de Profeta da Chuva. Outra grande paixão de sua vida é um lindo roçado de mandioca, tanto amor que o leva a celebrar seus aniversários, com uma farinhada. Sua casa de farinha é por ele considerado o seu maior feito.
Casou-se duas vezes e as duas ficou viúvo. O primeiro matrimonio, com Francisca das Chagas Araujo Silva, lhe rendou sete filhos, quatro dos quais estão vivos (Maria, João, Fátima e José) e do segundo, com Luzia Uchoa Pereira, nasceram mais seis e três estão vivos (Silvanar, Itamar e Luciano). Tem 19 netos e 18 bisnetos.
Com alegria, celebramos os 100 de Chico Soares, rendendo Graças ao Deus, no qual sempre acreditou e esperou, como devoto de São Francisco, São João Batista e Nossa Senhora. Lamenta que um amigo do clero não esteja fisicamente presente a este momento celebrativo, como esteve nos 80 anos, nos 90 e em tantos outros momentos. Mas confia em Deus na sua ressureição e agradece ao mesmo, pelo apoio dado na caminhada de fé. Estamos falando de Padre José Maria Cavalcante Costa (Padre Zé Maria), por quem tinha grande admiração, respeito e amizade. Também lamenta que seus pais, irmãos, esposas, parentes e amigos de infância, tenham partido para o céu tão cedo e não celebre com ele este momento sublime de sua vida, mas acredita no reencontro definitivo lá no céu.
Em sua sabedoria, Seu Chico Soares imprime um jeito sério e honesto de ser nordestino, baseado no que observa da natureza e pela experiência de vida. Ele é do tipo que assegura que a honestidade é o maior valor de um homem.
Sua sabedoria, consegue até mesmo algumas frases de efeito, como: “caixão não tem gavetas, mortalha não tem bolsos”, “pobre é quem só tem dinheiro”, “tudo tem ciência”, “homem que não tem palavra, não tem nada”.
Se fossemos relatar a história e a vida de Chico Soares, teríamos que fazer uma ampla pesquisa e dedicar muito tempo estudando e escrevendo, como talvez se tornasse cansativo para os leitores. Por isso, agradecemos ao Poeta Popular Abelardo Nogueira, um grande amigo da família, que transformou em versos, alguns pequenos retalhos desta saga de 100 anos de Chico Soares.
FOTO: Silvanar Soares / Enviada por whatsapp |
Texto Escrito por:
Silvanar Soares Pereira
Lagoa de São João - Aracoiaba - CE, setembro de 2018
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