COMBATE À ESTIAGEM
Comitê da Seca exige estudo geofísico para perfurar poços
02.09.2014
Municípios terão que apresentar viabilidade hídrica antes de solicitar apoio dos governos para fontes de água
Iguatu. O Grupo de Trabalho do Comitê da Seca, reunido na manhã de ontem, em Fortaleza, passou a exigir dos municípios que solicitam perfuração de poços profundos a apresentação de estudo geofísico. A medida tem por objetivo evitar desperdício de recursos públicos, perda de tempo em decorrência do elevado índice de poços secos ou que apresentam reduzida vazão, inviabilizando o uso pelas comunidades rurais.
A crise de desabastecimento hídrico vem se agravando no Interior do Estado, tanto em localidades do sertão, quanto do litoral. No decorrer dos próximos meses, a situação deve piorar, ante a falta de chuva para o período, elevação da temperatura e maior consumo de água. Resultado: é crescente a demanda por abastecimento de água.
De olho nesse quadro, autoridades tentam ampliar o fornecimento de carros-pipas, a perfuração de poços profundos e a instalação de adutoras para transferência emergencial de água. O trabalho de perfuração de poços profundos passa a ter agora a coordenação da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).
A novidade está em uma portaria publicada ontem pelo Comitê da Seca. "A situação é crítica em todo o Estado e há muita pressão", disse o secretário adjunto da Secretaria de Recursos Hídricos, Antonio Amorim. "As Prefeituras apresentavam uma relação de comunidades, com solicitação de poços profundos. Os poços eram perfurados, sem estudo geofísico, e muitos eram secos ou apresentavam baixa vazão. Isso significa desperdício de tempo e de dinheiro público".
O objetivo é que o trabalho de perfuração de poços profundos coordenado pela SRH apresente melhor resultado. "Vamos exigir, como contrapartida dos municípios, o estudo geofísico, evitando perfurações aleatórias", disse Amorim. "A prioridade, a partir de agora, é atender as solicitações devidamente encaminhadas, com o estudo geológico", advertiu.
Amorim disse que o governo do Estado está em fase de conclusão de perfuração e instalação de 395 poços profundos em localidades rurais de municípios do Interior, nas áreas mais castigada pela estiagem. A seca assola o sertão cearense por três anos seguidos. "A ação faz parte do programa Água para Todos e deve ser concluída no próximo dia 15", frisou Antonio Amorim. "Cinco empresas foram contratadas e o trabalho começou em junho passado".
A Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) dispõe de seis máquinas perfuratrizes e aguarda a chegada de mais quatro, enviada pelo Ministério da Integração Nacional.
O órgão tem uma demanda de mais de três mil poços e uma capacidade de perfurar, em média, 300 poços por ano.
Tratamento de água
Depois de dois anos de espera para conclusão do processo de licitação, finalmente serão instaladas 900 unidades de tratamento de água de poços e açudes, beneficiando cerca de 30 mil famílias em várias cidades do Ceará. "Essas estações móveis serão entregues ainda na primeira quinzena deste mês", disse Antônio Amorim. "A demora foi decorrente de um processo na Justiça por uma das empresas que participaram da licitação".
O titular da SDA observou que a burocracia e demandas judiciais decorrentes de processos licitatórios atrasam as ações emergenciais de combate aos efeitos da seca. No Ceará, os açudes estão secando. O nível atual dos 149 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de 27,8%, considerado crítico.
Esse índice caiu 1% nos últimos 15 dias. No fim do ano, é provável que esteja em menos de 20%. Ao final da quadra invernosa, o índice era de 30,69%. No Estado, 24 cidades enfrentam racionamento de água e esse número tende a crescer nos próximos meses.
Ampliação
A Comissão Estadual de Defesa Civil (Cedec) está ampliando a assistência às cidades com necessidade de abastecimento pelo programa emergencial. De acordo com o major Holdayne Pereira, 150 caminhões-pipas foram cadastrados para prestar o serviço no Estado. Neste mês, Atualmente, 14 municípios estão recebendo as rotas de abastecimento por carro-pipa, por meio da Cedec.
São eles: Tejuçuoca, Marco, Granja, Aracoiaba, Morrinhos, Trairi, Miraíma, Jijoca de Jericoacoara, Acaraú, Itarema, São Luiz do Curu, Paracuru e Apuiarés. A instituição e o Exército Brasileiro estudam a possibilidade de reativação de antigas rotas em decorrência do crescimento da demanda por água.
Em outubro do ano passado, o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raimundo Mariano Castelo Branco, criticou a falta planejamento, de pesquisa criteriosa e de um trabalho em longo prazo, e não apenas a realização de serviço emergencial. "Não podemos esperar a seca chegar para sairmos cavando poços, sem um estudo criterioso", frisou Mariano. Ele antecipou, à época: "Há o risco de muitos poços não apresentarem vazão adequada ou o que é pior, serem secos, trazendo perda de tempo e dos recursos públicos, com o dinheiro jogado fora".
Solo cristalino
O ambiente geológico da ampla maioria dos Estados da região Nordeste é complexo, com composição de cristalino. No Ceará, esse tipo de rocha expande-se em cerca de 70% do território. O subsolo sedimentar dá água mais rasa, entretanto, é mais restrito. Permite a escavação das populares cacimbas e de poços rasos com profundidade média de 10 metros, a exemplo do que ocorre nas várzeas e aluviões dos rios.
Na época, o professor Raimundo Mariano observou que, de dez poços profundos cavados há pouco tempo no Sertão Central, a metade não deu água. "A possibilidade de poços secos é enorme", observou. "Se não houver estudo adequado, o risco é bem maior e o programa pode fracassar". Isso varia conforme a região. Nos Inhamuns, por exemplo, pode chegar a 80% de poços inviáveis.
O Grupo de Trabalho é formado pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), a Comissão Estadual de Defesa Civil, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece),SRH, Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Dnocs, Cogerh e Funceme.
Racionamento tende a crescer
Juazeiro do Norte. A escassez de água em reservatórios hídricos que abastecem municípios da região do Cariri continua a ocasionar preocupação junto às populações atingidas pela falta de abastecimento. O problema vem obrigando as gestões municipais a estabelecerem sistemas de rodízio e racionamento na distribuição do líquido. Estimasse que cerca de 50 mil pessoas estejam prejudicadas até o momento. Os números, no entanto, podem crescer nos próximos meses, conforme avaliam os gestores nos municípios.
Em algumas cidades, o abastecimento só está sendo possível através do programa de distribuição hídrica criado pelo Governo Federal, popularmente conhecido como Operação Pipa, desenvolvido no Ceará pelo Exército Brasileiro, por meio do 23º Batalhão de Caçadores, sediado em Fortaleza, e da Defesa Civil do Estado. Há regiões, no entanto, onde a distribuição é difícil, seja pela distância ou pela falta de condições de deslocamento às comunidades.
Em Antonina do Norte, por exemplo, a situação é classificada como caótica pelo secretário de Agricultura do município, Antônio Dias de Andrade. A barragem Mamoeiro, responsável pelo abastecimento de grande parte do município, possui somente 15% de sua capacidade total de armazenamento. O Açude do Coronel, outro importante reservatório, teve suas águas condenadas pela Defesa Civil do Estado, após laudo laboratorial que classificou as águas represadas como impróprias. Há receio de que as águas ainda existentes no Mamoeiro não sejam suficientes para que o abastecimento aconteça até o final deste ano.
No município de Salitre, as comunidades mais afetadas com a falta de abastecimento são Arapuca, Água Branca, Baixiinho, Lagoa dos Crioulos, Açude Novo e Bulandeiras. "Infelizmente a realidade é essa. Só que a situação se complicou no município por inteiro. O abastecimento só tem sido possível por meio dos carros-pipas. A seca é total", garante o secretário dos Recursos Hídricos, João Costa. Conforme afirmou, a água utilizada pela operação de distribuição hídrica é proveniente de Araripina (PE) por conta das deficiências também registradas em municípios vizinhos no Ceará.
A população de Araripe também enfrenta dificuldades de abastecimento por conta da diminuição na reserva hídrica do município. Mesmo tendo sido registrada uma quadra invernosa regular este ano, os reservatórios não captaram água suficiente para suprir a demanda de abastecimento até o próximo ano, segundo afirma o secretário do Desenvolvimento Agrário Econômico local, Rutemberg Fortaleza. O principal reservatório do município é o da Alagoinha que possui, atualmente, apenas 30% de toda sua capacidade.
O município já estuda a realização de racionamento na distribuição da água. "Existe essa possibilidade. Se o consumo de mantiver da forma como vem acontecendo, existe possibilidade de racionamento na distribuição", disse Fortaleza.
Conforme o coronel Ricardo Rodrigues, chefe da Assessoria de Comunicação da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado, em alguns municípios da região do Cariri houve diminuição no número de operações por conta da regularidade pluviométrica registrada durante a quadra invernosa deste ano.
"É possível uma nova análise das situações, Conforme a necessidade, um novo plano pode ser criado para ampliar, ou não, a utilização dos carros-pipa nestes municípios", informou.
Mais nformações
Coordenadoria estadual de defesa civil - (85) 3101. 4600
Secretaria de desenvolvimento agrário do estado
(85) 3101. 8105
Coordenadoria estadual de defesa civil - (85) 3101. 4600
Secretaria de desenvolvimento agrário do estado
(85) 3101. 8105
Honório Barbosa/Roberto Crispim
Repórter/Colaborado
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