SEGUNDO INVESTIGADORES
28.03.2015
Polícia alemã encontrou documentos que indicavam doença psicológica na casa de Andreas Lubitz
Düsseldorf/Montabaur. Policiais que vasculharam o apartamento de Andreas Lubitz em Düsseldorf encontraram pistas significativas que indicam que o copiloto da Germanwings sofria de doença psicológica, entre elas documentos indicando a presença dele em tratamento psiquiátrico e notas destruídas de dispensa médica, inclusive para o dia do acidente (24).
De acordo com um comunicado emitido pelos investigadores alemães, o copiloto tinha destruído um atestado médico para não trabalhar no dia do desastre. Ele também teria eliminado outros registros de médicos que indicavam que ele não estava bem o suficiente para o serviço. Não foi informado o teor das condições médicas das quais Lubitz sofria.
Em nota, o hospital da Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf disse que Lubitz foi paciente de fevereiro até 10 de março. Devido às regras de confidencialidade médica, não divulgou detalhes da doença, mas negou que fosse depressão.
A própria Germanwings informou por meio de suas redes sociais que, em nenhuma das ocasiões, o copiloto entregou atestados médicos à companhia.
Preocupado com o andamento das investigações, o premiê francês, Manuel Valls, pediu que a Lufthansa (matriz da Germanwings) entregue todos os dados que possua sobre Lubitz para o governo francês.
Adequação
O CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, disse na última quinta-feira (26) que Lubitz só foi capaz de voltar a treinar depois de ter tido sua adequação "restabelecida", em 2008, após interromper o curso de piloto por alguns meses. Segundo a imprensa alemã, nessa época, ele teria sofrido uma grave depressão.
O presidente da Associação de Pilotos da Aviação Civil, Ilja Schultz, pediu que não fossem tomadas "conclusões apressadas sobre o episódio antes da leitura das duas caixas-pretas".
O acidente envolvendo o voo 4 U 9525 da companhia aérea alemã Germanwings ocorreu na última terça-feira (24). Até ontem, autoridades que atuam na investigação revelaram que Lubitz, de 28 anos, trancou a porta da cabine, assumiu o controle do avião e o tirou da altitude de cruzeiro, jogando-o para baixo. As suspeitas policiais são de que o copiloto teria derrubado o Airbus A320 deliberadamente nos Alpes Franceses. Todas as 150 pessoas a bordo morreram.
Os documentos encontrados na residência do piloto demonstram uma "doença existente e tratamentos médicos correspondentes", explicam as autoridades. Segundo o tabloide alemão "Bild", Lubitz teria supostamente rompido o relacionamento que mantinha com a noiva, com quem estaria junto há sete anos. Foi apontado que eles se casariam no ano que vem.
Testes psicológicos
A Organização da Aviação Civil Internacional (Icao), órgão da Organização das Nações Unidas que define as normas mundiais da aviação, recomenda que alguém com depressão não pilote um avião. Mas também afirma em seu Manual de Medicina de Aviação Civil que testes psicológicos de membros de tripulação "raramente têm valor" e não são "confiáveis" na previsão de transtornos mentais.
O especialista em medicina aeronáutica David Powell, da Nova Zelândia, comentou que foram relacionados apenas dez acidentes aéreos envolvendo questões médicas em um estudo do Icao sobre acidentes em todo o mundo ao longo de 20 anos. "Você poderia garantir de forma confiável que nunca haverá um piloto que, de repente, deliberadamente, derrube um avião?", questionou Powell.
Memória das vítimas
"Os pilotos são um grupo altamente selecionado e amplamente avaliado, mas quem pode prever totalmente o comportamento dos seres humanos?", afirmou o especialista.
O presidente alemão Joachim Gauck disse ontem que era preciso buscar apoio em meio ao drama. "Neste tipo de situação excepcional, nós sentimos que nós vivemos em uma sociedade de seres humanos e não apenas de seres em boas condições de funcionamento", insistiu.
Entre as vítimas do desastre estavam 75 alemães, quatro dos quais tinham uma dupla nacionalidade, e 52 espanhóis, 4 deles com dupla nacionalidade, de acordo com um relatório do Ministério das Relações Exteriores alemão. Havia pelo menos cinco sul-americanos no voo: três argentinos e dois colombianos
A polícia alemã informou que, além do apartamento de Andreas Lubitz em Düsseldorf, recolheu pistas na residência dos pais do copiloto em Montabaur, uma pequena cidade entre Frankfurt e Düsseldorf, onde ele vivia durante uma parte do ano.
Vazamento de dados sob crítica
Paris. O Sindicato Nacional dos Pilotos Franceses anunciou, ontem, que apresentará queixa pela divulgação de dados da investigação sobre o acidente com o avião da Germanwings. Para o Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha (SNPL), a divulgação do conteúdo de uma das caixas-pretas viola as normas fundamentais de investigação de acidentes mundialmente aceitas.
Antes da entrevista coletiva do procurador de Marselha Brice Robin na última quinta-feira (26), em que afirmava a hipótese de o acidente ter sido proposital, a informação já tinha sido divulgada pelos jornais Le Monde e The New York Times, que citaram fontes da investigação feita pelo Gabinete de Investigações e Análises (BEA), autoridade de aviação civil da França.
A queixa do presidente do SNPL, Erick Derivry, visa sobretudo a uma reforma do BEA que, na sua opinião, "não é completamente independente" na forma como funciona, na sua constituição e na nomeação do diretor.
A divulgação das conclusões tiradas da gravação recuperada de uma das caixas pretas do avião - a segunda, que registra parâmetros técnicos, ainda não foi encontrada - foi também criticada por outras organizações.
A Associação Europeia de Pilotos afirmou estar profundamente perturbada com as conclusões da investigação do acidente. A entidade acrescenta que, embora "muitos fatos apontem para uma teoria em particular, muitas questões ainda estão por responder".
A Associação de Pilotos de Linha Aérea alemã também considerou prematuro tirar conclusões antes da recuperação da segunda caixa-preta. Depois de várias companhias aéreas terem anunciado a alteração das regras de segurança das cabines, impondo a presença de duas pessoas, a associação alertou sobre "medidas apressadas".
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