28.03.2015
Passeios a pé, guiados por jovens da comunidade, propiciam um conhecimento diferenciado
Icapuí. "Um lugar para se sentir". É assim que os moradores da Praia de Ponta Grossa, no Litoral Leste do Estado, neste município, a definem. O local, de beleza paradisíaca, mais parece um oásis por entre as dunas. Todo esse ambiente é utilizado pela comunidade para oferecer tranquilidade aos visitantes e uma variedade de atividades em harmonia com a natureza. Entre as opções, está a Trilha Ecológica de Ponta Grossa, que mistura passeio entre a mata nativa costeira e uma descida de dunas até a praia, tudo a pé, num percurso que compreende cerca de 2km.
O trajeto foi criado pela comunidade que sobrevive, além da pesca, do turismo de base comunitária. No trecho da mata de tabuleiro, plantas com fins medicinais e de utilidade para os pescadores, como para a produção de madeira de embarcações, são cuidadosamente destacados, além das paradas com vista privilegiada para o mar. O percurso segue a um dos pontos mais altos da Costa Leste, onde e possível avistar a localização da Praia de Canoa Quebrada, em Aracati.
Para tanto, 20 jovens da comunidade foram capacitados, com apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará (Sebrae-CE). Eles aprenderam sobre a ocupação, a fauna e a flora, além da importância do lugar para o História do Ceará. Tudo é contado durante o percurso, que dura, em média, uma hora.
Um dos guias, Ágabo Crispim, 21, conta que, antes da oportunidade com o turismo, era pescador. Segundo ele, as crianças começam cedo a acompanhar os pais no mar, passando a tradição de geração para geração. Com a experiência que adquiriu levando pessoas pelo passeio, conta que pode aprender mais sobre a comunidade, além de conhecer pessoas de vários Estados. Ele acrescenta que, em períodos de alta estação, chega a acompanhar três grupos por dia, onde cada passeio leva, em média, 20 pessoas. Os passeios custam aproximadamente R$ 40. Todo dinheiro que é apurado pelos jovens serve de caixa para pagamento de despesas, além de ser distribuídos como renda extra para os mesmos.
"Uma das histórias que a gente conta sobre a comunidade é a famosa lenda da índia Macura. Essa história chama atenção por que conta um pouco das nossas raízes. Se você perceber aqui na comunidade as pessoas são muito diferentes. Ou são mais parecidos com índios. Ou são brancos dos olhos azuis. Ou são negros. Essa mistura nos membros de uma mesma família chama atenção e a gente gosta de destacar", conta Ágabo.
A localidade de Ponta Grossa é uma das menores de Icapuí e abriga 74 famílias, cerca de 250 pessoas. Em 1997, o turismo ainda não era explorado e, diante da necessidade de oferecer um ponto de parada para turistas e bugueiros que faziam o trajeto Canoa Quebrada, em Aracati, até Natal, no Rio Grande do Norte, no ano seguinte foi fundada a Associação de Pesca Artesanal de Lagosta de Ponta Grossa. Após esse ponta pé de organização da comunidade, as estruturas de barracas de praias e pequenas hospedarias ao lados das casas dos próprios pescadores foram tomando forma.
Segundo conta o coordenador de Turismo Comunitário de Ponta Grossa, Eliabe Crispim, a comunidade já organizada precisava ser fortalecida e, em 2008, integrou a Rede Tucum, que ele explica ser uma articulação de comunidades em várias praias do litoral cearense que fazem turismo comunitário. Essa rede, ele acrescenta, contempla 12 praias, que visam, nessa modalidade de turismo, equilibrada com o meio ambiente, geração de renda para seus moradores.
"A nossa inserção na rede contribuiu principalmente para nos auxiliar na capacitação dos moradores. Um dos diferenciais do turismo comunitário é estar mais próximo do turista, inseri-lo dentro da nossa comunidade, onde convive e aprende um pouco sobre o lugar, além do respeito à natureza. Tudo é pensado para que os visitantes saiam daqui com desejo de voltar", ressalta Eliabe Crispim.
Além da Trilha Ecológica, há outras opções, como o passeios de jangada até o local de pesca da lagosta, onde o turista pode conhecer como se dá o processo de pesca artesanal, que é a base que sustenta a economia local, além do passeio de buggy pela costa e outros.
"Nós estamos trabalhando para que logo possamos construir um museu aqui na comunidade. Nossa região é repleta de utensílios e objetos deixados por colonizadores, inclusive já foram encontrados objetos do tempo das cavernas. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já esteve mapeando a área para futuras escavações e nós na comunidade guardamos esses objetos, como peças que contam nossa história. Futuramente esperamos que o turista também possa contar com mais essa opção de passeio", finaliza.
Mais Informações:
Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum)
Ellen Freitas
Colaboradora
Colaboradora
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