A artrose nos joelhos dificulta o andar, mas a professora Maria de Lourdes Portugal de Andrade, de 70 anos, não abre mão da sala no fim do corredor do 2º andar, na Escola Municipal Paula Fonseca, em Colégio, Zona Norte do Rio. Nos seus 50 anos de magistério completados ontem, foi ali, na mesma sala de aula, que ela ensinou várias gerações. E ela não tem planos de se aposentar.
Mas nem sempre a relação com a escola foi assim. Em 28 de fevereiro de 1968, 1º dia de trabalho da professora recém-formada, a unidade, num acesso do Morro Jorge Turco, não tinha portão e era cercada por matagal. Apavorada, estava determinada a não voltar, mas o pai a convenceu do contrário. Apaixonou-se pelos alunos e nunca mais os deixou.
— Saí do curso normal sonhando com uma escola ideal e não encontrei — diz a professora, que dá aula para o 4º ano, de manhã e à tarde.
Também formada em Nutrição, Maria chegou a exercer a profissão paralelamente por 12 anos, até que teve de optar. A professora venceu:
— Não consigo imaginar a vida fora da escola. Posso ter problema em casa, mas é só chegar à aula para esquecer.
O reconhecimento veio há 3 anos: com 35 colegas que acumulavam mais de 25 anos de sala de aula, recebeu da prefeitura o título Professor Carioca 2015. O medo de avião a fez recusar, em 2009, uma viagem a Nova York, prêmio por ter ajudado a escola a conquistar a 2ª melhor nota no Ideb entre as unidades em área de risco.
A ex-aluna Flávia do Carmo, de 32, lembra a tristeza no dia da formatura, porque teve de abandonar a escola — que não tinha o 2º segmento do ensino fundamental — e a professora, que só reencontrou anos mais tarde, quando a filha Pâmela, de 9 anos, se tornou sua aluna.
— Nem acreditei quando soube que minha filha seria aluna dela — disse.
A maioria dos colegas de trabalho não era nascida quando Maria chegou à escola. A última contemporânea se aposentou compulsoriamente em 2017, aos 75 anos. Se depender da diretora, Anna Karolina Ribeiro, será assim com Maria:
— Ela é uma fonte de inspiração para todos nós. Nem as novatas têm o mesmo gás!
A professora — que em 50 anos, só tirou duas licenças — de 3 meses quando a filha nasceu, há 37 anos, e de um dia, quando fez um implante dentário — será homenageada hoje por ex-alunos.
FONTE: EXTRA
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