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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Medo se multiplica como vírus com proximidade do Covid-19

Victor Pessoa se esforça para atender pedidos
 (Thamyres Oliveira)
O medo do contágio do coronavírus tem se espalhado no Recife. É a tia que repassa supostas recomendações e hipóteses para grupos de WhatsApp, a criança que é enviada para a aula com máscara cobrindo o nariz numa das mais tradicionais escolas do Recife, as empresas de produtos hospitalares que contabilizam demanda aumentada em até 300%, as farmácias de um bairro inteiro como Boa Viagem que enfrentam escassez nas prateleiras; e tem o frei da Basílica da Penha que, antes da comunhão, alerta sobre a mudança do rito: a hóstia agora é entregue na mão do fiel; longe da boca.

“As pessoas estão desesperadas, mas esse pavor é desproporcional”, disse a médica infecto-pediátrica e professora da UPE e Uninassau Alexsandra Costa (Entrevista abaixo). A preocupação da especialista está na falta de informação e nas fake news. “Está pior que na zika”, compara a médica, coordenadora de residência em pediatria. Alerta semelhante fez Michael J. Ryan, diretor do programa de saúde emergencial da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nosso maior inimigo agora não é o coronavírus por si só. São o medo, os rumores e o estigma”.

Na Casa do Socorrista do Recife, revendedora de produtos hospitalares e médicos, o telefone toca e o gerenciador de compra do outro lado da linha faz a inusitada encomenda de três mil macacões especiais para proteção química. O empresário Victor Pessoa promete se esforçar para atendê-lo mas avisa que deve conseguir “no máximo, mil unidades”.

Segundo Pessoa, a procura por produtos hospitalares, especialmente máscaras e álcool em gel, cresceu 300%. Pior, as fábricas já avisaram que irão enviar menos da metade dos pedidos realizados. Alegam falta de matéria-prima para a produção. A Casa do Socorrista atende clínicas particulares, hospitais públicos de grande porte como o Pelópidas Silveira e Dom Hélder, e pessoas físicas. “Tem um hospital da cidade que está com estoque baixo e pediu 100 mil máscaras. Não tenho. Pedi 70 mil a uma fábrica e me disseram que mandarão 20 mil porque estão rateando entre os clientes deles. Ou seja, nem sei se vão mandar mesmo. Tudo é incerto”. Já falta álcool e, sexta à tarde, restava uma única caixa de máscara simples. A máscara N95, que tem fator de proteção na ordem de 90%, acabou rápido. “Custava 4,90. Clientes meus dizem que encontraram as últimas numa outra loja por R$ 49,00”, conta. 

A prática de venda limitada e atrelada a CPFs para álcool e máscaras já existe na cidade. O Procon comprovou e a condenou. Nos hospitais, nesta sexta-feira se via profissionais de saúde até do setor da segurança usando máscaras - como entre profissionais da Maternidade Barros Lima, em Casa Amarela.
 
Maria do Carmo Perminio, 69 anos: "Rezo muito
 para que nada aconteça" (Thamyres Oliveira)
Leigos também estão alarmados. A aposentada Maria do Carmo Perminio, 69 anos, contou que a filha encomendou dois litros de álcool. “Meu genro estava com febre e foi agorinha para o hospital. Já eu, comprei a minha máscara quando começou esta zoada toda”, lembra. “Bate o medo mesmo, né? Rezo muito para que nada aconteça”.

A orientação da Arquidiocese de Olinda e Recife para que as paróquias católicas evitem abraços e contato direto na oração do Pai Nosso entre fiéis ou no momento da comunhão foi cumprida nesta sexta pelo frei Cícero Ferreira da Silva, da Basílica da Penha, no bairro de São José. O momento era solene, de rito, mas a informação estava ali: “É uma prevenção para que o vírus não chegue”, explicou.

Nas corridas de taxis, a proliferação do coronavírus - cuja ameaça subiu para “muito alta”, segundo a OMS - ganha corpo nas conversas rotineiras. O tema tem se multiplicado rápido, mas a melhor vacina contra o medo é a informação de qualidade, dizem especialistas.

Entrevista com Alexsandra Costa, professora e médica
Reprodução/Facebook
Como a senhora avalia o temor das pessoas quanto ao coronavírus? 
Parece que está todo mundo desesperado, profissionais de saúde, leigos, mas o pavor é desproporcional. Totalmente desproporcional. Infelizmente, há muita divulgação de fake news, que se propaga com uma facilidade impressionante. O problema todo desse medo, desse pavor, são as fake news que estão pior que na época da zika. Pessoas estão até se passando por médicos, outros se passando por químicos informando que o álcool em gel não funciona...

O que há de verdade quando se fala do coronavírus? 
O que posso afirmar é que a letalidade dele chega a 2,2% na população de risco - que são idosos, hipertensos, diabéticos, idosos, gestantes e pacientes com comprometimento da imunidade. Nesses grupos, a letalidade vai de 2,2% a 2,7%, mas, na população em geral, a letalidade não é alta. A população daqui trouxe a proporção da China de mortalidade para criar esse medo. A mortalidade está alta porque lá o número de casos é alto e a população é mais numerosa.

Mas é recomendado algum tipo de precaução por parte da população? 
O vírus tem realmente uma transmissibilidade muito rápida. Ele pode sobreviver em superfícies por nove dias, mas, se tomadas as devidas precauções de lavar as mãos, evitar aglomerados, fazer higiene nasal com soro fisiológico, especialmente as crianças diariamente, não precisa ter esse pavor todo. Claro, evitar aglomerados nesta fase, mas não precisa usar máscaras quando vai para shopping ou qualquer lugar. E a gente tem um fator, especialmente na pediatria: não se viu, não identificamos até agora nem morte nem óbito em crianças. Então, o que parece é que o sistema imunológico da criança está tão a mil por hora com o amadurecimento que, ao que parece, consegue evitar que o vírus evolua de forma grave, graças a Deus.

E é recomendado o uso de algum tipo de vitamina como proteção? 
Não. Vitamina C, vitamina D e zinco são importantes para a imunidade? São, mas que são eficientes se você tem boa alimentação. Não há dados científicos que superdosagem das vitaminas C, D, A e zinco evitem o coronavírus. Assim como não há vacinas.

FONTE: https://www.diariodepernambuco.com.br/ultimas/2020/02/medo-se-multiplica-como-virus-com-proximidade-do-covid-19.html

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