APITO AMIGO
Vale a pena ser árbitro?
24.08.2014
Virar juiz no futebol é algo que precisa de paciência, vocação e saber suportar os gritos e xingamentos à mãe
Nos próximos dias, a Federação Cearense de Futebol (FCF) vai lançar edital para a criação de um curso de formação de novos árbitros. Mas quem deseja se arriscar no ramo precisa de alguns requisitos: idade mínima de 18 anos, ensino médio completo, não pode ter antecedentes criminais e, obviamente, ser aprovado no curso de formação.
"É bom lembrar que algumas pessoas possuem um desejo enorme de ser árbitro de futebol, mas não têm potencial para apitar um jogo. E acabam abandonando a carreira precocemente", diz o presidente da comissão de arbitragem da FCF, Milton Otaviano, que foi do quadro da Fifa.
A jornada para chegar ao status de Milton requer muitos anos de trabalho. Para se ter ideia, ao ser aprovado no curso de formação, o árbitro começa apitando jogos de campeonatos estaduais das categorias de base. Depois, sobe um degrau e vai comandar partidas da terceira divisão, em seguida, segunda divisão e só depois poderá, enfim, atuar em confrontos da elite estadual. "Ao longo desse período de apitar jogos amadores, até chegar ao profissional, o árbitro é avaliado constantemente por instrutores que estimulam o potencial e o crescimento dele. Com isso, é preciso mostrar evolução e preencher os requisitos necessários para entrar no quadro nacional", lembra Otaviano.
Para sair de jogos estaduais e chegar a pitar partidas pelo País, o árbitro precisa, primeiramente, ter curso superior completo. Além de um determinado número de jogos realizados nos estaduais. Isso se houver vaga disponível para a federação local.
Cada entidade estadual tem um número de vagas determinados. O Estado do Ceará, por exemplo, possui seis para árbitros e dez para assistentes.
"Para chegar a se tornar um árbitro Fifa, é preciso passar por várias etapas. Lembrando que a concorrência é enorme. Só há dez vagas para o Brasil. Na CBF, ele começa na categoria 2, depois sobe para 1, em seguida tem de se tornar aspirante Fifa, que também só há 10 vagas", ressalta o chefe da arbitragem.
Profissionalização
Com a regulamentação da profissão de árbitro, em 2013, o desejo da arbitragem é para uma nova era. "O árbitro precisa que o seu tempo seja exclusivo para o trabalho. Não só apitar um jogo e ali acabar a sua atividade. É necessário uma empresa para gerir um quadro de arbitragem para com isso ele poder estudar, ter acompanhamento médico, fisiológico, psicológico, alimentação regulada, com instrutores e pessoas preparadas para ajudar no seu desempenho. Com isso, poder entrar em campo com todo o seu tempo voltado para a prática da arbitragem", analisa Milton Otaviano.
Orgulho pelo trabalho é um dos motivos do sucesso
Com 18 anos apitando jogos, Almeida Filho é o árbitro com mais tempo em ação no quadro da Federação Cearense de Futebol.
Ele que é filho do ex-árbitro, Assis Almeida, e irmão da ex-árbitra Eveliny Almeida, revela que está realizado. "Nesse tempo todo, a arbitragem não me deve nada, eu é que devo. Comecei com 16 anos, pegando escondido do meu pai o uniforme e o apito. Hoje, posso dizer que apitei jogos com o Ronaldo, Rogério Ceni, Ronaldinho, jogadores que eu só via pela televisão. Então é uma satisfação muito grande e uma realização pessoal enorme", afirma Almeida Filho.
Top
Carolina Romanholi é árbitra - assistente e, ao lado de Thiago Brígido, são os únicos aspirantes Fifa do quadro da FCF. Ela diz que começou a apreciar futebol através da mãe. "Meu pai nunca se interessou muito. Passei a gostar de futebol pela minha mãe. Aí, fiz o curso de educação física. Apesar de não ter muito a ver com arbitragem, é muito bom para o currículo. E foi por isso que me interessei em seguir o caminho da arbitragem e gostei muito", garante.
Carol também comenta que já sofreu com o preconceito por ser mulher num mundo recheado de homens e muito machismo. Mas por incrível que pareça, ela revela que são as mulheres que mais lhe ameaçam e xingam. Sobre o lado bom do trabalho, ela diz os motivos. "Praticamente já conheci todo o Brasil. Em qual profissão você tem essa chance? Fiz muitas amizades com pessoas de quase todos os estados. Além de estar dentro do futebol. Isso realmente é o que me deixa feliz e motivada para continuar trabalhando firme".
Prodígio
Léo Simão tem 24 anos é o árbitro mais novo ao lado de um juiz brasiliense com o escudo da CBF. Por outro lado, o cearense tem uma história curiosa em que por pouco não se tornou jogador do Colorado gaúcho. "Joguei nas categorias de base do Uniclinic dos 14 aos 17 anos e fui sondado pelo Internacional. Como acabou não dando certo minha ida, me senti meio frustrado e acabei desistindo. Então fiz o curso de educação física. Fui ser professor de escolinha no próprio Uniclinic e apitava jogos da garotada. Gostei e quando surgiu o curso de formação fui um dos primeiros a se inscrever", revela Simão, que é consultor de vendas, mas garante que se tivesse de escolher entre as duas atividades não pensava duas vezes. "Com certeza, optaria pela arbitragem. Hoje, vejo que há um futuro muito promissor. Estou trabalhando forte para um dia chegar a ser um árbitro Fifa", admite Léo Simão.
Os obstáculos de ser árbitro não impediram os três cearenses de buscarem o sucesso na função e de seguirem firmes como exemplos para os que vão tentar o sonho de entrarem no futebol.
SAIBA MAIS
Fifa
A idade máxima para concorrer ao quadro da Fifa é de 38 anos e só pode apitar até os 45 anos
Salário
O cachê dos árbitros varia de categoria para categoria, de escudo para escudo e até de campeonato para campeonato. Um Fifa, por exemplo, apitando um jogo da Série A do Brasileiro recebe R$ 3.600,00. Já o assistente recebe 50% do valor que o juiz ganha
Teoria
O curso de formação dos árbitros tem duração de cinco meses com duas aulas teóricas, duas vezes por semana, com carga horária de 220h
Bandeirinha
Todos os árbitros são formados para também exercerem a função de assistente. Somente no decorrer do curso ou até mesmo do início da carreira é que o árbitro opta ou então percebe qual melhor aptidão possui
Mário Kempes
Subeditor
Subeditor
Vale a pena ser árbitro?
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/jogada/vale-a-pena-ser-arbitro-1.1085293
Nenhum comentário:
Postar um comentário