Sempre cabe mais um, diz o dito popular sobre a capacidade que o
'coração de mãe' tem para abraçar as responsabilidades de - na maioria
das vezes - estar na linha de frente de suas famílias. Leia-se como uma
licença poética para o dia, mas, sobretudo, como um alerta para que ela
olhe mais para a sua saúde, a começar pela do coração, no sentido
literal da palavra.
Por tradição, a mulher cuida melhor da saúde que o homem, uma vez que,
historicamente, coube a ela esse papel de cuidadora. No entanto, é fato
que o acúmulo de atividades e múltiplos papéis - de mãe, esposa,
profissional, filha, cidadã, e muitas, de chefe de família - pode levar
algumas mulheres a dispor de menos tempo e, com isso, adquirir hábitos
de vida que favorecem o surgimento de fatores de risco associados a
eventos cardiovasculares (sedentarismo, menor cuidado com a alimentação
gerando obesidade, estresse, tabagismo), afirma a cardiologista clínica
do Hospital do Coração de Messejana, Dra. Danielli. O.C. Lino.
Isso não significa que ela esteja menos atenta aos fatores de risco.
Mesmo porque, afirma, "geralmente são nas consultas com o ginecologista
que esses fatores são detectados. Como a doença cardiovascular é
silenciosa, em ambos os sexos, acaba-se não valorizando o acompanhamento
e tratamento especializado. Porém, ao saberem que tem hipertensão,
diabetes ou "problemas no colesterol", ainda são as mulheres que tendem a
procurar mais o acompanhamento médico do que a população masculina",
afirma.
Indefinições
Os sintomas discretos e inespecíficos explicam em parte a alta
incidência de óbitos em mulheres em decorrência de doenças
cardiovasculares.
Segundo a Dra. Danielli Lino, "no caso do infarto agudo do miocárdio
(que corresponde a pelo menos a metade dos óbitos nesta população), as
mulheres possuem um pior prognóstico em relação aos homens, sendo o
tratamento tardio e inadequado as principais hipóteses para um
desfecho".
No geral, vários sintomas são relacionados, como aperto ou opressão no
tórax, dor com irradiação para mandíbula, pescoço, ombros, orelha ou
para os braços, dor abdominal, enjoos ou vômitos.
No entanto, as mulheres podem apresentar sintomatologia mais leves ou
inespecífica, muito difíceis de serem definidos, como mal-estar e
cansaço, o que dificulta e compromete o diagnóstico inicial, exigindo do
médico uma atenção especial e cuidadosa nos casos de atendimento ao
público feminino. Entre os relatos estão: "dificuldade para respirar",
"dor na barriga e nas costas", "entre as escápulas".
Múltiplos fatores
Estudos relacionam o tabagismo, a hipertensão, o diabetes, a obesidade,
fatores psicossociais (estresse e depressão), sedentarismo e alterações
no colesterol como as principais condições causais para o infarto agudo
do miocárdio (em homens e mulheres).
Sabe-se que tais fatores levam a danos no endotélio (camada celular que
reveste internamente os vasos sanguíneos, inclusive o coração)
predispondo ao surgimento de "placas de gorduras" que ao romperem
provocam o infarto. O tabagismo se constitui em risco para o infarto em
mulheres jovens, principalmente em combinação com diabetes ou o uso de
anticoncepcionais.
Os números realmente não são favoráveis ao sexo feminino. De acordo com a
cardiologista, nos Estados Unidos, uma em cada três mulheres morrem por
doença cardiovascular (DCV), assim como tendem a ter mais morte súbita
que os homens e um pior prognóstico intra-hospitalar. No Brasil não é
diferente, onde a mortalidade do sexo feminino por DCV é de,
aproximadamente, 37%.
Menopausa
O surgimento dos sintomas e eventos tendem a ser de 8 a 10 anos mais
tardios que nos homens, no período pós-menopausa, no qual a teoria
baseia-se na suposta proteção hormonal do endotélio feminino a exposição
estrogênica que antecede a menopausa. Além disso, existe uma maior
incidência no período pós-menopausa de hipertensão arterial, diabetes,
obesidade e dislipidemia.
A hipertensão é o principal fator de risco cardiovascular em mulheres
após a menopausa, sendo nesse período (após os 60 anos de idade) sua
incidência maior que na população masculina. O diagnóstico precoce e o
tratamento adequado estão associados a reduções de eventos
cardiovasculares e renais, principalmente nos relacionados ao AVC.
Embora não existam estatísticas internas, a maioria das mulheres
atendidas no Hospital do Coração Dr. Carlos Alberto Studart Gomes
(referência nestas afecções) tem idade superior a 50 anos e apresenta
hipertensão, diabetes, dislipidemia e tabagismo.
"Chegam ao nosso hospital já apresentando infarto agudo do miocárdio e,
muitas vezes, não eram acompanhadas ambulatorialmente para o controle
dos fatores de risco na assistência básica (responsável pela prevenção
primária). Notamos o aumento de internações em mulheres jovens, entre 30
e 50 anos, geralmente obesas, diabéticas e /ou tabagistas", diz a Dra.
Danielli Lino.
Fonte: DN
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