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No vídeo acima, a especialista Andrea Ramal comenta em detalhes por que a redação do candidato João Pedro Maciel Schlaepfer mereceu uma nota mil no Enem 2014 – que teve como tema a publicidade infantil.
Leia a íntegra da redação abaixo (em itálico) e, na sequência, o comentário baseado no vídeo:
"Quem Sabe o que É Melhor para Ela?
Desde o final de 1991, com a extinção da antiga União Soviética, o capitalismo predomina como sistema econômico. Diante disso, os variados ramos industriais pesquisam e desenvolvem novas formas e produtos que atinjam os mais variados nichos de mercado. Esse alcance, contudo, preocupa as famílias e o Estado quando se analisa a publicidade voltada às crianças em contraponto à capacidade de absorção crítica das propagandas por parte desse público-alvo.
Por ser na infância que se apreende maior quantidade de informações, a eficiência da divulgação de um bem é maior. O interesse infantil a determinados produtos é aumentado pela afirmação do desejo em meios de comunicação, sobretudo ao se articular ao anúncio algum personagem conhecido. Assim, a ânsia consumista dos mais jovens é expandida.
Além disso, o nível de criticidade em relação à propaganda é extremamente baixo. Isso se deve ao fato de estarem em fase de composição da personalidade, que é pautada nas experiências vividas e, geralmente, espelhada em um grupo de adultos-exemplo. Dessa forma, o jovem fica suscetível a aceitar como positivo quase tudo o que lhe é oferecido, sem necessariamente avaliar se é algo realmente imprescindível.
Com base nisso, o governo federal pode determinar um limite, desassociando personagens e figuras conhecidas aos comerciais, sejam televisivos, radiofônicos, por meios impressos ou quaisquer outras possibilidades. A família, por outro lado, tem o dever de acompanhar e instruir os mais novos em como administrar seus desejos, viabilizando alguns e proibindo outros.
Nesse sentido, torna-se evidente, portanto, a importância do acessoria parental e organização do Estado frente a essa questão. Não se pode atuar com descaso, tampouco ser extremista. A criança sabe o que é melhor para ela? Talvez saiba, talvez não. Até que se descubra (com sua criticidade amadurecida), cabe às entidades superiores auxiliá-la nesse trajeto."
Análise da redação, por Andrea Ramal
Como você verá, o candidato já começa bem: o título do texto é instigante, pois desperta a curiosidade do leitor: de quem se fala? Além disso, sutilmente coloca a questão que irá discutir ao longo do texto.
No parágrafo de introdução, o autor situa o tema no contexto. Em vez de usar um “chavão”, como por exemplo: “Desde os tempos mais remotos”, ele localiza o que vai citar no tempo e no espaço. Demonstra conhecimento histórico, pois situa precisamente o nascimento do capitalismo. Apresenta o contraponto que irá discutir: se por um lado o mercado precisa crescer, por outro, a publicidade voltada ao público infantil preocupa famílias e Estado.
Em seguida, o candidato mostra o risco da publicidade dirigida às crianças, com três argumentos: é na infância que se apreendem mais informações; os meios de comunicação atiçam o desejo por produtos; as propagandas articulam produtos a personagens infantis.
Depois, ele reforça a argumentação já exposta, por exemplo afirmando que a capacidade crítica da criança ainda é baixa, por ter vivido poucas experiências.
Na última frase do desenvolvimento, já não há como não concordar com o autor na ideia de que a criança é uma vítima fácil da sociedade de consumo.
Para finalizar, o autor apresenta suas propostas de intervenção social: para ele, o governo federal deve colocar limites na publicidade infantil em todos os meios em que ela acontece; e a família deve cuidar da educação dos desejos e colocar limites nos anseios consumistas desde cedo.
O último parágrafo funciona como reflexão final: como não é possível afirmar ao certo se a criança pode discernir sem ajuda dos adultos, o mais indicado é mesmo protegê-la e ajudá-la a conquistar sua autonomia. Com isso o autor dá sentido ao título, que perguntava “quem sabe o que é melhor para ela?”.
FONTE:
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/1.html
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