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domingo, 29 de maio de 2016

Nosso silêncio ou nossa voz? Declaração dos presbíteros da Região Episcopal Nossa Senhora da Palma - Serra sobre o momento atual



"Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos" (Papa Francisco, EG 183)

Nós, Presbíteros da Região Episcopal Nossa Senhora da Palma - Serra, da Arquidiocese de Fortaleza, reunidos no último dia 25 de maio, para uma de nossas habituais reuniões do Clero da região, decidimos dizer uma palavra de preocupação, solidariedade e discernimento diante dos acontecimentos dos últimos dias, particularmente.

Acompanhamos indignados e com nossas orações o que, especialmente aconteceu no interior de nossos presídio cearenses, onde houve rebeliões e mortes de irmãos presidiários. O que acontece é reflexo de um sistema prisional falido, que há muito tempo não ressocializa, não reeduca, onde nossos presos não são tratados como pessoas com dignidade.

Repudiamos a mentalidade punitiva, reforçada pela mídia, que impera em nossa sociedade claramente manifesta em falas do senso comum e de pessoas sem um sadio espírito crítico quando admitem que "bandido bom é bandido morto!".

Discordamos da posição equivocada de muitos que admitem que a simples construção de mais penitenciárias seja a solução inteligente e eficaz para resolver o problema da violência e da superlotação de nossas cadeias.

Rejeitamos a maneira como nossos irmãos presos são tratados, a lentidão de um Estado que não se apressa em atender aos direitos básicos dos presidiários e daqueles que trabalham no sistema prisional, como os agentes penitenciários. Não concordamos que a simples política de encarceramento resolva substancialmente a situação de violência e de insegurança em nossas cidades, sejam elas grandes ou pequenas, do Interior - como as cidades do Maciço de Baturité - ou a própria Capital.

Qualquer intervenção cogitada, nessa hora de tensão, desespero e situação-limite que não leve em conta a dignidade do presidiário, o direito da família de visitá-lo no encarceramento, a urgente revisão de seus processos, é preocupante e lamentável.

Como Igreja, associamo-nos a todos que de maneira sincera e solidária se colocam na procura incansável do bem comum e diminuição das injustiças, no reconhecimento dos direitos de todos seja em qual situação estiver. Por isso, aqui, manifestamos nossa solidariedade e orações pelos nossos irmãos presidiários, assim como Professores e Professoras da Rede Estadual e Ensino que se encontram em greve lutando por uma escola gratuita e de qualidade, também pelas ocupações de alunos/as em muitas escolas cearenses que se somam a esses lutadores, na consciência de que somente uma escola com as demandas reclamadas atendidas é que se tem de fato a possibilidade de uma educação melhorada.

Ainda nos preocupa e não podemos nos calar diante da realidade de um Governo Interino no País, que na ânsia de equilíbrio das contas e em nome de um ajuste fiscal, retire direitos conquistados pelos trabalhadores/as. A solução não pode ser atendendo à lógica do mercado e interesses de partidos, porque isso se desvia do caminho da justiça. E, como nos afirma o Catecismo da Igreja Católica, "o primado da lei do mercado vai contra a justiça social" (nº 2425).

Convidamos todas as nossas comunidades paroquiais, no Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, a fazermos a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas variadas periferias (...), porque somos chamados a cuidar das feridas de nossos irmãos, aliviar sua dor com o óleo da consolação e ter misericórdia (cf. Misericordiae Vultus, nº 15).

Inspiremo-nos, nesta hora, nas palavras do Profeta Amós: "Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca" (Am 5,24). Que a gente não tenha uma fé cômoda e individualista e, que Nossa Senhora da Palma, mãe e padroeira desta Região Episcopal, ajude-nos em nosso evangélico compromisso de promoção e de defesa da vida.


Redenção, 25 de maio de 2016

Pe. Luiz Abner Cavalcante de Almeida, Pároco de Acarape e Vigário Episcopal
Pe. Antonio Cláudio Pereira de Oliveira, Pároco de Aratuba
Pe. Francisco Maurício Lopes da Silva, Pároco de Ocara
Pe. José Benício Nogueira, Pároco de Baturité
Pe. José Linhares Arcanjo, Pároco de Antonio Diogo (Distrito de Redenção)
Pe. Marco Antonio dos Santos Brito, Pároco de Pacoti
Pe. Marco Antonio Freitas Maciel, Pároco de Mulungu
Pe. Raimundo Maciel Gomes, Pároco de Palmácia
Pe. Frei Gilberto Siqueira Alves, Pároco de Guaramiranga
Pe. Rodrigo Almeida de Castro, Pároco de Ideal (Distrito de Aracoiaba)
Pe. Francisco Moreira da Silva Neto, Pároco de Putiú - Baturité
Pe. Raimundo Nonato da Silva, Pároco de Redenção
Pe. Evando Alves de Andrade, Pároco de Aracoiaba
Pe. João Bosco Porfírio Rodrigues, Pároco de Barreira
Pe. Francisco Dácio Albuquerque Araújo
Pe. Moacir Cordeiro Leite


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