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domingo, 29 de março de 2020

"Se eu tiver que errar, que seja pelo excesso e não pela omissão", diz Camilo sobre renovação de quarentena

Camilo teve encontros virtuais com representantes do setor produtivo, que pressionam o governador a autorizar a retomada dos trabalhos
Governador deu entrevista exclusiva ao O POVO
 neste sábado, 28 (Foto: REPRODUÇÃO)
Em entrevista exclusiva ao O POVO neste sábado, 28, após reunião com autoridades de saúde do Ceará, o governador Camilo Santana (PT) falou que as decisões que serão tomadas no Estado “levarão em conta aspectos econômicos”, “mas, em primeiro lugar, será considerada a saúde das pessoas”.

Questionado se deve renovar o decreto de quarentena que suspendeu as atividades do comércio e o transporte intermunicipal, o chefe do Executivo respondeu: “Não podemos aumentar o risco da nossa população. Ela precisa ser protegida. E disso não abrirei mão. Se tiver que errar, que seja pelo excesso e não pela omissão”.

De ontem para hoje, Camilo teve encontros virtuais com representantes do setor produtivo, que pressionam o governador a autorizar a retomada dos trabalhos a partir desta segunda-feira, 30. Nessa sexta-feira, o presidente da República Jair Bolsonaro afirmou que eventual responsabilidade por danos financeiros seria dos gestores estaduais.

O governador deve decidir amanhã se prorroga ou não a validade do documento que determinou isolamento e suspensão temporária por dez dias, publicado no dia 20/3. O prazo expira na segunda.

Sobre a postura de Bolsonaro diante das ações de combate ao novo coronavírus no País, o petista declarou: “Eu diria que tem havido graves equívocos na condução dessa crise. Defendo uma coordenação nacional das ações por parte do Governo Federal. Na ausência disso, cada estado age de forma diferente e toma medidas diferentes tentando proteger a população do seu estado”.

Apenas no Ceará, já são 282 casos confirmados da infecção. Três pessoas morreram. O estado tem o maior número de contágios do Nordeste e o terceiro do Brasil.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com o governador Camilo Santana:

O POVO - Como avalia o conjunto de medidas tomadas até agora no estado do Ceará contra o coronavírus?
Camilo Santana – Um mês antes de qualquer caso confirmado do Ceará, já havia um plano de contingência feito pelo nosso secretário dr. Cabeto e sua equipe. Também autorizei imediatamente recursos para a compra de equipamentos, testes de diagnóstico e insumos médicos (R$ 245 milhões até aqui), a abertura imediata de um novo hospital com 230 leitos exclusivamente para pacientes com coronavírus, além de mais 150 leitos extras anexados a três hospitais, e a preparação de alas exclusivas para receber esses pacientes em outras unidades do estado, inclusive nos hospitais regionais. Além de todas essas medidas, o Ceará foi um dos primeiros estados a sair com decreto que visava a menor circulação de pessoas nas ruas, para evitar uma proliferação rápida e em massa do vírus, o que poderia colapsar o sistema de saúde já nos primeiros dias. Solicitamos também o cancelamento de voos internacionais no Ceará e a permissão para nossas equipes atuarem na chegada de passageiros, já que essa decisão depende do Governo Federal. Foram muitas medidas, e outras continuam sendo adotadas dia a dia para tentarmos conter, ao máximo, o avanço mais rápido do coronavírus e proteger nossa população.
OP Por que há grande número de casos da infecção no estado, que adotou precauções contra a pandemia desde o começo?
Camilo Os próprios especialistas apontam dois fatores. O primeiro, que o Ceará tomou a decisão de fazer o máximo de testes possíveis. E quanto mais se testa, mais você detecta. Isso é fundamental para podermos agir de forma rápida e estratégica. Não sei como outros estados estão fazendo. Determinei logo a compra de 20 mil kits de diagnóstico, e outros 350 mil testes rápidos também estão sendo adquiridos. E o segundo fator que atribuo é o fato do Ceará ter se tornado o maior ponto de conexões aéreas do Nordeste. São dezenas de voos, muito importantes para a economia de qualquer estado mas que, neste momento, foram um complicador. Como foi em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, que lideram os casos. Por isso, a importância do maior controle nos aeroportos logo no começo, papel que caberia à Anac e Anvisa, do Governo Federal.
OP O Governo Federal derrubou na justiça a barreira sanitária no aeroporto. A gestão Bolsonaro tem atrapalhado no combate ao vírus?
Camilo Eu diria que tem havido graves equívocos na condução dessa crise. Defendo uma coordenação nacional das ações por parte do Governo Federal, como há em muitos países que enfrentam a pandemia. Na ausência disso, cada estado age de forma diferente e toma medidas diferentes tentando proteger a população do seu estado. Falta uma diretriz clara, considerando o que aponta a Organização Mundial de Saúde como eficaz para conter a pandemia. Do ponto de vista da economia, houve alguns anúncios importantes recentemente e isso deverá ajudar muito. Mas não se pode dissociar as coisas. É preciso, em primeiro lugar, atenuar esse crescimento geométrico dos casos para não colapsar rapidamente o sistema de saúde. Isso é urgente.
OP Há uma pressão para voltar à normalidade. O senhor pretende renovar o decreto que determinou o fechamento do comércio?
Camilo Converso diariamente com nossos especialistas em saúde. Temos um respeitado secretário e uma equipe muito competente que nos dão o real cenário da crise e as projeções. Faço questão de acompanhar tudo para estar bem embasado na tomada de decisões. Também tenho conversado com os representantes do setor produtivo e ouvido suas demandas. É muito importante a manutenção dos empregos e a geração de renda para as famílias. Tenho essa preocupação, especialmente com os mais pobres, com os autônomos. Tanto que isentei por 90 dias a conta da água de 338 mil famílias de baixa renda do estado e suspendi a taxa de contingência da água de 221 mil domicílios de Fortaleza e RMF. Também antecipei o pagamento do benefício de quase 50 mil famílias carentes, que recebem uma ajuda do governo do estado. E anunciarei novas medidas de ajuda a essa população em breve. As decisões tomadas levarão em conta esses aspectos econômicos. Mas, em primeiro lugar, será considerada a saúde das pessoas. Não podemos aumentar o risco da nossa população. Ela precisa ser protegida. E disso não abrirei mão. Se tiver que errar, que seja pelo excesso e não pela omissão.
OP Essa é a segunda crise de grandes proporções que o Ceará enfrenta desde o início do ano. A primeira foi a da segurança, para a qual o senhor deu uma resposta eficaz e rápida. Como avalia esses dois momentos (motim da PM e quarentena sanitária)? Houve algum aprendizado antes que esteja sendo útil agora?
Camilo São situações muito diferentes. Vivemos hoje uma crise mundial, que já contaminou e matou milhares de pessoas e abalou a economia do planeta. Nações ricas estão em colapso. Em comum nessas duas crises aqui no estado, diria que apenas a determinação que tenho de enfrentar com todas as minhas forças para proteger a população para que ela sofra menos. É o que mais penso neste momento. Que pessoas consigam o atendimento quando precisarem. Por isso precisamos achatar a curva de contaminação. Para evitar que muitos fiquem doentes ao mesmo tempo e o sistema de saúde não consiga atender a todos, como acontece em países ricos como a Itália e a Espanha. O caminho ainda é longo para sairmos dessa crise, mas sei que vamos vencer. Lutarei dia e noite por isso.
FONTE:https://www.opovo.com.br/coronavirus/2020/03/28/se-eu-tiver-que-errar--que-seja-pelo-excesso-e-nao-pela-omissao---diz-camilo-sobre-renovacao-de-quarentena.html

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