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terça-feira, 15 de novembro de 2011

LETRA FEIA NÃO É SÓ PRESSA OU PREGUIÇA. PODE SER DISGRAFIA <<>> IMPORTANTE.

Aprendizado
 
 
Letra feia não é só pressa ou preguiça. Pode ser disgrafia


Transtorno de aprendizagem afeta a capacidade de escrever ou copiar
letras, palavras e números.
 
Nathalia Goulart

Disgrafia: exercício mostra letra de adolescente de 14 anos
 
Disgrafia: exercício mostra letra de adolescente de 14 anos (Reprodução)
 
Assim como em outros transtornos de aprendizado, o tratamento da
disgrafia é multidisciplinar e envolve neurologistas, psicopedadogos,
fonoaudiólogos e terapeutas.
 
Com os cadernos de caligrafia fora de moda nas escolas, a letra ilegível
deixou de ser marca registrada apenas de médicos e apressados. Atraídos
pelo computadores, crianças e jovens tendem a exercitar pouco a letra
cursiva - antes treinada à exaustão nas folhas milimetricamente
pautadas. Assim, a hora da escrita pode virar um tormento: tanto para
quem escreve quanto para quem lê. Nas crianças em idade de
alfabetização, no entanto, a atenção de pais e professores deve ser
redobrada. Letra feia no caderno pode não ser apenas falta de jeito com
o lápis ou caneta, mas, sim, um transtorno de aprendizagem conhecido
como disgrafia, que afeta a capacidade de escrever ou copiar letras,
palavras e números. O centro do problema está no sistema nervoso, mais
precisamente nos circuitos neurológicos responsáveis pela escrita.
 
“A disgrafia pura ocorre ainda durante a gestação e já nasce com a
criança. Ela não é adquirida”, explica Rubens Wajnsztejn, neurologista
especializado em infância e adolescência. De acordo com Marco Antônio
Arruda, neurologista do Instituto Glia de Cognição e Desenvolvimento,
estudos apontam que a disgrafia é mais comum em meninos e é detectada
ainda na infância, depois que o processo de alfabetização é consolidado,
por volta dos oito ou nove anos. “A disgrafia pode ocorrer em adultos
também, mas somente quando ocorre uma lesão, como um derrame, que pode
comprometer a coordenação motora de mãos e braços”, afirma o médico.
“Mas, nesse caso, já não se trata mais de disgrafia pura”.
 
Ainda na infância, a dúvida é saber quando a letra ilegível vai além da
preguiça ou pressa e deve ser tratada como transtorno. Um teste
eficiente é pedir que a criança escreva algumas frases em uma folha sem
linhas, conta Raquel Caruso, psicomotricista e coordenadora da Equipe de
Diagnóstico e Atendimento Clínico (Edac). Se o resultado for uma escrita
lenta, com letras irregulares, retocadas e fora das margens, é hora de
preocupar-se. Além disso, os disgráficos têm dificuldades em organização
espacial: daí, a escrita em que as palavras parecem “subir e descer o
morro”.
 
Os sintomas da disgrafia não se referem exclusivamente à escrita. Alguns
outros sinais de alerta podem ajudar os pais antes mesmo da
alfabetização dos filhos. “Se você leva a criança a uma festa junina,
por exemplo, observe se ela tem ritmo para acompanhar as músicas,
memória para fixar os passos e atenção aos movimentos”, diz Raquel
Caruso. Se observada alguma dificuldade nesse sentido, é hora de
estimular a prática de exercícios físicos como correr e nadar, além de
brincadeiras como amarelinha, pintura e recorte para estimular a parte
motora dos pequenos. A falta dessas atividades pode comprometer o tônus
muscular, piorando a já difícil situação dos disgráficos.
 
*Rendimento escolar* – É importante ressaltar que a disgrafia não
compromete o desenvolvimento intelectual da criança nem é um indicador
de que o Q.I. (quociente de inteligência) dela é baixo. Silvana
Leporace, coordenadora do serviço de orientação educacional do Colégio
Dante Alighieri, em São Paulo, reforça: “Geralmente, os disgráficos são
alunos muito inteligentes. A comunicação oral deles é muito boa, mas, na
hora de colocar as ideias no papel, eles têm muita dificuldade”, conta.
 
É esse desdobramento do problema que pode prejudizar o rendimento do
aluno. Devido à dificuldade no ato motor, a criança demora mais a
realizar algumas atividades, em comparação a seus colegas. É o caso de
tarefas simples como copiar a lição da lousa. Outra situação típica: a
professora pede que os estudantes redijam um texto, e o disgráfico,
envergonhado pela a letra feia, conclui que nem vale a pena escrever.
“Isso abala a autoestima da criança”, diz Sônia das Dores Rodrigues, da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Diante do obstáculo, ele deixa de aprender.
 
Sem o treinamento exaustivo da caligrafia, a atenção na escola deve ser
redobrada. “Se o treinamento da letra cursiva existe desde cedo, é
possível encontrar os disgráficos. Com a prática em desuso, os
professores e pais podem confundir digrafia com preguiça”, alerta Marco
Antônio Arruda. “Mas a letra feia pode ser treinada e as crianças tidas
como preguiçosas têm as habilidades necessárias para escrever bem. Já as
digráficas, não: elas não tem habilidade e precisam de tratamento.”
 
*Como tratar* – Assim como em outros transtornos de aprendizagem, o
tratamento da disgrafia é multidisciplinar e envolve neurologistas,
psicopedadogos, fonoaudiólogos e terapeutas. Medicamentos só são
indicados quando existem outros transtornos envolvidos, como déficit de
atenção (DDA) ou hiperatividade.
 
Em relação à parte motora, Raquel Caruso, do Edac, afirma que é
necessária uma preparação prévia do paciente, com exercícios mais
amplos, para depois chegar à escrita. “O ponto principal é trabalhar com
o corpo, com exercícios como manusear a argila e massagens, e depois
partir para o específico, que é a escrita e outros problemas, como o de
memória”, explica. “Vemos apenas o produto final, que é a letra
ilegível, mas existe muita coisa por trás disso”. O tratamento pode
levar meses e até anos, variando conforme o caso. O objetivo não é
atingir a letra bonita, mas, sim, legível. E dar uma forcinha para o
processo de aprendizado das crianças.

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