*-** Porra, tá frio aqui em cima.*
*- O céu não tem temperatura, minha senhora – pondera um porteiro celestial de plantão.*
*- Não tem o cacête. Tá frio sim senhor – insiste Dercy.*
*- Prefere o inferno? Lá é mais quentinho!*
*- Manda tua mãe pra lá. Cadê o Pedro?*
*- Pedro só atende aos purificados.*
*- E eu tô suja por acaso? Tô cagada, mijada ou esporrada?*
*- Você primeiro tem que passar pelo purgatório, ajustar umas continhas…*
*- Não devo nada a viado nenhum.*
*- Você foi muito sapeca lá por baixo.*
*- Como é que você sabe? Andava escondido debaixo das minhas saias?*
*- Dercy, daqui de cima a gente vê tudo.*
*- Vê porra nenhuma. Vê a pobreza, a violência, meninas de 4 anos sendo
estupradas pelos pais, político metendo a mão no dinheiro dos pobres, carinha cheirando até bosta pra ficar doidão? O que vocês vêem? Só me viam?*
*- Você fala muito palavrão.*
*- Eu sempre disse que o palavrão estava na cabeça de quem escutava.*
*Palavrão é a fome, a falta de moral destes caras que pensam que o mundo é deles. Esses goelas grandes e seus assessores laranjas, tangerinas e o cacête!*
*- Está vendo? Outro palavrão.*
*- Cacête é palavrão, seu porteiro do caralho? Palavrão é a Puta Que o Pariu!*
*(silêncio por alguns segundos)*
*- Seja bem vinda Dercy. Sou Pedro. Pode entrar.*
*- CARAAAAAALHO!!! Não é que eu morri mesmo?!!! E o purgatório?*
*- Você já passou 101 anos por ele, lá no Brasil.*
*Venha descansar!!!*
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