REFERÊNCIA AOS POBRES
Brasileiro inspirou nome do papa
17.03.2013
Pontífice gostou do conselho de dom Cláudio Hummes e resolveu homenagear São Francisco de Assis
Vaticano. O papa Francisco revelou ontem a jornalistas que se inspirou nas palavras do cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, que é arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação de Bispos, para escolher seu nome. Francisco contou que à medida que a eleição no conclave evoluía para a escolha do nome a ser utilizado por ele como novo papa, dom Hummes o abraçou e recomendou: "Não se esqueça dos pobres".
O papa demonstrou simpatia e bom-humor na breve audiência com os jornalistas, que durou menos de 30 minutos. O local escolhido foi a Sala Paulo VI, no interior do Vaticano , com capacidade para 8 mil pessoas FOTO: REUTERS
Ao ouvir as palavras do cardeal brasileiro, o pontífice pensou em São Francisco de Assis, o santo que é um símbolo de austeridade, paz e serviço aos pobres. "Imediatamente me veio à mente São Francisco, o defensor dos pobres, que combatia as guerras e o homem da paz", disse o papa, que se comunicou a maior parte do tempo em italiano, mas também falou em espanhol.
Ainda sobre a escolha do nome, o papa se referiu a São Francisco de Assis como "o homem que nos dá esse espírito de paz, um homem pobre", e acrescentou: "como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres".
Francisco disse que também recebeu sugestões para escolher o nome de Adriano em alusão ao papa Adriano VI, reformador e considerado moderno. Outra sugestão era o nome Clemente. "Mas aí eu disse: ´Não, Clemente foi o papa que pensou em extinguir a ordem dos jesuítas, a minha´. Isso eu não podia fazer", contou o novo papa.
Leveza e humor
O papa demonstrou simpatia e bom-humor na breve audiência com os jornalistas, que durou menos de 30 minutos. O local escolhido foi a Sala Paulo VI, no interior do Vaticano, com capacidade para 8 mil pessoas. A sala ficou lotada. Muitos profissionais e funcionários do Vaticano levaram as famílias para a audiência com a imprensa.
Para a audiência, marcada para às 11h (7h de Brasília), muitos jornalistas madrugaram na fila de acesso às entradas para a sala. Detectores de metais e uma segurança rigorosa atrasavam o processo de entrada. No interior da Sala Paulina, apenas alguns áreas podiam ser ocupadas. Os locais com visão privilegiada foram destinados aos chamados vaticanistas - profissionais especialistas em Vaticano - e funcionários da Santa Sé.
Ainda no encontro de ontem, o papa provocou gargalhadas ao brincar com o ritmo excessivo de trabalho nos últimos dias. "Obrigado pelo trabalho de vocês. Como vocês trabalharam nos últimos dias", disse em italiano, dando um sorriso em seguida.
O papa Francisco foi presenteado com uma cuia de chimarrão - que na Argentina é chamada de mate - pela jornalista argentina Virginia Bonard, que é especialista em temas religiosos.
O papa também surpreendeu ao cumprimentar uma pessoa com deficiência visual que estava com um cão-guia. Após cumprimentá-la, Francisco fez um carinho no cachorro - um labrador, que se comportou tranquilamente na frente de Francisco.
Bênção
Entre as pessoas que estavam presentes na Sala Paulo VI estava a dona de casa argentina, Maria Laura Di Bella, casada com um jornalista argentino. A mulher estava acompanha de suas duas filhas - Maria Teresa, de 2 anos, e Caterine, de 1 ano - para receber a bênção papal. "Viemos para cá porque meu marido é correspondente aqui no Vaticano e nós somos muito católicos. Estou muito feliz, pois o papa Francisco é um homem boníssimo", afirmou.
Durante a audiência com o papa, Maria Laura incentivou as filhas pequenas a chamarem pelo nome "Francisco". Em seguida, ela explicou. "Tenho certeza que o conclave foi guiado pelo Espírito Santo. Conhecemos o papa desde que era arcebispo de Buenos Aires . É um excelente sacerdote que sempre pensa naqueles mais necessitados. É totalmente desprendido e realmente bom".
Imprensa e Igreja têm pontos de proximidade
Vaticano O papa Francisco disse ontem que a Igreja Católica Apostólica Romana e a imprensa têm "pontos de proximidade na comunicação" com os povos. Segundo o papa, ambas são orientadas pelos mesmos princípios - a verdade, a bondade e a beleza. Em seguida, ele disse que, mesmo os não católicos teriam sua bênção, pois todos são "filhos de Deus".
"A verdade, a bondade e a beleza são pontos de proximidade entre a Igreja e a imprensa", disse, em italiano. "Sei que muitos aqui não pertencem à Igreja, mas peço que respeitem sua consciência e sabendo que são filhos de Deus, eu os abençoo", acrescentou, em espanhol.
Advertência
O papa, porém, advertiu que a cobertura da imprensa sobre a Igreja tem distinção em relação a outros temas. Segundo ele, na Igreja o que guia as ações é o Espírito Santo, e não a política. "A Igreja não tem uma natureza política, mas espiritual. Aqui o centro das atenções não é o sucessor de Pedro, mas a Igreja".
Apenas os jornalistas denominados vaticanistas, funcionários da Santa Sé e alguns padres e freiras puderam cumprimentar individualmente o papa.
Encontro com Bento XVI e Kirchner
Vaticano O papa Francisco visitará Bento XVI no dia 23 de março em Castelgandolfo, a residência papal próxima de Roma onde o papa emérito mora desde sua histórica renúncia no dia 28 de fevereiro deste ano, informou o Vaticano. Amanhã, porém, o pontífice argentino receberá a presidente de seu país, Cristina Kirchner, naquela que será a primeira audiência do novo papa com um chefe de governo.
A audiência acontecerá na Casa Santa Marta, onde o Papa reside temporariamente à espera da mudança para o apartamento pontifício no Palácio Apostólico.
Cristina Kirchner também assistirá, no dia seguinte, à missa de entronização do novo papa, na qual deverão estar presentes cerca de 150 chefes de Estado e de governo. A presidente da Argentina, que é católica, desejou uma "frutífera tarefa pastoral" para Francisco, mas mantém uma fria relação com o até semana passada cardeal Jorge Mario Bergoglio, especialmente desde que o Congresso legalizou o casamento gay em 2010.
No próximo dia 23, o Papa Francisco viajará de helicóptero até Castelgandolfo, a 30 quilômetros da capital italiana, para um almoço com o antecessor.
Francisco conversou por telefone com Bento XVI na quarta-feira (13), pouco depois da eleição. Desde então, o novo pontífice reservou palavras afetuosas para o antecessor em cada uma de suas aparições públicas.
Elogio
Para aquele apontado pelo próprio papa como inspirador de seu nome, o brasileiro dom Cláudio Hummes, a eleição de Francisco já representa os novos tempos da Igreja Católica Apostólica Romana. "É um papa da América latina, um argentino, nosso vizinho. Tudo isso era algo de forte, significativo, que indicava tempos novos para a Igreja, que tanto precisa neste momento", disse ontem em entrevista à rádio do Vaticano.
Dom Hummes contou que pediu para estar ao seu lado ao ser apresentado aos fieis. "Ele me convidou e me disse: ´Venha, esteja comigo, ao meu lado neste momento´. Eu fui junto com o cardeal Vallini e era apenas um menino feliz", explica.
FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1243045
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