ENTREVISTA
Ela é diferente
28.09.2014
No ar em "Império", Leandra Leal diz que sua heroína foge do clichê romântica-sofredora, revela como encontra foco para múltiplas atividades, conta que se desloca de bicicleta e tem vontade de ser mãe
Leandra Leal tinha 10, 11 anos quando se candidatou a presidente do grêmio da Escola Parque. Em campanha, fez, à mão, cédulas para distribuir entre os eleitores com a inscrição: "Voto certo é na Leandra". Quem relembra a história é a atriz Angela Leal, mãe da protagonista de "Império", para ilustrar o jeito inquieto da filha. "Guardei as cédulas e dei de presente de aniversário para ela há um tempo. Ela ficou louca!".
Mas hoje, aos 32 anos completados em 8 de setembro, Leandra acredita que está "mais calma e tranquila". Com certeza, a meditação, a vivência e a maturidade trouxeram outro ritmo à vida dela. "Eu era acelerada até 20 e poucos anos. Agora sou mais relax. Mas embora as pessoas me achem calma, internamente eu não sou. Aprendi que temos que ter paciência com a vida, porque não dá para controlar tudo", diz .
Projetos
Assumidamente ansiosa, Leandra está sempre envolvida em vários projetos. Não que ela execute todos ao mesmo tempo, como faz questão de frisar. Mas sempre que acaba um trabalho, já tem outro engatilhado. Como agora, que se divide entre as gravações da novela das 21h, a edição de dois documentários, um sobre a vinda de turistas para o Brasil na Copa, e outro sobre o Divinas Divas, grupo formado nos anos 1950 por Rogéria, Jane Di Castro e cia. Também administra com a mãe o Teatro Rival, no Centro do Rio.
"Eu tive uma criação que me mostrou que nada é à toa, de que é necessário trabalho para as coisas acontecerem. Eu tenho essa inquietude que me leva a pensar no processo como um todo", conta ela, que ainda está em dois filmes do Festival do Rio, "Love film festival" e "O fim de uma era".
A atriz havia acabado de fazer o remake de "Saramandaia" e estava envolvida com trabalhos no cinema, a montagem dos documentários e uma série do GNT que vai dirigir, quando foi chamada por Aguinaldo Silva para um papel escrito para ela. Não deu para recusar.
"Império" veio de surpresa, mas quando Aguinaldo falou que tinha escrito para mim achei incrível, fenomenal. Aí fui lendo a novela, me empolgando. Quando soube que trabalharia com a Drica (Moraes), me animei ainda mais. E está sendo maneiro. Aguinaldo disse que me queria no papel porque Cristina não é uma mocinha romântica e sofredora", declara.
Nova heroína
Para Aguinaldo, "Leandra Leal é na vida tudo o que as heroínas de novela deviam ser. Ela é antenada, comprometida politicamente, sempre tentando realizar através do trabalho", elogia o autor. "Os encontros dela com o suposto pai são sempre cenas de grande emoção, assim como os embates dela com a tia Cora... E ternas e amorosas suas conversas com o sobrinho (Adriano Alves), com o irmão (Rafael Losso) e suas reuniões com Xana (Aílton Graça) e os outros vizinhos" completa.
Ao ler o perfil de Cristina, Leandra conta que sentiu imediata vontade de dividi-la com a mãe, por achar que Angela é mestre em viver personagens populares. "Passamos muito o texto no início. E não fazíamos isso há uns 15 anos! A Cristina tem essa pegada popular, e minha mãe é gênia nisso", conta.
Logo nos primeiros capítulos, a personagem perde a mãe, fica sem trabalho e vê o irmão ser preso. Segundo Leandra, apesar do sofrimento legítimo, Cristina não se vitimizou. "Se alguém não ficasse tocado com isso, teria coração de pedra. O eixo da Cristina é a família, por isso ela quis e quer resolver tudo. É uma mulher muito orgulhosa e vai atrás do que quer".
Influenciada pela tia que a criou, a moça vai atrás do suposto pai, José Alfredo (Alexandre Nero), que, por enquanto, ainda desconfia das suas intenções. No meio tempo, reencontrou um antigo amor, Vicente (Rafael Cardoso), com quem assumiu um relacionamento, deixando para trás o noivo, Fernando (Erom Cordeiro).
"O cara é um parceiro que passou por momentos difíceis ao lado dela. Difícil você assumir que virou apenas um amigo. E que está apaixonada por outra pessoa", adianta Leandra, contando que está achando a novela "tão maneira" que costuma passar o fim de semana lendo todos os capítulos da história.
Nada de rotina
Ao ingressar na novela, Leandra tinha noção de que teria menos tempo para se dedicar a outras atividades. Mas ela não se incomoda com a falta de rotina.
"Pode até ser difícil de entender, mas novela é um processo. Tem cenas que são à noite, no estúdio, é normal que seja assim, porque depende de um trabalho criativo. Tem fases do trabalho que são mais regradas. Não é uma falta de rotina louca, sem explicação", diz.
Para Angela Leal, a participação da filha em "Império" tem sido boa para que a atriz se dedique a apenas uma atividade. "Ela diz que não, mas faz tudo ao mesmo tempo, sim. A novela está impedindo, ela tem foco numa coisa só", entrega a mãe.
Grande apoiadora das realizações da filha, a atriz relembra que, na fase da adolescência de Leandra, as duas tiveram suas discussões. Mas, passado esse momento, o relacionamento é "uma delícia".
Parceria com a mãe
"Somos cúmplices, temos total liberdade. Às vezes eu quero falar de um assunto, digo a primeira palavra e ela me olha daquele jeito de que não quer falar sobre. Eu entendo na hora. Quando soube que teria uma menina, me olhei no espelho e percebi que aquela criança seria um aperfeiçoamento do que eu sou", recorda.
Assim como a mãe, Leandra é fissurada no carnaval carioca. Há anos desfila pelo tradicional Cordão da Bola Preta, do qual é porta-estandarte. A atriz diz que o carnaval é o seu réveillon, a sua "festa do caos". "Tem muito ator que não gosta, mas para mim é o momento da suspensão da regra, da rotina. Você vê as pessoas brincando, jogando, agindo como a fantasia", justifica.
Apesar do trabalho intenso que acaba consumindo muito da vida pessoal, Leandra diz que as horas de folga são muito preciosas. Esses momentos são dedicados ao marido, Alê Youssef, analista político, produtor cultural e apresentador do "Navegador", na GloboNews, à casa e aos cachorros.
"Invisto meu tempo livre em coisas que são especiais para mim. Eu frequento, saio e vou a lugares do meu círculo de amizades. Também costumo prestigiar os amigos nas estreias teatrais", enumera ela, que ainda se dedica à uma alimentação regrada e à malhação, com técnica que mistura várias modalidades. "Malhar e ter uma alimentação bacana foi algo que aprendi com o tempo".
Mas, por conta do trabalho, Leandra adiou, por enquanto, os planos de engravidar depois da novela. É que ela se prepara para mais uma nova experiência: dirigir a série "Idade perigosa", no GNT.
Filhos
"É um plano que está batendo na porta, é uma etapa da vida. Mas já começo a série logo depois da trama. Eu vou dirigir com o Esmir Filho e quem escreve é o Lucas Paraizo. É um projeto meu, do Lucas, da Carol (Carolina Benjamin) e da Rita (Toledo). Nos conhecemos há 'zilênios', desde o colégio, e essa série é sobre a adolescência nos anos 1990", avisa.
Enquanto esse projeto não tem início, Leandra está interessada em outra questão: as eleições, em outubro. "Política eu acho que interfere na vida de todo mundo. Até não ser politizado é uma postura política", defende ela, que chegou a participar dos protestos no Rio de Janeiro, na época em que fazia "Saramandaia".
A atriz gosta de sentir o clima da cidade. Por conta da paixão pelo Carnaval e pela localização do Teatro Rival, é frequentadora da Saara, o famoso comércio popular do Centro.
Para se deslocar pela Zona Sul, onde mora, só anda de bicicleta. O carro, ela só usa mesmo quando é imprescindível. Para a atriz, ainda não há respeito pelo ciclista.
Natália Castro
Agência o Globo
Agência o Globo
FONTE:
DIÁRIO DO NORDESTE
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