TRANSFORMAÇÕES
Tempo de construir
13.04.2015
Os problemas atuais de Fortaleza servem de estímulo para quem crê na possibilidade de mudanças
Uma cidade de contrastes. No dia em que completa 289 anos, Fortaleza ainda carrega consigo altos índices de desigualdade social, violência urbana e problemas estruturais. Os obstáculos, contudo, fazem da capital cearense uma cidade em construção diária, que ainda aprende a lidar com o próprio crescimento.
Para além dos altos prédios, das grandes comunidades e obras em andamento, Fortaleza se faz por meio de sua população. Na ponte entre o passado e o futuro, o cidadão redescobre, no presente, os meios de viver a metrópole em construção, na busca por novos espaços e no anseio por uma cidade mais humana. Por meio das micronarrativas particulares, a história de Fortaleza é reescrita continuamente de forma maior.
É uma batalha após a outra. A grande maioria delas escondida entre os quarteirões dos bairros. Todas, porém, permeadas por esperança. Lutas por quem veio antes e por quem ainda virá, acreditando que uma Fortaleza mais humana já é possível.
Ao longo de 23 anos morando na Parquelândia, o casal José e Nilda Moreira observa hoje as transformações pelas quais o bairro passa, trazendo à tona a insegurança. Contudo, eles defendem a permanência no local referenciados pelo passado. "Nossas filhas querem que a gente vá morar perto delas, mas eu vejo aqui como o centro de tudo. Se eu morar em um lugar mais restrito, vai faltar mais amor na minha casa, vai faltar mais o ser humano. A Parquelândia ainda me faz sentir isso", relata Nilda.
No Papicu, os problemas cotidianos são estímulos para buscar um futuro com mais qualidade de vida. Joana D'arc de Oliveira e Rafael Portela, lideranças no bairro, se orgulham em permanecer na luta por direitos como posto de saúde e área de lazer. "Quero conseguir para a comunidade o que não tive e deixar conquistas para meus netos. O futuro é deles, então quero que colham os frutos do que a gente fez", diz Joana.
Futuro em movimento
Uma Fortaleza em movimento. Com cada vez mais destaque na composição urbana do trânsito, as bicicletas afirmam a cada dia mais o direito ao espaço, por meio de uma militância que abriu os olhos dos cidadãos e da gestão municipal para outras alternativas de locomoção, tendo como anseio uma cidade mais segura e humana. "Quando percebi que podia andar de bicicleta em Fortaleza, minha relação com a cidade mudou completamente. Hoje Fortaleza é um lugar muito mais agradável de se viver", diz Celso Sakuraba, 27.
O surgimento de novas estruturas, como a implantação de ciclofaixas e o sistema de bicicletas compartilhadas, lançados em 2014 pela Prefeitura de Fortaleza, aconteceu principalmente, de acordo com Celso, depois do apelo de movimentos civis, por meio de compromissos com os candidatos à Prefeitura em 2012 e com a pintura de ciclofaixas cidadãs em algumas vias.
"A relação com a cidade muda conforme você percebe a dinâmica das lutas que se dão dentro dela, de forma que ela possa melhorar e você tenha esperança que melhore. Talvez se você ver hoje Fortaleza como uma coisa estagnada, como uma coisa que não se move, você pode ter uma visão muito mais negativa do que se entender que existem processos dinâmicos dentro da cidade e formas de lutar por uma Capital melhor. E essa esperança também faz com que nossa relação com a cidade seja mais agradável", opina Celso.
Já no Pirambu, o futuro é pensado como uma realidade atual, que precisa ser transformada. A região, historicamente marcada por um atraso na requalificação, recebeu o projeto Vila do Mar, que permitiu uma nova perspectiva de vida aos moradores, que ainda se mobilizam para participar das mudanças realizadas pelo poder público.
"Hoje, a Vila do Mar já está quase toda pronta, mas questionamos os equipamentos sociais que não deixaram para nós. A minha vida aqui na Vila do Mar é fazer com que a gente cresça. O que não é visto, não é lembrado e eu quero fazer com que continuem vendo a Vila do Mar", conta Elisangela Nascimento, líder comunitária do Pirambu.
Não desanimar, contudo, parece estar no inconsciente coletivo de quem vive em Fortaleza, motivado principalmente pelo amor à cidade e a uma vontade de transformação do espaço pelo amor ao canto natural. "Aqui eu tenho a minha raiz, minhas grandes amizades e conquistas, tenho tudo. Quero continuar aqui até a velhice e que meus filhos vejam o que eu ajudei a construir e dar continuidade. É um movimento que não para nunca", reflete Elisangela.
História presente
"Se pudesse indicar algo o que fazer em Fortaleza, diria para buscar as narrativas pessoais. Fortaleza tem muitas pessoas marcantes e narrativas que tornam ela própria, singular. São essas histórias que dão alma à cidade", conta, com dificuldade, o sociólogo e artista visual Júlio Lira, ao ser perguntado sobre o que faria de Fortaleza uma cidade única, afinal, "a Fortaleza de cada pessoa é muito diferente, muito específica".
Em uma cidade com crescimento contínuo, as relações afetivas da população com o espaço urbano está pautada principalmente na sobrevivência, conforme analisa o sociólogo. "É uma cidade pobre. Muita gente não se dedica a uma vida social e cívica porque tem a necessidade de sobreviver. Quando essa necessidade está atrapalhada, as pessoas se mobilizam. Mas, simultaneamente, há pessoas que conseguem escapar dessa demanda imediata e têm uma visão mais longa, a médio prazo".
Protagonista
Por uma Fortaleza mais humana
"Eu moro no Papicu há 40 anos. Desde então, vi muita coisa mudar. Participo da vida comunitária desde os 15 anos e ainda venho lutando para que tenhamos condições melhores de vida"
Joana D'arc Oliveira
Líder comunitária do Papicu
Líder comunitária do Papicu
"Faço um trabalho voluntário, que tenho orgulho de fazer pela comunidade. Busco ajudar as pessoas daqui que não tiveram seus direitos garantidos. Gosto de ter esse envolvimento"
Ricardo Portela
Líder comunitário do Papicu
Líder comunitário do Papicu
"Faço parte de uma luta que envolve não somente a bicicleta, mas também os pedestres e o transporte coletivo. Entrei na militância pelos direitos dos ciclistas por conta das inúmeras mortes de trânsito, que hoje é voltado para veículos perigosos e violentos. Além disso, o desrespeito ao ciclista é relacionado ao preconceito social, pois a bicicleta foi relegada às classes mais marginalizadas, devido a uma política voltada para o carro"
Celso Sakuraba
Diretor da Associação Ciclovida
Diretor da Associação Ciclovida
"A Vila do Mar, para mim, sempre vai ser o melhor lugar. Não sei porque a Barra do Ceará ainda não virou ponto turístico. Quero trazer projetos que chamem a atenção para essa área"
Elisangela Nascimento
Líder comunitária do Pirambu
Líder comunitária do Pirambu
As perspectivas para o futuro sob o olhar dos moradores é tema da próxima parte da série de aniversário, publicada amanhã.
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Ranniery Melo
Repórter
Repórter
FONTE: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/tempo-de-construir-1.1266855
Um comentário:
Olá!
Parabéns!!!
Lugar encantador, ainda quero conhecer!
Ótima semana!
Um super bjo!
Alê - Bordados e Crochê
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