A maioria de nós passa a vida toda presa nos limites dos próprios pensamentos. Nunca vamos além das estreitas ideias já feitas, do sentido do “eu”
condicionado ao passado.
Em você, como em cada ser humano, existe uma dimensão de consciência bem mais profunda do que o pensamento. É a essência de quem você é. Podemos chamá-la de presença, de percepção, de consciência livre de condicionamentos. Nos antigos ensinamentos religiosos, essa consciência é o Cristo interior ou a sua natureza do Buda.
Descobrir essa dimensão liberta você do sofrimento que causa a si mesmo e aos outros quando conhece apenas esse pequeno
“eu” condicionado e deixa que ele conduza sua vida. O amor, a alegria, a criatividade e a verdadeira paz interior só podem entrar em sua vida quando você atinge essa dimensão de consciência livre de condicionamentos.
Se você consegue reconhecer, mesmo esporadicamente, que os pensamentos que passam por sua cabeça são meros pensamentos; se você consegue se dar conta dos padrões que se repetem em suas reações mentais e emocionais, é sinal de que essa dimensão de consciência está emergindo. Ela é o espaço interno em que o conteúdo de sua vida se desdobra.
A corrente do pensamento tem uma enorme força que pode muito facilmente levar você de roldão. Cada pensamento tem a pretensão de ser extremamente importante. Cada pensamento quer sugar sua completa atenção.
Eis um novo exercício espiritual para você praticar: não leve seus pensamentos muito a sério.
Com que facilidade as pessoas ficam aprisionadas nas armadilhas de seus pensamentos!
Como a
mente humana tem um imenso desejo de saber, de compreender e de controlar, ela confunde opiniões e pontos de vista com a verdade. A mente afirma : “As coisas são exatamente assim.” Você precisa ir além dos seus pensamentos para perceber que, ao interpretar a “sua vida” ou a vida e o comportamento dos outros, ao julgar qualquer situação, você está expressando apenas um ponto de vista entre muitos possíveis. Suas opiniões e pontos de vista não passam de um punhado de pensamentos. Mas a realidade é outra coisa. Ela é um todo unificado em que todas as coisas se interligam e nada existe em si e por si. Pensar fragmenta a realidade, cortando-a em pequenos pedaços, em pequenos conceitos.
A mente pensante é uma ferramenta útil e poderosa, mas torna-se muito limitadora quando invade completamente a sua vida, impedindo você de perceber que a mente é apenas um pequeno aspecto da consciência que você é.
A sabedoria não é um produto do pensamento. A sabedoria
é um profundoconhecimento que vem do simples ato de dar total atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a inteligência primordial, a própria consciência. Ela dissolve as barreiras criadas pelo pensamento, levando-nos a reconhecer que nada existe em si e por si. A inteligência une a pessoa que percebe ao objeto percebido, num campo unificado de percepção. E a atenção que cura a separação.
Os dogmas – religiosos, políticos, científicos – vêm da crença equivocada de que o pensamento pode encapsular a realidade ou a verdade. Os dogmas são prisões formadas por conceitos coletivos. O que parece estranho é que as pessoas gostam de suas prisões, pois elas lhes dão uma sensação de segurança e uma falsa impressão de que “sabem das coisas”.
Nada causou mais sofrimento à humanidade do que os dogmas. É verdade que, cedo ou tarde, todo dogma é derrubado, porque a realidade acaba mostrando que ele é falso. Mas, a menos que se descubra a ilusão básica das verdades absolutas, logo surge outro dogma para substituir o antigo.
Qual é essa ilusão básica? É a identificação com o pensamento.
Despertar espiritualmente é despertar do sonho do pensamento.
O reino da consciência é muito mais vasto do que aquilo que o pensamento é capaz de abranger. Quando você deixa de acreditar em tudo o que pensa, você sai do pensamento e vê claramente que quem está pensando não é quem você é essencialmente.
Eckhart Tolle
Nenhum comentário:
Postar um comentário