Depois de percorrer quatro países onde houve jogos olímpicos de verão ou de inverno, a Tocha Olímpica das Resistências chegou à Vila Autódromo esta semana. Neste sábado (26), a comunidade, que fica ao lado do Parque Olímpico da Barra da Tijuca e já teve 95% de suas casas demolidas, fez a inscrição simbólica no artefato, que já contava com escritos da China, Londres, Canadá e Rússia.
Moradora do local há 25 anos, a acupunturista Sandra Maria de Souza explica que a tocha representa a resistência das comunidades aos abusos cometidos contra a população carente. “É a Tocha Olímpica das Resistências. A olimpíada sempre traz remoções por onde ela passa, infelizmente, não deveria ser assim, mas é. Ela acaba representando uma exclusão, toda vez que constroem as olimpíadas removem população carente próxima. Temos o compromisso de ficar com ela, porque a Vila Autódromo é a comunidade que mais está resistindo, e enviar na próxima olimpíada, caso haja remoções”.
Integrante do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, Larissa Lacerda, explica que a tocha vai circular por outros movimentos sociais afetados pelos mega eventos esportivos que a cidade recebe. “A ideia é que aqui a gente rode com ela por alguns movimentos. Depois, deve ir para o pessoal que luta pela abertura do Célio de Barros. A ideia é que vá passando por grupos e comunidades que estão resistindo às violações cometidas em nome das olimpíadas”.
O Estádio de Atletismo Célio de Barros, ao lado do estádio do Maracanã, foi fechado em março de 2013 e teve a pista profissional retirada durante as obras para a Copa do Mundo .
Maratona
O ato simbólico de inscrição na tocha ocorreu durante a maratona promovida pelo movimento Ocupa Vila Autódromo, que, há cinco semanas, leva atividades culturais, educativas e recreativas ao local, com apresentações, aulas abertas e atividades esportivas.
A doméstica Maria da Penha Macena, moradora da Vila Autódromo há 23 anos e que teve a casa demolida no começo do mês (http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-03/prefeitura-do-rio-...), explica que a ocupação cultural é uma forma de resistência ativa e lúdica para envolver os moradores e manter a comunidade viva.
“Nós chamamos o local de centro cultural, apesar ser ainda um escombro. Nós gostamos de receber as pessoas, esse Ocupa para nós é uma forma de a gente se alegrar com as atividades, uma forma de esquecer um pouco o canteiro de obras, enfim, uma forma de a gente viver um pouquinho diferente, buscar a nossa felicidade, as nossas raízes. É uma forma gostosa de a gente viver, porque a gente está vivendo com muita dificuldade, com muita incerteza, ainda não sabemos onde vamos ficar. Então, o Ocupa é um espaço cultural que nós criamos no meio da comunidade para a gente dar uma relaxada, digamos assim”.
Perigo
No evento de hoje, também foi comemorado o aniversário de 15 anos da estudante Flora Terra de Souza Teixeira de Oliveira, que nasceu na Vila Autódromo. Ela pretende continuar no local. “Aqui sempre foi uma comunidade onde todo mundo se conhecia e todo mundo podia confiar em todo mundo, era muito bom. Agora, a gente não pode ficar até muito tarde na rua, porque não tem muita gente, então é perigoso. Mas as pessoas continuam muito unidas e essa briga de todo mundo para ficar aqui ajudou para aumentar a nossa união”.
As moradoras informaram que a prefeitura convidou as famílias que permanecem no local, cerca de 30, para uma reunião na segunda-feira (28), quando deve ser explicado o plano de reurbanização apresentado para a imprensa no último dia 8.
FONTE: Jornal do Brasil
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