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quarta-feira, 4 de abril de 2012

MORRER POR UM LIVRO


MORRER POR UM LIVRO

Quantos corpos calcinados testemunharam ao longo dos séculos o sacrifício de morrer por um livro... ficar em cinzas no cemitério dos livros esquecidos...
Suicídio inusitado daqueles que deitavam livros para a fogueira... a historia está cheia de textos malditos, interditos, proibidos, em que os autores sofreram a prisão, o exilio, a morte... por causa de impor a sua razão, de rimas mais ousadas, palavras anonimas brutais, censuradas, ainda que os seus livros tenham ficado na memória, resistido ao tempo, na secreta intemporalidade que só a palavra escrita consegue vencer, chegam-nos cheios de um medo insano, repletos de tabus, de uma áurea estranha, estes textos interditos são o testemunho sincero do maquiavélico sentido de poder do homem sobre o homem.
Da antiguidade aos nossos dias, milhares e milhares de livros foram destruídos, milhares de obras foram censuradas, alguns mesmo foram dizimados para sempre, alguns desapareceram sem deixar rasto, enquanto outros continuaram a circular na veleidade dos meandros clandestinos do livro interdito.
Eram as obras malditas, culto de leitura na trangressividade da razão, em que a memória planava entre culturas completamente opostas de credos e de sentires. Queimaram os livros... queimaram consciências humanas... deitaram para a fogueira os textos eróticos, as obras de outras religiões, os ensaios filosóficos, velhos livros de magia, os livros míticos, aqueles textos considerados hereges dominados pela Santa Inquisição, ao sabor do tribunais eclesiásticos, vitimas do totalitarismo e da hipocrisia social.
Que resta dos tempos nascentes da memória sábia desses homens? Sentidos? Segredos? Submissões? Porquê afinal morreram eles e ficaram os livros?
Censurados porque o sexo era tabu, as expressividades das emoções humanas eram proibidas, os sentires das mulheres eram pecado, bramiam na razão loucuras suficientes para que as fogueiras fossem leitos de purificação e de regeneração do pensar da época, queriam-se suscitáveis de ganhar o céu em paz, e deixar para trás tantos desses pensamentos impuros.
Os votos piedosos das escritas censuradas brilhavam labaredas transformados em cinzas que o vento levava no seu voar... espalhando dores daqueles que sofriam por ver tanta injustiça da razão amordaçada, por ver a sua criatividade morrer no sentido nefasto da intranquilidade soberana que ditava que era preciso interditar a escrita dos que apresentavam comportamentos desviantes da norma.
Malditos, miseráveis desse esplendor de cinzas censuradas, foram aqueles que tal comenda horrorosa premeditaram, e não aqueles que das entranhas da alma deixaram escorrer tinta de penas incomensurável, sua razão discretamente transcrita de palavras, verdades plenas de sabedoria, ousado sentido esse de perecer por esse monstro horrível da interdição, odres politicas, religiosas, morais, de tudo se poder escrever, colocando entrave à liberdade de expressão e de pensar.
Dos meus escritos... censuro eu...

...

musa

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