INICIATIVA POPULAR
´Esqueça um livro´ incentiva leitura
25.01.2014
Projeto estimula pessoas a "esquecerem" obras literárias em locais públicos para que outras possam ler
O que você faria se estivesse caminhando no meio da rua e, de repente se, deparasse com um livro "esquecido" em algum local? Possivelmente, você imaginaria que alguém o teria perdido. Mas, e se ao abrir o exemplar você fosse surpreendido com uma mensagem escrita à mão dizendo que aquele livro é seu e, após lê-lo, você deverá deixá-lo em um logradouro para que mais pessoas tenham acesso àquela história?
Em Fortaleza, o universitário Myke Guilherme já “esqueceu” três livros com dedicatórias pelas ruas. De longe, observou a reação das pessoas que os encontraram. A intenção é que elas voltem a “esquecer” as obras depois de lê-las
É o que vem fazendo centenas de pessoas Brasil afora. A iniciativa, intitulada "Esqueça um livro", partiu do jornalista Felipe Brandão, de São Paulo, inspirada no conceito de BookCrossing, criado nos Estados Unidos no começo dos anos 2000.
Hoje foi a data escolhida por Brandão para ser o dia nacional do "Esqueça um livro". O objetivo é que em todos os estados brasileiros alguém separe um exemplar para "esquecer". Em Fortaleza, algumas pessoas já estão pondo em prática a iniciativa. A exemplo do estudante universitário Myke Guilherme, 20.
Ele, que sempre gostou de compartilhar (emprestar) livros com amigos, escolheu três que já havia gostado muito e resolveu passá-los adiante. O primeiro foi deixado em cima de um telefone público, um segundo em cima de um banco de concreto em uma praça e um terceiro em uma pedra, no cruzamento de duas movimentadas avenidas.
Compartilhamento
De longe, ficou observando quem os pegaria. "Me senti muito feliz vendo a reação de cada um. Primeiro, eles achavam que alguém tinha esquecido sem querer, mas depois que abriam o livro e viam a dedicatória começavam a sorrir. Olhavam para os lados, achando que era brincadeira. Foi bem legal", conta. Guilherme explica que esta foi a maneira que encontrou de compartilhar com mais pessoas a história que leu naquele livro.
Combinando leitura e urbanidade, o conceito convida os leitores a deixarem livros em locais públicos para que outra pessoas encontrem, leiam, e voltem a abandoná-los, em uma espécie de cadeia a favor do acesso à leitura. A base do projeto é uma fanpage no Facebook que conta com mais de 12 mil seguidores.
Idevaldo Bodião, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), elogia a iniciativa e reforça que qualquer projeto que vise estimular o hábito da leitura é visto com bons olhos. "As escolas ´forçam a barra´ para certas leituras, em geral chatas. Sou favorável a práticas que estimulem leituras, que façam com que a pessoa aprenda a gostar de ler desde a infância", avalia.
Entusiasmado com o projeto, o especialista disse que hoje mesmo vai comprar um livro "esquecer" por aí. "Já fazia isso com jornais e revistas. Depois de ler, deixava em espaços públicos com a perspectiva de que alguém lesse", conta. Bodião salienta que a divulgação do projeto, sobretudo nas redes sociais, será fundamental para que a iniciativa seja difundida em Fortaleza. Se der certo, acrescenta, pode ser uma estratégia de circulação literária interessante.
Bibliotecas
Em contraponto às iniciativas individuais, o especialista observa que as ações de incentivo à leitura por parte do poder público ainda são tímidas. "Precisamos ter mais bibliotecas e elas devem estar próximas das pessoas".
Ele sugere, ainda, que é preciso fazer das escolas pontos de cultura. Dessa forma, as bibliotecas não seriam apenas dos alunos da unidade, e sim de toda a comunidade. Outro ponto que considera importante é ter um acervo atraente, com livros que chamem a atenção de crianças e adolescentes. "Eles devem ser convidativos. Fazer com que o público crie gosto pela leitura".
Ações estimulam hábito em crianças e adolescentes
A Secretaria da Educação do Estado (Seduc) destaca algumas ações de incentivo à leitura. Para o público infantil, cita o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), instituído como política pública estadual em 2007. O programa está focado em cinco eixos fundamentais: educação infantil; gestão pedagógica da alfabetização; formação do leitor; gestão municipal de educação e avaliação externa.
"Em 2011, o governo expandiu as ações até o 5º ano para melhorar os resultados de aprendizagem da etapa inicial do Ensino Fundamental. Essa iniciativa é denominada Programa Aprendizagem na Idade Certa (Paic+5)", destaca, em nota, a Seduc. Já as escolas do Ensino Médio contam com um Centro de Multimeios - formado pela biblioteca, sala de leitura, sala de vídeo e laboratório de informática. O centro, esclarece a Seduc, gerencia o processo de leitura através de projetos, empréstimos de livros, revistas, periódicos e demais mídias para alunos, professores e funcionários.
Acervo
Em relação ao acervo, a Seduc informa que vem adquirindo livros para escolas da Capital e do Interior, com obras como enciclopédias, biografias, paradidáticos que contemplam todas as disciplinas do currículo e áreas afins (Nutrição, Direito, etc), além de Literatura Brasileira.
Doris Leitão, coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação (SME), comenta que a infância é fundamental para o despertar para a leitura. Ela ressalta que ações impactantes na formação do professor estão sendo desenvolvidas. Afirma, ainda, que o município está trabalhando com o acervo literário do Paic - prosa e poesia, encaminhado às escolas para que os professores possam desenvolver atividades com os alunos em sala de aula.
A gestora informa que, no ano passado, 3.600 professores do Ensino Fundamental foram formados em ações relacionadas ao Paic, no qual um dos eixos era o literário, de incentivo à leitura. Ela assegura que todas as escolas municipais têm bibliotecas.
Luana Lima
Repóter
FONTE:
DIÁRIO DO NORDESTE
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