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domingo, 5 de outubro de 2014

Estigma da pobreza ainda persiste na região

DIFÍCIL SUPERAÇÃO

Estigma da pobreza ainda persiste na região

05.10.2014

Em pleno século 21, em 2012, o Nordeste ainda concentrava 23,7 milhões de pobres, ou 45% da população

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Ao todo, no Nordeste, são 23,7 milhões de pessoas consideradas pobres pela classificação da pesquisa 'Brasil, Brasis'
FOTO: KID JÚNIOR
Mesmo com todos os avanços alcançados, principalmente na estruturação da renda, o Nordeste ainda sofre com o estigma da pobreza e exige estratégias diferenciadas superar essas dificuldades. Em 2012, segundo a pesquisa "Brasil, Brasis: regionalização Nordeste", realizada pela Plano CDE, a Região concentrava 23,7 milhões de pobres, número equivalente a 45% de toda a população nordestina. Desse contingente, 5,1 milhões ainda estavam na linha da extrema pobreza.
Apesar de ainda ser desanimador, o número já representa um avanço em relação aos anos anteriores, segundo a análise do professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), Carlos Eduardo Marino. "É fato que durante os últimos 12 anos houve intensa redução da pobreza no Nordeste, mas partimos de um nível de pobreza tão alto que, mesmo em termos absolutos, ainda temos alta incidência de pobreza no Ceará e na Região como um todo", reconhece.
Definições em xeque
Já na análise do professor de finanças da Pós-Graduação em Economia (Caen) da UFC, Paulo Matos, a própria definição das faixas de miséria, pobreza e riqueza é passível de crítica, o que modifica um pouco a interpretação dos dados.
"Os valores que definem, por exemplo, se uma pessoa deixou de ser pobre e foi para a classe média, não saíram de estudo, foram definidos aleatoriamente (pelo governo). E em cima dessas faixas foram definidos os programas assistencialistas para promover essa migração de classes", pondera.
A falta de reajuste dos valores que definem cada faixa, segundo o professor, é outro ponto questionável do índice. "Com R$ 70 daqui a cinco anos, é possível compras as mesmas coisas que compramos hoje? Além disso, R$ 70,00, em Fortaleza, rendem mais do que no Sul e no Sudeste. Se essas faixas forem reajustadas, fica mais difícil pro governo tirar essas pessoas da pobreza", opina Matos.
Obras darão impulso
As obras estruturantes que foram e ainda estão sendo realizadas no Nordeste, notadamente no Ceará e em Pernambuco, avalia Marino, vão provocar um crescimento econômico acentuado no Nordeste. Essas mudanças, entretanto, precisam de um reforço para serem realmente sentidas por todos. "Não podemos considerar apenas as obras estruturantes, temos que elevar o capital humano. É preciso que as pessoas que residem no Nordeste se apropriem desse crescimento econômico, ele precisa ser pró-pobre", define Marino.
Para ele, o aumento do salário mínimo e os programas de transferência de renda foram os vetores fundamentais dos crescimentos econômico e da renda do Nordeste, desde o ano 2000.
Educação
A continuidade desse ciclo, entretanto, exige outra estratégia. "A única maneira de superar as dificuldades a longo prazo é com investimento em educação, quando a população do Nordeste tiver o mesmo nível de educação do Sudeste, as rendas podem ficar parecidas", afirmar o pesquisador. A diferença de nível educacional entre as regiões faz com que o Nordeste concentre o maior número de pobres do País, explica Marino. (JC)
Expansão de emprego fez classe média crescer
Apesar de ainda estar bem próxima do número de pessoas nas classes mais pobres, a quantidade de nordestinos na classe média do Nordeste apresentou expansão nos últimos anos. Em 2012, de acordo com a pesquisa "Brasil, Brasis: regionalização Nordeste", realizada pela Plano CDE, a Região possuía 23,9 milhões de nordestinos distribuídos entre alta, média e baixa classe média - 200 mil a mais, do que a quantidade de pobres.
Com o crescimento puxado principalmente pela oferta de empregos, a estabilidade da ascensão de classe depende, agora, de mais investimentos em educação. "A formalização do emprego a partir do estímulo à carteira assinada e do empreendedorismo está fazendo as pessoas melhorarem de renda e pularem das classes D e E para a classe C", explica o professor de finanças da Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Paulo Matos.
O Ceará acompanha esse movimento em uma situação considerada "sui generis", segundo o professor, mas que ainda precisa de melhorias. "Estamos conseguindo nos distanciar (da situação de pobreza) de Estados muito ruins, como o Maranhão e o Piauí, mas ainda não chegamos no nível da Bahia e de Pernambuco", pondera.
Motivos para estudar
Mesmo com o avanço, a essa melhoria de renda pode se reverter em longo prazo, adianta o professor, já que a expectativa é que o desemprego venha a subir, levando algumas pessoas a retornarem para as classes D e E. O investimento em uma política que priorize a educação, defende Matos, é fundamental para que o nível de renda e o capital humano possam evoluir. "Se não estudarem, as pessoas não vão ser promovidas nos seus empregos, não chegarão ao ensino superior, nunca vão sair da classe C. Precisamos de mecanismos para motivar essa classe a estudar", acrescenta.
Esse estímulo à educação, afirma o professor, já acontece em muitas famílias da classe média. "Eles são a geração que, se não conseguir subir de classe, vai estimular os filhos a estudarem mais e alavancarem as gerações seguintes", descreve. Essa parcela desse estrato social corresponde às pessoas que conseguiram concluir o Ensino Médio e têm maior capital humano, explica Matos.
Existe ainda um perfil mais resignado dentro da classe média nordestina, segundo o professor, que abarca as pessoas de renda mais baixa. "É aquele que acabou de sair da classe E, cujo sonho era ter carteira assinada, uma moto parcelada e uma casa simples", complementa, atestando a heterogeneidade. (JC)
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FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE

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