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BRASÍLIA, (Reuters) – Enquanto o mundo olha com atenção para o desmatamento e as queimadas na Amazônia, outros dois biomas brasileiros, o Cerrado e o Pantanal, também queimam em proporções maiores que nos últimos anos, resultado das mesmas políticas de desmatamento que assolam o norte do país.
Os dados de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Pantanal fechou o mês de agosto deste ano com 4.660 focos de incêndio, 235% mais do que no mesmo período do ano passado e 50% a mais do que a média histórica entre 1998 e 2018. Nos primeiros dias de setembro, os focos chegaram a 1.495, 4 vezes mais que no mesmo período de 2018.
Na última quinta-feira, o governo do Mato Grosso do Sul –Estado que concentra o bioma Pantanal– decretou estado de emergência depois que mais de 1 milhão de hectares, segundo o Ibama, terem sido consumidos pelo fogo.
Corumbá (MS) é hoje a cidade com mais focos de queimadas, 3.180 –597% a mais do que no mesmo período de 2018.
No Cerrado, o fogo também vem consumindo a vegetação nativa em velocidade mais acelerada que em 2018. Em apenas 8 meses e meio, já são 37.055 focos, próximo dos dados do ano inteiro de 2018, que alcançaram 39.449.
Os focos de incêndio no bioma em setembro, época em que normalmente já tendem a diminuir, estão 76% maiores que no ano passado, chegando a 9.520. Na Amazônia, depois da crise internacional, este mês registrou até agora 9.262 focos.
“O fogo causado por ações humanas, acidentais ou
propositais, ocorrem todo ano, até mais de uma vez por ano, e no auge da época seca, abrangendo áreas muito extensas, milhões de hectares como atualmente, impacta/destrói qualquer ecossistema”, disse à Reuters Alberto Setzer, coordenador do programa de queimadas do Inpe.
Uma combinação de uma seca mais forte do que o normal nas duas regiões e uma onda de calor ajudam as queimadas a se propagarem no Pantanal e no Cerrado, mas a origem é, como quase sempre, a ação humana.
“Nos cerrados e nas savanas o fogo é um elemento natural do ecossistema. Mas não existem plantas adaptadas ao fogo, mas a um regime de fogo, que depende do intervalo das queimas, da intensidade, da época do ano”, explica a pesquisadora da Universidade de Brasília Mercedes Bustamente, especialista em ecologia de ecossistemas.
“Se essa região começa a queimar muito frequentemente, as árvores e arbustos começam a morrer, vai abrindo a área e ficam as gramíneas, que se recuperam mais rapidamente, mas trazem mais material combustível.”
As pesquisas com o Cerrado mostram que a vegetação maior se favorece de queimadas a um intervalos não menores de quatro anos e quando acontecem no início da estação seca.
Mercedes explica que um mês de setembro –quando as plantas já começam a nascer as folhas para se preparar para a estação úmida– com um alta proporção de queimadas, dificulta muito a regeneração.
Ao contrário da Amazônia, o Cerrado brasileiro tem uma proteção de apenas 20% da sua área por propriedade, de acordo com o código florestal. Um proprietário de terras da região –que inclui Goiás, Tocantins, parte do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e até Maranhão– precisa preservar apenas 20% da sua mata nativa. Hoje, boa parte dessa região é dominada por plantações, especialmente de soja, e pecuária.
De acordo com pesquisas da UnB, o desmatamento na região pode estar por trás de secas que atingiram fortemente o centro-oeste e até mesmo São Paulo nos últimos anos. Mercedes explica que o solo do cerrado funciona como uma esponja: absorve a chuva e a umidade que vem da Amazônia e a distribui às bacias hidrográficas do resto do país, do Sudeste até o Rio São Francisco.
“A posição mais alta do Planalto Central, com solos profundos, argilosos, que funcionam como uma esponja, recebem essa água que drena depois para cursos de água no resto dos biomas, para a bacia do São Francisco, para o Pantanal”, explica. “A falta de cobertura vegetal prejudica a infiltração da água no solo.”
O Cerrado é propenso a queimadas naturais, causadas por raios, mas isso costuma ocorrer apenas no início da seca da região. O aumento exponencial nesta época do ano tem relação direta com desmatamento.
“As queimadas estão concentradas no arco do desmatamento. Quando o produtor já converteu para agricultura e está regular, ele não quer queimar porque ele vai ter prejuízo. Mas o fogo é uma ferramenta de abertura de áreas”, diz a pesquisadora.
O desmatamento no Cerrado também tem relação com o aumento dos focos de incêndio do Pantanal. Apesar de ser um dos biomas melhor preservados no país, as áreas baixas que compõe o Pantanal são cercadas de áreas mais altas formadas pelo Cerrado. Desmatadas, com mais agricultura, essas áreas absorvem menos água, que escorrem menos para o Pantanal. Mais seco, ele queima mais –como se vê no aumento deste ano.
FONTE: MIXVALE
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