Na reta final de ´Amor à vida´, Walcyr Carrasco, Mateus Solano e Thiago Fragoso analisam a popularidade do casal Félix e Niko, o favorito dos espectadores da trama das 21h que termina na sexta
Quando "Amor à vida" estreou, em maio de 2013, um romance entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago. Fragoso) parecia inviável até mesmo na cabeça do telespectador mais imaginativo. Afinal, enquanto o primeiro foi apresentado como um gay enrustido, pérfido, dono de comentários ácidos, o segundo era a síntese da estabilidade: um rapaz casado, sensível e apaixonado pelo companheiro, o advogado Erom (Marcello Antony), com quem planejava ter um filho.
Thiago Fragoso e Mateus Solano concordam ao definir a trajetória do vilão como um "conto de fadas"
No meio do caminho, entre uma trama cheia de encontros e desencontros, idas e vindas, quis o destino - ou melhor, o autor Walcyr Carrasco - que Félix se redimisse e Niko se separasse. E que os dois se gostassem e quisessem ficar juntos. E, talvez o mais improvável: que a dupla tivesse o aval do público e conquistasse o status de casal principal da trama, desbancando Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador).
"Niko e Félix um casal legal, querido. A gente brinca muito com o humor, um fala em cima do outro o tempo todo. Há companheirismo, e os dois têm personalidade forte. O Niko é fofo e não gosta de alguns comentários do Félix, mas, ao mesmo tempo, o acha engraçadíssimo. Essa complexidade faz o casal ficar tão interessante, cheio de sutilezas", avalia Thiago, contando que sua mulher (Mariana Vaz) sempre torceu para que os dois ficassem juntos:
"Ela estudou com o Mateus no colégio e gosta muito dele. E Félix não tinha um par na história, Anjinho (Lucas Malvacini) era mais um caso. Comecei a achar que havia espaço para esse triângulo", entrega o ator.
Walcyr crê que a aceitação dos personagens não aconteceu por acaso. Mas envolve um processo histórico que começou lá atrás, através de autores como Gilberto Braga, Silvio de Abreu, Gloria Perez e Manoel Carlos. "Eu apenas dei continuidade a um processo iniciado por eles e, espero sim, dar um passo adiante".
Intuitivo
Mesmo garantindo não ter alterado a história por conta da popularidade do casal, ele confirma que o romance não estava previsto na sinopse. Mas, ao longo dos capítulos, ele diz, se manteve antenado para sentir "o que rola e o que não rola", em um processo intuitivo.
Félix (Solano) com o antigo affair Anjinho (Lucas Malvacini). Niko (Fragoso) foi casado com Erom (Marcello Anthony)
"Veja bem, a pesquisa da novela é feita apenas no início, para uma análise das primeiras respostas. Depois, o autor fica ligado com sua antena e, a partir daí, cria seus caminhos, mas sem especificamente ouvir alguém ou mesmo haver alguma interferência da emissora. O meu segredo é assistir à novela todos os dias, junto com o público", revela o autor.
Redenção do vilão
Para Mateus, Félix passou a novela sendo "deseducado". Para o ator, o personagem "foi mimado pela mãe quando deveria ter sido reprimido, ganhava reprovação do pai quando precisava de incentivo". Tal desequilíbrio só se transformou em algo positivo quando ele se viu obrigado a vender hot dog com Marcia (Elizabeth Savalla). Foi aí que, observa Mateus, Félix teve que reavaliar os conceitos de vida.
"Ele teve que aprender na marra a dar valor às coisas certas. O Niko é uma delas, mas não a única, e a relação deles mexe com uma outra coisa que é a incapacidade do Félix de amar. Primeiro de ele gostar de si próprio, e segundo de aceitar que alguém possa gostar dele. Como o filho, Jonathan (Thalles Cabral) e a Marcia, que foi fundamental", analisa Mateus, contando que não esperava nenhuma das mudanças.
"O Félix passou por tudo e mais um pouco, desde a ´revelação´ da homossexualidade, passando pelo episódio que assume ter jogado Paulinha (Clara Kastanho) da caçamba, ganhar a presidência até perder tudo", explica Solano.
Sensível
Ao mesmo tempo, Niko caiu nas graças do público pelo jeito sensível e cativante. Por gostar de Fabrício sem saber que era sequer seu filho biológico. E por adotar Jaime (Kaiky Gonzaga) e criá-lo praticamente sozinho. A loucura de Amarilys, por sua vez, funcionou como uma contraponto e aumentou ainda mais a compaixão pelo sushiman.
"O público brasileiro é conservador e, pela primeira vez, não ficou ao lado da mãe, mas, sim, ao lado do afeto mostrado por esse cara que nem sabia que era pai biológico da criança. E isso é revolucionário, porque dentro da humanidade de cada um, a opção sexual é o que menos importa", acredita Thiago.
E tanto ele quanto Mateus concordam ao definir a trajetória de Félix como um conto de fadas. Por que não? "O Walcyr acredita nesse conto de fadas. Foi bonito o universo que criou, e as pessoas compraram a ideia de que o mal pode se redimir. Não é real. Vejo como uma grande metáfora: Tinha o cara totalmente bom e o totalmente mau, e o mau foi contagiado pelo bem. E essa regeneração é a mensagem que a novela pode passar", acredita Thiago.
E após conversas francas, sinceras e cheias de afeto nos últimos capítulos, Félix e Niko chegaram até a trocar carícias sutis. E na próxima semana, Walcyr sugere, em uma cena, que os dois vão passar a noite junto. Mas ele conta que foi "extremamente discreto". Embora o autor afirme ter o aval da emissora para escrever sobre o que quiser, Thiago acha que o beijo gay não vai acontecer. E nem um casamento, como é de praxe no último capítulo.
Polêmica
"Adoraria ver o casamento, ia ser ótimo gravar, mas acho que Walcyr teve essa preocupação de não ser panfletário. E se tiver o beijo gay, vou fazer superfeliz, acharia o máximo, mas na nossa sociedade com valores sociais deturpados, acho que seria considerado mais agressivo esse beijo entre dois homens, mais do que entre duas mulheres. Talvez por isso não tenha", avalia Thiago, afirmando que não gravou cena de beijo e isso não está no roteiro, por enquanto: "Se chegar um adendo secreto, vou ficar superfeliz".
Já Mateus não vê a necessidade real do afago, já que, para ele, Walcyr "ultrapassou a questão do beijo e tocou em questões até mais profundas". "Em cena, eles têm diversas demonstrações de carinho e o beijo não faz falta", assegura.
NATALIA CASTROAGÊNCIA O GLOBO
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
Quando "Amor à vida" estreou, em maio de 2013, um romance entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago. Fragoso) parecia inviável até mesmo na cabeça do telespectador mais imaginativo. Afinal, enquanto o primeiro foi apresentado como um gay enrustido, pérfido, dono de comentários ácidos, o segundo era a síntese da estabilidade: um rapaz casado, sensível e apaixonado pelo companheiro, o advogado Erom (Marcello Antony), com quem planejava ter um filho.
Thiago Fragoso e Mateus Solano concordam ao definir a trajetória do vilão como um "conto de fadas"
No meio do caminho, entre uma trama cheia de encontros e desencontros, idas e vindas, quis o destino - ou melhor, o autor Walcyr Carrasco - que Félix se redimisse e Niko se separasse. E que os dois se gostassem e quisessem ficar juntos. E, talvez o mais improvável: que a dupla tivesse o aval do público e conquistasse o status de casal principal da trama, desbancando Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador).
"Niko e Félix um casal legal, querido. A gente brinca muito com o humor, um fala em cima do outro o tempo todo. Há companheirismo, e os dois têm personalidade forte. O Niko é fofo e não gosta de alguns comentários do Félix, mas, ao mesmo tempo, o acha engraçadíssimo. Essa complexidade faz o casal ficar tão interessante, cheio de sutilezas", avalia Thiago, contando que sua mulher (Mariana Vaz) sempre torceu para que os dois ficassem juntos:
"Ela estudou com o Mateus no colégio e gosta muito dele. E Félix não tinha um par na história, Anjinho (Lucas Malvacini) era mais um caso. Comecei a achar que havia espaço para esse triângulo", entrega o ator.
Walcyr crê que a aceitação dos personagens não aconteceu por acaso. Mas envolve um processo histórico que começou lá atrás, através de autores como Gilberto Braga, Silvio de Abreu, Gloria Perez e Manoel Carlos. "Eu apenas dei continuidade a um processo iniciado por eles e, espero sim, dar um passo adiante".
Intuitivo
Mesmo garantindo não ter alterado a história por conta da popularidade do casal, ele confirma que o romance não estava previsto na sinopse. Mas, ao longo dos capítulos, ele diz, se manteve antenado para sentir "o que rola e o que não rola", em um processo intuitivo.
Félix (Solano) com o antigo affair Anjinho (Lucas Malvacini). Niko (Fragoso) foi casado com Erom (Marcello Anthony)
"Veja bem, a pesquisa da novela é feita apenas no início, para uma análise das primeiras respostas. Depois, o autor fica ligado com sua antena e, a partir daí, cria seus caminhos, mas sem especificamente ouvir alguém ou mesmo haver alguma interferência da emissora. O meu segredo é assistir à novela todos os dias, junto com o público", revela o autor.
Redenção do vilão
Para Mateus, Félix passou a novela sendo "deseducado". Para o ator, o personagem "foi mimado pela mãe quando deveria ter sido reprimido, ganhava reprovação do pai quando precisava de incentivo". Tal desequilíbrio só se transformou em algo positivo quando ele se viu obrigado a vender hot dog com Marcia (Elizabeth Savalla). Foi aí que, observa Mateus, Félix teve que reavaliar os conceitos de vida.
"Ele teve que aprender na marra a dar valor às coisas certas. O Niko é uma delas, mas não a única, e a relação deles mexe com uma outra coisa que é a incapacidade do Félix de amar. Primeiro de ele gostar de si próprio, e segundo de aceitar que alguém possa gostar dele. Como o filho, Jonathan (Thalles Cabral) e a Marcia, que foi fundamental", analisa Mateus, contando que não esperava nenhuma das mudanças.
"O Félix passou por tudo e mais um pouco, desde a ´revelação´ da homossexualidade, passando pelo episódio que assume ter jogado Paulinha (Clara Kastanho) da caçamba, ganhar a presidência até perder tudo", explica Solano.
Sensível
Ao mesmo tempo, Niko caiu nas graças do público pelo jeito sensível e cativante. Por gostar de Fabrício sem saber que era sequer seu filho biológico. E por adotar Jaime (Kaiky Gonzaga) e criá-lo praticamente sozinho. A loucura de Amarilys, por sua vez, funcionou como uma contraponto e aumentou ainda mais a compaixão pelo sushiman.
"O público brasileiro é conservador e, pela primeira vez, não ficou ao lado da mãe, mas, sim, ao lado do afeto mostrado por esse cara que nem sabia que era pai biológico da criança. E isso é revolucionário, porque dentro da humanidade de cada um, a opção sexual é o que menos importa", acredita Thiago.
E tanto ele quanto Mateus concordam ao definir a trajetória de Félix como um conto de fadas. Por que não? "O Walcyr acredita nesse conto de fadas. Foi bonito o universo que criou, e as pessoas compraram a ideia de que o mal pode se redimir. Não é real. Vejo como uma grande metáfora: Tinha o cara totalmente bom e o totalmente mau, e o mau foi contagiado pelo bem. E essa regeneração é a mensagem que a novela pode passar", acredita Thiago.
E após conversas francas, sinceras e cheias de afeto nos últimos capítulos, Félix e Niko chegaram até a trocar carícias sutis. E na próxima semana, Walcyr sugere, em uma cena, que os dois vão passar a noite junto. Mas ele conta que foi "extremamente discreto". Embora o autor afirme ter o aval da emissora para escrever sobre o que quiser, Thiago acha que o beijo gay não vai acontecer. E nem um casamento, como é de praxe no último capítulo.
Polêmica
"Adoraria ver o casamento, ia ser ótimo gravar, mas acho que Walcyr teve essa preocupação de não ser panfletário. E se tiver o beijo gay, vou fazer superfeliz, acharia o máximo, mas na nossa sociedade com valores sociais deturpados, acho que seria considerado mais agressivo esse beijo entre dois homens, mais do que entre duas mulheres. Talvez por isso não tenha", avalia Thiago, afirmando que não gravou cena de beijo e isso não está no roteiro, por enquanto: "Se chegar um adendo secreto, vou ficar superfeliz".
Já Mateus não vê a necessidade real do afago, já que, para ele, Walcyr "ultrapassou a questão do beijo e tocou em questões até mais profundas". "Em cena, eles têm diversas demonstrações de carinho e o beijo não faz falta", assegura.
NATALIA CASTROAGÊNCIA O GLOBO
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
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