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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Travestidos dão dicas de como curtir a folia com charme e glamour

CARNAVAL

Todos os anos, centenas de homens saem durante o Carnaval vestidos de mulheres. Entenda por quê a tradição faz tanto sucesso

Todo ano, a população feminina no Carnaval de Salvador é reforçada por seres de gogó, voz grave e pelo grosso no nariz. Quem são? De onde vêm? O que fazem para conseguir tanto sucesso na Avenida? Veja, agora, no jornal CORREIO.
Batom vermelho, cabelos ao vento, blush rosado, meia arrastão e uma sainha tão curta que faria aquela avó perguntar se a peça de roupa é um cinto... Em resumo: dignamente montada para ouvir um “casa comigo, sua linda!” no meio do circuito Barra-Ondina.
Antes que os desavisados se assustem, é preciso fazer um alerta: essa princesa tem barba, perna cabeluda e certamente não veio da Disney. Ah, e nos outros 364 dias do ano que não a sexta-feira do desfile do bloco As Xiquititas, no Carnaval, a donzela é o publicitário baiano Will Leão, 37 anos.  
As Xiquititas tirando os pés do chão na Barra: Will Leão, Eric Pereira e  Alex Jones estão ‘prontas’ para agitar (Foto: Marina Silva)
Como ele, outros tantos marmanjos resolvem mudar radicalmente o look no período momesco e virar uma diva super fechação - seja para brincar, pular, paquerar ou apenas para tomar uma cervejinha com os amigos... “Quem me arruma é minha irmã. Não entendo nada. Entro com a cara, ela entra com a tinta”, conta Will, ‘foliã’ e um dos organizadores do bloco que sai do Jardim Brasil há 17 anos. 
Este ano, ele vai sair de Elsa, a Rainha do Gelo de Frozen. A escolha do filme que é a 5ª maior bilheteria da história do cinema não foi por acaso: mulher que se preze tem que acompanhar as tendências.

Mas qual é a graça de ser feminina por um dia? “Qualquer outra fantasia tradicional perde a graça. De mulher, você já está provocando. Sem contar que é a curtição dos amigos. Um fica mais ridículo que o outro, mas a gente sempre escolhe algo que está na moda”, diz o publicitário, que já foi de Amy Winehouse, Geisy Arruda e até uma das Chiquititas - da novela mesmo. 
E nem adianta tentar vir com mão boba ou dar aquela espiadinha por debaixo da saia. “Como sou chulado, boto uma bunda postiça, daquelas calçolas de enchimento. Mas eu uso sunga, até por ser mais confortável”, brinca. 
Preparação
Com Susana Vieira como musa e as divas da academia como inspiração, o defensor público Gabriel César, 30, vai virar quase uma rival da xará Gabriela Pugliesi - a blogueira fitness brasileira que tem quase 1 milhão de seguidores no Instagram. Assim como Will, Gabriel não faz o make. A esposa é a responsável pela arte.
Mas ele já aprendeu o básico: tem que carregar na maquiagem para não chegar no fim do circuito parecendo que passou por uma tempestade. “Quanto mais, melhor. É muito blush e batom”, diz o defensor público, que sai no bloco As Coisinha, do qual é um dos organizadores, há 13 anos. 
Os acessórios, no entanto, Gabriel mesmo vai à pesca. “A própria preparação é um evento. A gente vai na Avenida Sete e passa o dia lá comprando coisa. Comprei munhequeira, polainas, bracelete para iPod, óculos escuros, fone de ouvido”, cita. 
Ele ainda não comprou a peruca deste ano - a irmã trouxe uma de Nova York especialmente para isso (e não é essa laranja que ele está usando na página ao lado). “O problema é que a peruca sumiu, mas estou na expectativa de achar. Todo mundo prefere as loiras e as extravagantes, tipo rosa e roxa. Mas é um dilema, porque a longa é mais bonita, mas a curta é mais confortável. Tento variar. Alguns anos uso chanel, porque (a gente) é igual mulher: tem que se atualizar”. 
Ainda assim, Gabriel garante que a intenção não é ficar parecendo uma mulher de verdade. “Não é para desconstruir a mulher, é apenas para se autoridicularizar e gerar riso, extravasar. Um homem vestido de mulher é uma coisa ridícula, então tem que descontrair e incorporar”, explica.
Só na paquera
Quem já sai há 28 anos, como o  vice-presidente do bloco As Sapatonas, Adinaldo Agostinho, diz que até a paquera flui melhor quando o rapaz está travestido. “As mulheres nos procuram. Acho que é porque elas se sentem mais à vontade por causa das fantasias. A gente diz: ‘sapatona gosta de quê? De mulher!’. Então, a gente sai para a Avenida para pegar mulher! Mas quem é gay sai também para pegar seus bofes”.
Gabriel César, na ‘xibiatagem’,  ao lado do amigo Leonardo Machado: essas figuras irão ‘causar’ na Avenida (Foto: Marina Silva)
Nesse Carnaval, o bloco vai sair de Mulher Maravilha - com direito a capinha, meião e apelido de “Super Sapatonas”. A maquiagem fica por conta de um salão no bairro da Caixa D’Água, mas é Adinaldo quem compra sua própria peruca, coloca as argolas e o batom.
“Tem um pessoal mais exagerado que bota calcinha, compra até modess (absorventes) e finge que está menstruado. Cada qual solta o lado feminino como quer”, comenta, aos risos. Mas é verdade que o diferencial está nos detalhes.
O decorador Francisco Rocha, 67, que sai no bloco As Muquiranas há 39 anos, já levou até sete anões para o circuito, quando a agremiação optou pela fantasia de Branca de Neve. “Este ano, vamos de baianas e eu vou como se fosse as baianas da Lavagem do Bonfim. Vou levar um cachozinho de flores, um jarrinho... Cada dia vai ser um torso diferente. Se você vir uma baiana superproduzida, pode saber que sou eu”, promete. 
Ele também não dispensa a sunga por baixo da fantasia. “As pessoas ficam um pouco sem juízo e a saia é curta, né?  Tem gente que não usa a roupa íntima adequada, mas tem que ficar composto”.
Casado com uma mulher que também ajuda na produção, ele não considera que a fantasia feminina tenha a ver com sexualidade. “É para curtir, e eu me sinto bem vestido de mulher. Acho que é uma homenagem”, diz. 
Fim da brincadeira
Mesmo assim, nem todo mundo consegue segurar a brincadeira por muito tempo... O comerciante Flávio*, 55, saía travestido com os amigos todos os anos em um bloco improvisado que descia da Graça para a Barra e a esposa Márcia*, 41, sempre ajudava na preparação.
Até que, há cinco anos, ele não apareceu depois do desfile. “A gente esperava ele no Clube Espanhol, mas encontrei todos os amigos, menos ele.  Ligava e ele não atendia... Os amigos diziam que ele tinha se perdido e eu não conseguia dormir”, lembra ela.
Até que, às 6h do dia seguinte, Márcia recebeu uma ligação a cobrar: era um taxista, em sua porta, trazendo Flávio, que ainda precisava que a esposa pagasse a corrida. A fantasia de Batgirl era apenas uma lembrança nebulosa. “Ele estava só com a sunga, uma meia e a maquiagem toda borrada. Quando entrou no banheiro, ainda caiu um bocado de moeda da sunga. No dia seguinte, eu disse que ele não sairia mais”.
Enquanto Márcia diz que a história está mal contada até hoje, Flávio releva. “Me perdi nas entradas do Jardim Apipema, tomei todos os uísques que podia e só Deus sabe onde fui parar. Pisei na bola, mas não aprontei, não. Agora, Carnaval só no camarote com a patroa”, diz ele.
Às esposas e namoradas dos rapazes comprometidos que contaram suas histórias, um aviso: todos pediram que ficassem tranquilas. Eles garantem que sabem que, apesar da bagunça, não têm vale night (nem ‘vale day’) .
*Nomes fictícios
Travestir é ato de transgressão e deboche, dizem especialistas
Quando um homem se veste de mulher no Carnaval não passa de um momento de transgressão, de acordo com o especialista em Moda, Arte e Contemporaneidade Maurício Portela, professor do curso de Moda da Unifacs.
Esse tipo de costume já dava as caras na folia daqui desde a década de 1960, segundo ele. “Na verdade, desde a época que o Carnaval se chamava lundu (dança africana que chegou por aqui trazida pelos escravos no século XVIII), já existia a brincadeira de se travestir”.
Desde o começo, trocar de gênero era uma forma de se esconder - e, assim, ficar livre para a brincadeira. “A ideia dessa fantasia é da transgressão dos padrões sociais e de se tornar oculto no meio da multidão, ainda que você esteja mais visível que os outros”, explica Portela.
Além disso, é muito mais comum ver homens travestidos do que mulheres travestidas, justamente porque a imagem causa estranheza. “A roupa masculina cai no corpo feminino sem causar tanto espanto e a própria moda ajuda isso, a exemplo das calças tipo boyfriend (em inglês, namorado)”.
Para o médico Jô Furlan, especialista em Neurociência do Comportamento, se travestir é um ato de debochar de si mesmo. “Um adulto que se veste de Superman é engraçado, mas não é nada de outro mundo. Se travestir de mulher  virou ridículo, é algo mais festivo e tem  a ver com o próprio Carnaval, que é uma celebração da alegria. As pessoas querem se permitir fazer o que não fazem”, conclui.

FONTE: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/travestidos-dao-dicas-de-como-curtir-a-folia-com-charme-e-glamour/?cHash=e2706f63ab5b4a9cd9cfb6a8a0626fe3

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