Líquidos nas refeições

Ingerir líquidos durante as refeições é prejudicial sob vários aspectos, desde prejudicar a mastigação, atrasar a digestão e comprometer a atividade enzimática

A maioria das pessoas desconhece os efeitos danosos de beber líquidos durante as refeições. Com a justificativa de que as bebidas ajudam a "empurrar" o alimento para o estômago, muitos mantêm este hábito que pode levar a ganho de peso, indigestão, gases e flatulências, bem como agravar quadros de gastrite e refluxo gastrointestinal.

O trato digestivo produz cerca de três litros de sucos estomacais/dia e 1,5 litro de saliva. A maior porção de líquidos nas refeições prejudica a digestão e reduz a absorção de nutrientes. Importante: a distensão do estômago é uma consequência que facilita o refluxo.

Mastigue bem

Quem não consegue comer sem tomar líquidos geralmente possui baixo consumo de água durante o dia. Esse costume é associado à má mastigação, própria da pressa ao comer e das pessoas estressadas que destinam menor tempo para a alimentação.

Segundo a endocrinologista e professora do curso de medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor), Rafaela Correia, mascar bem o alimento ajuda na digestão, uma vez que o processo de quebra molecular de carboidratos, massas e doces em geral, começa na boca, por ação da ptialina, enzima que entrar em contato com o alimento triturado, favorece a degradação dos carboidratos.

Além desse processo de degradação inicial, a saliva exerce o importante papel de umedecer os alimentos. "Uma das funções da mastigação é preparar o alimento para a deglutição, diminuindo o tamanho da porção a ser deglutida, além de favorecer a umidificação (juntamente com a saliva) e misturá-lo com a ptialina", diz. Quem não mastiga corretamente tem a sensação de que a comida está seca, já que não houve tempo de envolver a refeição na saliva.

Efeitos potencializados

A ingestão de bebidas gaseificadas e de sucos industrializados potencializa os efeitos danosos de deglutir líquidos junto com as refeições. Ricos em açúcar e corantes artificiais, não apresentam nenhum valor nutricional. No caso dos refrigerantes, por exemplo, há o agravante de aumento do PH estomacal, que deve se manter ácido para que haja uma boa atividade digestiva.

De acordo com a gastroenterologista pediátrica Ana Magda (CRM 5692; RQE 6363), os gases presentes nos refrigerantes também influenciam o processo digestivo. "Devido à grande quantidade de gases, a distensão abdominal é favorecida, levando a pessoa a ingerir maior quantidade de alimento e, a longo prazo, ao ganho de peso", esclarece.

Água só nos intervalos

Comum na infância, o consumo de líquidos ricos em frutose, sacarose e corantes artificiais contribui para os fatores de risco (sobrepeso, obesidade, câncer, diabetes e dislipidemias. Além das calorias adicionadas à refeição, a absorção de cálcio é comprometida.

"Se esse comportamento não for modificado na infância, com a influência da família, escola e das mídias sociais, este mau hábito alimentar influenciará na fase adulta", justifica a gastroenterologista.

Para que os líquidos não sejam prejudiciais, a ingestão deve ocorrer de 30 minutos a 1 hora antes ou até 2 horas após a refeição. No intervalo, é saudável consumir água ou de sucos naturais, ricos em nutrientes e vitaminas.

Bons hábitos

Meia hora após as refeições, beba um chá de ervas ou um cafezinho, que é estimulante da digestão;

Não exagere no sal, já que pratos mais salgados dão sede;

Evite preparações secas. Troque carnes assadas por ensopados;

Preparar um arroz mais pastoso, ajuda a não sentir sede ao comer;

Tente comer toda a comida e beber o líquido em pequenos goles;

Procure não colocar uma jarra de suco ou refrigerante na mesa. Disponha à mesa apenas um copo por pessoa.

FONTE: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/vida/liquidos-nas-refeicoes-1.1258892