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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Dólar acumula alta de 69% em um ano; veja reflexos do aumento

ECONOMIA
A recomendação é defender o “bolso” para evitar turbulências no orçamento

Priscila Natividade (priscila.oliveira@redebahia.com.br)

Luciano D’Agostini, economista
(Foto: Divulgação)
Em forte movimento de alta, o dólar comercial (negociado à vista e usado nas transações comerciais) fechou ontem o quarto pregão seguido de valorização frente à moeda brasileira, a R$ 4,05, maior cotação da história do real (moeda brasileira lançada em 1994). O recorde anterior era R$ 3,99, em outubro de 2002.  Entre 22 de setembro de 2014 e ontem, o dólar acumulou uma valorização de 69%.
Neste período, o Brasil passou pelo aprofundamento da crise, com aumento da inflação, menor poder de consumo das famílias e queda na atividade econômica. Vários fatores  passaram a interferir na vida das pessoas, inclusive na de quem pretende viajar.  
A conjuntura desfavorável exige novos planos e contas de quem está de malas prontas ou planeja sair do país nas próximas semanas. Isso porque a maioria dos economistas não consegue enxergar quando  o dólar vai deixar de subir. A recomendação é   defender o “bolso” para evitar turbulências no orçamento.

Assustada, a empresária Ana Berenguer teve de rever a programação da viagem que fará até a Flórida (EUA) em novembro para visitar a filha Clara, que há um mês estuda lá. “Antes de minha filha viajar, estava tudo certo para que eu passasse o dia de Ação de Graças (tradicional feriado americano) com ela. Mas fui surpreendida por esta alta e tive que rever toda a viagem”, conta. 
Ainda ontem, Ana comprou a moeda por R$ 4,13. “Acabei comprando já a maior parte e durante o mês, o que for sobrando (do orçamento) eu complemento”. Do roteiro original, Ana já desistiu da visita que faria a Nova York. “Abri mão, vou gastar o mínimo possível”.
Cenário
Segundo o economista Luciano D’Agostini, a variação da taxa de câmbio é influenciada pela falta de confiança que o investidor tem com relação ao governo e ao cumprimento das metas fiscais. A situação fica ainda mais difícil diante de um mercado internacional que também não vai muito bem. “Um conjunto de fatores internos e externos que aconteceram ao mesmo tempo levou ao enfraquecimento da moeda brasileira”, explica.
Nas casas de câmbio de Salvador, o dólar turismo chegou a ser vendido ontem a R$ 4,23. A loja MultiMoney, localizada no Shopping Bela Vista, criou um grupo no WahtsApp para informar aos clientes o dia de cotação mais baixa. “As pessoas estão muito temerosas.  Quem procura a agência só está levando para a viagem o que realmente necessita”, assegura o gestor da casa de câmbio, Olavo Lemos. Embora repasse o preço da alta da moeda e cobre seu lucro, ele afirma que a cotação atual prejudica seu negócio. “Quem vai viajar acaba comprando a metade do dólar que levaria caso a cotação estivesse mais baixa, e isso não deixa de interferir na nossa receita”, diz.
Para quem está com  a data de embarque cada vez mais próxima, a dica é comprar a moeda o quanto antes, como recomenda o educador financeiro Ângelo Guerreiro. “O dólar, do jeito que está, não irá baixar tão cedo”. Quem está com  a viagem agendada deve optar por comprar a moeda aos poucos, observando variações do mercado. “A compra parcelada é a melhor alternativa para diminuir o risco de perda”.  A economia também precisa ser levada em conta durante  a estadia no exterior. “É tentar fazer mais com menos”, orienta o educador.

ENTREVISTA

Para o economista Luciano D’Agostini, o dólar está longe de alcançar um patamar adequado e deve continuar subindo. Membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e especialista em Desenvolvimento Econômico, D’Agostini comenta o contexto econômico que envolve a alta da moeda americana. Veja trechos da entrevista: 
Por que o dólar está subindo tão rápido?
O rebaixamento da nota de crédito do Brasil e as dificuldades do governo em cumprir o ajuste fiscal são os fatores nacionais que justificam a desvalorização do real diante da moeda americana. No cenário internacional, o Brasil tem hoje a segunda moeda mais desvalorizada entre os países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), perdendo apenas para a China. Paralelo a isso, a valorização da moeda americana sinaliza também a melhoria das condições macroeconômicas dos Estados Unidos.
Até quando a moeda americana deve ficar em alta?
Este conjunto de  fatores acabou enfraquecendo a moeda brasileira e diminuindo a confiança do mercado internacional em investir no Brasil. Enquanto o país não reorganizar as contas  e restabelecer esta confiança com uma política fiscal e monetária adequada, o dólar vai continuar subindo - e muito rápido.
A alta no preço da moeda é fruto de uma especulação de mercado ou já é resultado do aumento da taxa de juros americana?
Na verdade, o mercado já antecipa o aumento dos juros americano, que devem subir só no ano que vem. Ou seja, o dólar deve continuar em alta ainda por muito mais tempo.
Há alguma vantagem com a alta da moeda americana?
Vantagem mesmo, só para os investidores que apostaram no fundo de câmbio. Quem aplica no dólar, com certeza, está rindo agora.
Qual seria a taxa de câmbio ideal para o Brasil, sem que o país comprometa as exportações nem pressione a inflação?
Para manter o equilíbrio, o Brasil precisaria de um câmbio industrial por volta de R$  3,70. Já o câmbio para a população teria um o valor de aproximadamente R$ 3,40. No mercado financeiro, o câmbio não tem teto, porque quanto maior a taxa de câmbio, maior também será o ganho do fundo cambial.   
FONTE:
http://www.correio24horas.com.br/single-economia/noticia/dolar-acumula-alta-de-69-em-um-ano-veja-reflexos-do-aumento/?


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