FOTO: ALEX PIMENTEL |
O resultado é o crescente número de casos de viroses que têm acometido, tanto os moradores, quanto os turistas, que buscam nesta época do ano, as calmas águas da Vila e suas belezas naturais para fugir do estresse de suas cidades. Foi o caso do goiano Rodrigo Costa (38), em visita à badalada praia pela segunda vez. Logo nos primeiros dias das férias no litoral cearense, os sintomas começaram a ocorrer.
"Eu tive um quadro de vômito persistente, assim como outras pessoas do meu grupo, que também apresentaram casos de diarreia. Cedo, buscamos a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local, onde nos informaram que se tratava de uma virose causada pela mosca", disse o nutrólogo.
Ao ser atendido e medicado, Rodrigo Costa percebeu o grande número de pacientes que chegavam à UPA com os mesmos sintomas. Em conversa com alguns deles, o turista estranhou a forma natural com a qual tratavam o caso. "Eu não tive na unidade de atendimento nenhuma orientação sanitária de como deveria proceder para não propagar essa infecção. O pessoal comentava que isso ocorria com frequência nesta época do ano. Todo mundo assumia a intoxicação como sendo culpa das moscas, como se isso não pudesse ser evitado", disse o turista que ficou dias acamado.
Preocupado, Rodrigo passou a observar melhor o que ocorria com os alimentos que eram servidos. "Eu percebi que não havia nenhum tipo de ação sanitária simples para impedir isso, tanto no hotel de alto padrão, onde me hospedei, quanto em outros estabelecimentos que lidam com alimentos. Vi janelas de cozinhas sem telagem, comidas expostas sem cobertura necessária e pessoas manipulando alimentos, ou turistas se alimentando, sem o uso anterior de álcool em gel, que não vi exposto em nenhuma mesa; ações mínimas que podem evitar esse tipo de problema", reforçou Costa.
Prevenção
De acordo com Jéssica Albuquerque, diretora da UPA de Jericoacoara, os casos de infecção tiveram aumento considerável na Vila. Cerca de 30 pacientes foram atendidos logo na primeira semana de janeiro, entre crianças e adultos.
"Ao longo das semanas, esse número foi aumentando. Além de moradores, muitos turistas também têm buscado a unidade. Muitos já apresentam sintomas logo no primeiro dia de estadia. Nós temos desenvolvido um plano de tratamento para quem busca a UPA. É importante que o turista tenha cuidado com a alimentação, higienização e hidratação durante a viagem", detalhou Albuquerque.
O secretário de Saúde de Jijoca de Jericoacoara, Ângelo Nóbrega, destacou procedimentos adotados pelos profissionais. "A Secretaria tem orientado a população com palestras e medidas preventivas, como campanhas em estabelecimentos que recebem turistas ou comercializam alimentos", disse.
Alta
Em Juazeiro do Norte, no Cariri, nas três primeiras semanas de janeiro, foram registrados 674 casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDA), conhecida erroneamente como "virose da mosca". O número é 26% maior que no mesmo período do ano passado e cresceu, principalmente, na terceira semana, quando 256 casos foram notificados. Porém, a coordenadora de Vigilância Epidemiológica do Município, Evanusia de Lima, acredita que ainda não se trata de um surto pelo número alto de habitantes, que chega a, aproximadamente, 270 mil.
Mesmo assim, a Secretaria da Saúde tem intensificado as orientações quanto às doenças. "Já é rotina o monitoramento da água para consumo humano como uma das alternativas de prevenção", explica. Os agentes de saúde têm visitado bairros reforçando os cuidados com os hábitos de higiene, principalmente na lavagem de mãos, preparo dos alimentos e no uso de água filtrada ou fervida, além do cuidado com o lixo. Já no Crato, em igual período, foram registrados 532 casos, um número mais preocupante, já que o Município possui metade da população de Juazeiro do Norte (135 mil habitantes). Ano passado, 471 casos foram notificados.
"Devemos considerar que essa é uma doença sazonal e que nesse período de chuva aumenta a ocorrência de casos", pondera a coordenadora especial de Vigilância em Saúde, Arlene Sampaio.
A preocupação deve continuar até os meses de março ou abril, devido à quadra chuvosa no Estado. No Cariri, ao contrário das outras regiões do Ceará, as chuvas se intensificam mais cedo, de janeiro a abril, enquanto nas demais localidades, o "inverno" se estende até maio. "A Secretaria da Saúde fica alerta para evitar a ocorrência de complicações, como desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico, principalmente em crianças e idosos", completa Arlene.
Em Iguatu, maior cidade da região Centro-Sul, o número de pacientes que procuram a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a emergência do Hospital Regional (HRI) com queixa de diarreia, vômito e dor no corpo dobrou neste mês em relação a dezembro passado. A enfermeira da UPA em Iguatu, Luana Soares, disse que, em média, no plantão de 12 horas, o atendimento é de 70 pacientes, mas neste mês chega a 150. "A maioria apresenta queixa de vômito, diarreia, alguns têm quadro de febre alta e dor no corpo", disse.
"Há pacientes de todas as faixas etárias", completou. Na emergência do HRI a movimentação é intensa e o número de pacientes com os sintomas básicos cresceu pelo menos 70%, segundo o serviço de enfermagem da unidade.
"É um problema sazonal, que ocorre nessa época do ano", disse a enfermeira Cláudia Oliveira. "As pessoas precisam ter cuidado com exposição dos alimentos, higiene das mãos e evitar que moscas pousem sobre a comida", concluiu Cláudia.
Já no Sertão Central, foram detectados 447 casos na área da 8ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRES), sediada em Quixadá. Neste Município são 125 confirmações de DDA, o maior número da região. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, representa 6% das ocorrências diários. A UPA tem capacidade para atender 200 pacientes por dia. Por enquanto, o quadro é de normalidade, explica o diretor geral da unidade, Raul Dinelly.
Alerta
Embora seja conhecida como "doença da mosca" ou "virose da mosca", de acordo com a enfermeira Caroline Muniz, técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), o inseto, no entanto, não é o único transmissor dessa virose, notificada como Doença Diarreica Aguda (DDA).
Ela acredita que a virose ganhou este "apelido" devido à época mais chuvosa do ano, onde aumenta a proliferação de moscas. "O que se nota, nesse período chuvoso, é que em alguns locais, você percebe o aumento da proliferação de moscas. E isso pode ter correlação com questões de higiene, cuidados com alimentos. Mas não existe diretamente transmissão do vírus pela mosca", detalha Rui Gouveia.
A doença pode ser transmitida por vírus, bactérias ou parasitas. Tanto a mosca como o rato, a barata, formiga e até mesmo o ser humano podem transmitir esses micro-organismos. Por isso, a higienização correta das mãos e dos alimentos é fundamental para prevenir a DDA.
Muniz adverte, entretanto, que o Estado ainda não atingiu um surto de virose. "Esses casos estão apenas se iniciando no nosso Estado. São 11 mil até a semana passada, mas até o meio do ano deveremos ter mais de dois mil por semana. No ano passado, foram 307 mil no total", finalizou.
Cuidados
Conforme os médicos, o tempo de cura gira entre dois a 14 dias. Para se prevenir, medidas simples podem ajudar, como lavar sempre as mãos, legumes, frutas e verduras e beber bastante água.
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