ESCOLHA DO GOVERNADOR
Eleitor terá poucas opções neste ano
07.07.2014
O número de candidatos que disputarão o cargo de governador do Ceará é o menor das últimas cinco eleições do Estado
No dia 5 de outubro próximo, os mais de seis milhões de eleitores cearenses só poderão escolher entre quatro candidatos ao Governo do Estado e quatro ao Senado Federal. Levantamento feito pelo Diário do Nordeste em publicações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostra que, das últimas cinco eleições gerais do Estado, esse é o pleito com menos projetos governamentais para a sucessão estadual.
Neste ano, quatro chapas majoritárias homologaram candidaturas para tentar suceder o governador Cid Gomes. Até a véspera do prazo final das convenções partidárias, 30 de junho, o número poderia ser ainda menor, já que a chapa que seria encabeçada por Nicolle Barbosa (PSB) estava sendo posta em xeque pelo partido, que cogitou abrir mão da disputa para aliar-se no pleito proporcional com o PMDB de Eunício Oliveira.
Na última hora, o PSB resolveu que sairia com candidata própria ao Governo Estadual, a deputada Eliane Novais. A situação constrangeu a pré-candidata da sigla, Nicolle Barbosa, que foi convidada para ser a vice na chapa, mas rejeitou o convite.
Além de Eliane Novais, estão no páreo o petista Camilo Santana pela chapa governista; o peemedebista Eunício Oliveira, que lidera a oposição; e Ailton Lopes, da frente de esquerda. Para o Senado, concorrem Mauro Filho pela chapa de Cid; o tucano Tasso Jereissati apoiado por Eunício; Geovana Cartaxo pelo PSB e Valdir Pereira, do PSTU, no grupo liderado por Ailton Lopes.
Há 16 anos, em 1998, a quantidade de postulantes que disputou o comando do Executivo cearense é a que mais se aproxima do cenário atual, mas ainda supera o número de pleiteantes de agora. Cinco nomes se candidataram para concorrer ao Governo. Tasso Jereissati foi reeleito ao cargo com mais de 62% dos votos na aliança com PSDB, PPS, PSD, PPB e PTB. O eleitorado cearense somava 4,3 milhões.
Disputa
O ex-governador Gonzaga Mota também foi para a disputa, mas só alcançou 22% dos sufrágios, mesmo apoiado por PMDB, PFL, PAN, PRN, PSL, PST, PSC e PSDC. O atual deputado federal José Airton Cirilo postulou vaga no Executivo na coligação PT, PCdoB, PDT, PCB, PSB e PV. Os outros candidatos eram Reginaldo Moreira (PMN) e Valdir Pereira (PSTU).
Para o Senado Federal, disputaram Luiz Pontes (PSDB), que venceu o pleito, Paes de Andrade, na coligação do PMDB, Tarcísio Leite (numa aliança formada por PL, PSN e PTdoB, que lançou nome somente para senador) e Raimundo Pereira, do PSTU. Os grupos que apoiaram José Airton e Reginaldo Moreira ao Executivo não indicaram nome para concorrer ao Senado Federal.
No pleito de 2002, os 4,8 milhões de eleitores cearenses puderam escolher entre sete projetos de Governo. Lúcio Alcântara, que foi eleito no segundo turno, teve a candidatura apoiada por PSDB, PPB, PSD e PV. José Airton Cirilo, o segundo mais votado, estava na coligação formada por PT, PCdoB, PL, PMN e PCB.
Sérgio Machado foi o nome indicado por PMDB e PFL, enquanto Welington Landim juntou na mesma chapa PSB, PSDC, PSC, PSL, PTdoB, PHS, PAN, PGT e PRTB. Três candidatos saíram sozinhos: Cláudia Brilhante (PTB), Pedro Albuquerque (PDT) e Raimundão (PSTU).
Para concorrer ao Senado, a mesma aliança que deu sustentação a Lúcio Alcântara apoiou Tasso para o Senado. Já Patrícia Saboya, que ainda assinava com o Gomes do ex-marido Ciro, foi eleita com o suporte de PDT, PTB, PTN e PPS. Mário Mamede foi o pleiteante indicado pela coligação de José Airton Cirilo, assim como Gelson Ferraz. Eudoro Santana saiu pelo PSB, Paulo de Tarso pelo PHS e Aguiar pelo PSTU. Já Paulo Lustosa foi o candidato da coligação PMDB/PFL.
Base
No ano em que Cid Gomes se elegeu governador pela primeira vez, em 2006, seis candidatos disputaram o pleito. A chapa de Cid era formada por PSB, ao qual era filiado, PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e PV. Já Lúcio Alcântara tentava se reeleger com uma base de sustentação formada por PTB, PTN, PSC, PPS, PFL, PAN, PTC e PSDB.
Naquele pleito, José Maria de Melo encabeçou a chapa do PDT, PL, PRTB e PTdoB e Renato Roseno saiu com PSOL, PCB e PSTU. Já Salete da Silva (PCO) e Francisco Gondim (PSDC) disputaram sem coligação. Em 2006, eram contabilizados 5,3 milhões de eleitores no Ceará.
Diferentemente do que ocorre hoje, em 2006, Inácio Arruda foi apoiado para concorrer ao Senado por PSB, PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e PV. Moroni Torgan teve do seu lado PTB, PTN, PSC, PPS, PFL, PAN, PTC e PSDB. Antônio Fernandes (PSDC), Nair Fernandes (PDT), Raimundo Pereira (PSTU) e Tarcísio Leitão (PDT) tentaram uma vaga de senador sem integrar aliança com outras siglas.
Na eleição seguinte, de 2010, também foram seis projetos que disputaram a vaga mais alta do Executivo cearense. Cid Gomes conseguiu reunir PRB, PDT, PT, PMDB, PSC, PSB e PCdoB. Marcos Cals foi para a disputa coligado com DEM e PSDB e Lúcio Alcântara encabeçou a chapa do PR e PPS. Marcelo Silva (PV), Soraya Tupinambá (PSOL) e Francisco Gonzaga (PSTU) foram candidatos, mas não se coligaram a outras agremiações.
O grupo que apoiou Cid deu suporte às postulações de Eunício Oliveira e José Pimentel, eleitos ao Senado. Tasso Jereissati, coligado com PSDB e DEM, perdeu a eleição. Alexandre Pereira foi o pleiteante a senador da aliança PPS/PR, Marilene Torres representou o PSOL e Benedito Oliveira o PCB. O PSTU lançou dois candidatos: Reginaldo Araújo e Raquel Dias. O Ceará teve oito pleiteantes ao Senado.
Falta de diversidade marca projetos de Governo no CE
Mais grave do que o pouco número de candidatos que disputam a cadeira que hoje é ocupada por Cid Ferreira Gomes no Governo do Estado é a falta de diversidade dos projetos apresentados ao eleitor. A realidade não é exclusividade do Ceará e se estende a outras localidades do País. É o que afirmam cientistas políticos procurados pelo Diário do Nordeste para avaliar o cenário para as eleições deste ano.
Na opinião do cientista político Rui Martinho, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), existem dois fatores que contribuem para a quantidade pouco expressiva de candidaturas no pleito majoritário: fisiologismo das agremiações e realismo partidário em relação às possibilidades de ser eleito. "O pluripartidarismo não expressa correntes de opinião, são pequenos ajuntamentos de lideranças pessoais (...) que se conformam em sobreviver como deputado federal, vice-governador, não disputam o primeiro turno", aponta.
Denominando a aliança para o primeiro turno como precoce, Rui Martinho acrescenta que o ideal seria permitir coligações partidárias só no segundo turno. Dessa forma, quem quisesse participar do pleito teria de lançar um candidato próprio. "Os partidos não promovem seus próprios quadros. A gente tem muitos partidos que não são nem serão partidos nunca", avalia.
O especialista relata que muitas siglas se aproximam das gestões públicas porque têm que prestar contas com as lideranças do Interior, que têm papel fundamental como cabos eleitorais de parlamentares. "Existe uma preocupação muito grande em ser governo. Os partidos não querem ser oposição por questão fisiológica ou porque deputados são despachantes de interesses dos municípios", justifica.
Para Martinho, o eleitor cearense está sem muitas opções não por terem apenas quatro projetos a escolher, mas porque eles não apresentam diversidade de propostas. "A unanimidade dessa visão é tão forte que o argumento virou pessoal. Qual a diferença programática entre Camilo Santana, Eunício Oliveira e quem quer que seja?", questiona. "O critério de escolha não é nem a probidade administrativa e sim a fidelidade aos patronos, aos donos dos partidos".
Convicções
O professor universitário ressalta que uma minoria de partidos apresenta discursos mais diferenciados, mas muitos deles soam inviáveis para o eleitorado. "O que faz falta é programa de Governo. As convicções ideológicas têm dificuldade de conhecer a realidade. Quem se afasta da realidade não governa bem e tende a uma certa ingovernabilidade, porque convicção não se negocia", expõe.
A professora Cristina Nobre, doutora em Sociologia do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), diz acreditar que os holofotes estarão focados nos nomes de Camilo Santana e Eunício Oliveira, embora os candidatos não apresentem diferenças significativas nos projetos apresentados.
A docente relata que, em âmbito nacional, as diferenças entre propostas governamentais são mais palpáveis do que no cenário cearense. "No caso do Aécio e da Dilma, vai ter uma polarização, mas não é dos anos 90, quando o PT tinha visão radical da política e o PSDB trazia um projeto neoliberal para as políticas públicas", compara Cristina. "O PSOL pode se sobressair, mas sem aliados e sem condições de propagar isso pelo tempo de campanha", acrescenta, em relação ao caso do Ceará.
De acordo com a pesquisadora, esse cenário de poucos candidatos e escassas opções é desenhado pela fragilidade ideológica das legendas. "Para os partidos pequenos, que não têm apontado para a construção de um projeto, interessa circundar os dois grandes projetos que têm condições de chegar ao poder". E completa: "alguns demoraram a se definir, isso é uma demonstração da fragilidade do sistema partidário, que tem partidos nanicos sem projeto próprio".
Lorena Alves
Repórter
Repórter
FONTE:
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/politica/eleitor-tera-poucas-opcoes-neste-ano-1.1053108
Nenhum comentário:
Postar um comentário