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sexta-feira, 17 de julho de 2015

No aniversário do Maracanazo, morre Ghiggia, o carrasco de 1950

FUTEBOL

Autor do gol que deu o bicampeonato mundial ao Uruguai, atacante foi internado com dores nas costas e não resistiu

Juan Torres (Juan.torres@redebahia.com.br)

O herói da independência do Uruguai chama-se José Artigas e morreu em 1850. Mas isso é balela da história escolar. Porque o verdadeiro herói dos uruguaios morreu nesta quinta-feira (16). Alfredo Edgardo Ghiggia, o homem que marcou o segundo gol da vitória celeste sobre o Brasil na Copa de 1950, sofreu um infarto aos 88 anos.

Seria interessante saber o que diria o escritor uruguaio Eduardo Galeano, fã de futebol morto em abril, sobre a insólita coincidência de o atacante ter morrido exatamente no dia 16 de julho, data da tragédia do Maracanazo. Ghiggia era o último jogador vivo, dos 22 em campo naquela tarde de 1950.
O primeiro gol  foi marcado por Friaça. Uruguai empatou com Schiaffino. Mas desses poucos se lembram. Aos 33 do segundo tempo, na Rádio Nacional, ouviu-se o narrador passar de desesperado a desolado. “Corre Ghiggia! Aproxima-se do gol do Brasil e atira!”, diz, com voz quase de choro. E segue: “Gol. Gol do Uruguai. Ghiggia. Segundo gol do Uruguai. 2x1 ganha o Uruguai. 33 minutos pelo meu Omega. Em garrafa ou barril, peça Brahma Chopp...”.
Ghiggia calou o Maracanã no episódio que ficou conhecido como 'Maracanazo' (Foto: AE)
Assim, Ghiggia colocou duas pessoas na história do futebol e da autoestima de dois países: ele próprio e o goleiro Barbosa, crucificado no Brasil na mesma proporção (ou maior, talvez) à que o atacante uruguaio foi ovacionado no Uruguai. 
Na época do título, Ghiggia jogava pelo Peñarol. Depois, se transferiu para o Roma e para o Milan, onde ganhou fama de mulherengo. Brincalhão, uma vez respondeu a um jornalista: “Quem é que não gosta de mulher? Eu não era mulherengo, mas era jovem, me vestia bem...”, justificava-se. 
Encerrou a carreira no Danúbio, em 1968, e trabalhou, como funcionário público, em um cassino de Montevidéu, até se aposentar, em 1992.
Vai jogar seu jogo
Ghiggia, que esteve na Bahia em dezembro de 2013, quando participou do sorteio da Copa, morava na cidade de Las Piedras, a 30 quilômetros de Montevidéu. Tinha dois filhos.
Ele fora internado ontem, depois de sentir dores nas costas. “O destino quis que logo hoje, um 16 de julho, ele fosse embora entrando em um vestiário. Vai jogar seu jogo, porque seus companheiros estão esperando por ele”, comentou um dos filhos, Arcadio. “Eu estava conversando com ele sobre o jogo do Inter com o Tigres e, de repente, ele caiu, foi embora”, contou.
Em 2009 ex-jogador entrou para a calçada da fama do Maracanã (Foto: AFP)
O maior trauma do futebol brasileiro durou 64 anos. Até o 7x1. Mas isso é outra história. A que mais importa para os uruguaios (ainda) é a que Ghiggia escreveu. Com o gol, ele colocou na camisa celeste a quarta estrela. Sim, porque os uruguaios se consideram tetras. Além dos Mundiais de 1930 e 1950, eles contam os títulos das Olimpíadas de 1924 e 1928.
É, o Uruguai vive de história. E, se ainda não era, agora há mais um motivo para o 16 de julho ser ensinado na escola.
Fonte:
CORREIO 24 HORAS

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