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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Desperdício alarmante

Desperdício alarmante

05.08.2014

A série mostra hoje que, nas centrais de abastecimento e feiras livres, o desperdício é do tamanho da indiferença dos comerciantes e dos clientes; com o pescado, o processo de perdas é semelhante; entretanto, iniciativas como a do Mesa Brasil apontam "uma luz no fim do túnel"


DESPERDICIO
Nas feiras livres, como a de Cascavel, comerciantes e consumidores caminham entre muitos alimentos jogados pelo chão como se fosse uma atitude normal e aceitável, diante da vulnerabilidade alimentar de tantas pessoas
FOTOS: CID BARBOSA
Fortaleza/Cascavel. Para o avalista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão, alguns fatores são decisivos para que se perca tantos alimentos. "Dentre esses fatores que contribuem para os alimentos chegarem em estado impróprio para comercialização está o transporte a granel ou em caixas. Nesse percurso acontece o que chamamos de perdas mecânicas, que machucam um pouco ou danificam os alimentos por conta do sol ou da chuva".
Segundo Girão, "normalmente, eles chegam amassados ou com a coloração diferente. São os casos principalmente da goiaba e da banana, que podem entrar na Ceasa maduros. Alguns outros itens sofrem os efeitos da distância. É o caso, por exemplo, da batata-inglesa, que vem de Minas Gerais, Bahia, Paraná e até de São Paulo".

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Odálio diz que, "dependendo da demora, esses alimentos podem amadurecer antes de chegar aos boxes. No caso da laranja, grande quantidade vem de Sergipe. Ela passa por um processo de classificação nos pomares. Parte dela vem a granel. O peso contribui para machucar o fruto que, embora apto para o consumo, não está em condições de ser comercializado".
Em relação ao repolho, por conta da sua formação, acontece um desperdício natural. "Ele vem da Bahia, Pernambuco ou aqui mesmo de Tianguá. Quando chega nas centrais de abastecimento ainda é grande. À proporção que ele segue seu trajeto em direção à mesa do consumidor, vai sofrendo perdas. Na Ceasa, em média, os comerciantes retiram quatro folhas. E assim vai se desfazendo".
Odálio Girão, que está na Ceasa há 40 anos, recorda de um contêiner que chegou para a central há 20 anos e que trazia 18 toneladas de pera e nove de mamão papaia. Foi tudo para o lixo. "O que ocasionou as perdas foi a falta de hábito dos cearenses em consumir esses frutos. Trazê-los em larga escala foi um erro. Hoje em dia, a pera já pode ser considerada um produto alimentar que faz parte do nosso costume. A partir da década de 90, as câmaras frigoríficas foram adotadas em escala maior, amenizando esse tipo de problema".
Um estudo realizado com a laranja no Mercado do Pirajá, em Juazeiro do Norte, constatou que, desde a colheita até a mesa, o produto sofre dez manuseios. "Isso é muito preocupante. Quanto mais se toca no alimento, mais ele se estraga. E dependendo do tipo de fruta, da qualidade, da sua maturação, aí é que o desperdício torna­se maior", aponta Girão. Outro fator que compromete o aproveitamento dos alimentos é o da oscilação do mercado. "Uma caixa de tomate de 25 quilos custa hoje (dia em que entrevista foi realizada) R$ 120,00, que é considerado um preço bom pelos produtores. Entretanto, pode cair quando coincide a colheita local com a da Bahia, Pernambuco e Espírito Santo, para citarmos somente três exemplos. O resultado é que muitos produtores preferem deixar o alimento apodrecer no campo do que fazer a colheita, já que teria que arcar com os custos dessa produção".
Enquanto muitos tratam com desleixo os alimentos, a dona de casa Socorro Ferreira de Lima, 51 anos, todas as manhãs vai à Ceasa em busca das sobras das sobras. Dona Socorro apanha do contêiner para onde são levados os alimentos que se perdem e não servem sequer para o Mesa Brasil. "Daqui aproveito muita coisa para comer e o restante eu vendo para quem tem criação de animais, principalmente porcos. Cada caixa vale R$ 2,00. De uma forma geral, aproveito tomate, mamão, melão, chuchu, melancia e repolho", revela a dona de casa que reside no bairro do Alto Alegre, em Maracanaú. Mesmo conseguindo "apurar" apenas R$ 70,00 por semana, dona Socorro consegue ir sobrevivendo. "Crio quatro filhos e não tenho benefício algum do governo. Vou escapando com a ajuda de Deus".
Feira livre
Em Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), encontramos um panorama idêntico ao das demais feiras livres. Os barraqueiros geralmente separam os alimentos que não apresentam condições estéticas para a venda num balde. "A gente sabe que algumas pessoas necessitam comer, ainda que a fruta não tenha muita qualidade. E aí guardamos. Só hoje perdi quatro caixas de tomate. Há dias que se perde mais cenoura ou batata. Enfim, depende de cada feira", relata José Renan Silva, que há 10 anos comercializa na feira realizada ao lado do Mercado de Cascavel.
Maria Neuma possui um comércio ao lado do mercado e costuma se deparar com alimentos jogados ao lado do seu estabelecimento. "Na semana passada, fiquei com o coração partido. Foram deixados mais de cem mamões maduros aí pelo chão. Fazia pena. A gente via que estavam bons para serem consumidos. Fui perguntar ao dono da mercadoria por qual motivo ele estava jogando ali quando tanta gente precisa. Ele explicou que não conseguiu vender e não compensava levar de volta. Liguei para um conhecido que veio buscar numa carroça. Outro dia ele me contou que, o que não deu para seus familiares comerem, ele deu para os animais".
Hildemano Coelho de Sousa trabalha desde os 12 anos como feirante. Ele afirma que "perder" se tornou algo comum. "Pelo menos 5% do que vendemos é desperdiçado na nossa mão. O boxista que me vende na Ceasa deixa claro que os alimentos que eu adquirir para revender são de minha responsabilidade. Portanto, se estragar, o prejuízo é meu. Só que, na verdade, quem acaba pagando mesmo é o consumidor, pois repassamos para ele no preço final".
Dez metros
O comerciante enfatizou que levou 50 melancias para vender e que quatro se quebraram. "Isso só do trajeto do caminhão para a minha barraca, numa distância de menos de dez metros. É uma realidade muito triste, quando a gente se lembra que há pessoas necessitadas. Mas, ninguém sabe o que fazer para evitar esse grave problema". (FM)
Descaso
10
Manuseios sofre a laranja no trajeto que começa com a colheita e segue até a mesa, segundo um estudo realizado no Mercado do Pirajá, em Juazeiro do Norte
18
Toneladas de pera e nove de mamão papaia foram para o lixo há 20 anos porque os produtores desconheciam o hábito alimentar do povo cearense à época


FONTE:
DIÁRIO DO NORDESTE

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